TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

COISA COM COISA.
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
12:33
Dia destes estive conversando com uma criança, atividade de que gosto muito. É um menino inteligente e muito perspicaz. Depois de algumas brincadeiras linguísticas, utilizando rimas, ritmo, e um pouco do imaginário infantil, no meio da conversa ele parou, pensou um pouco e disse num tom entre sério e debochado: "Ele não diz coisa com coisa!" Outro adulto que estava presente repetiu a frase como quem confirma e aprova a expressão. Fiquei triste e bastante preocupado. Um adulto pensar assim, é até natural, mas uma criança de cinco anos com sintomas dessa natureza?
Tudo bem que um gato seja um gato e um passarinho seja um passarinho... Mas com um pouco de imaginação, um gato pode querer voar e cantar como um passarinho, ou um passarinho aprender a miar e conversar com o gato. Como diria um amigo meu, o mundo das fábulas é fabuloso!
Enquanto poeta, transito livremente entre o estreito universo da razão e as infinitas possibilidades da transcendência. Afinal, poesia é transcendência.
Uma criança de tão pouca idade, olha e vê o mundo com espanto, onde tudo é novidade. Um caramujo no jardim, uma borboleta sobre a flor, uma fileira de formigas... Tudo isso é ao mesmo tempo real e fantástico. Partes de um mundo a descobrir e reinventar. A lógica binária dos computadores não chega nem a arranhar o verniz destas realidades tão profundas e, por isso mesmo tão simples, quando tenta explicá-las.
Sou irmão umbilical das metáforas, das metonímias, enfim da metalinguagem. Assim, acredito e tenho fé, que a Verdade - com "v" maiúsculo e a Beleza -idem- só podem ser alcançadas por esta via. Entenda-se como metalinguagem todas as formas de linguagem que transcendam aos estreitos limites racionais, incluindo as não verbais.
Não que eu despreze a Razão e o conhecimento que dela decorre. Afinal toda esta conversa (para muitos, chata) está firmada em argumentos plenamente razoáveis. Prefiro considerar que a razão e suas ferramentas sejam como pedras num caminho pantanoso, onde devamos pisar com segurança para dar um próximo passo. E ainda que nos arrisquemos pisando no desconhecido, as pedras da razão devem ser nossas referências, nosso porto seguro entre um e outro movimento.
Vejam que não posso abrir mão da metáfora, mesmo pra pensar a razão. Então vamos imaginar que a casca do ovo, em sua pequena espessura, contenha o universo racional. Toda a razão e todo o conhecimento racional ali estão contidos. Com este conhecimento é possível abarcar todas as realidades racionais. Tudo que existe no universo racional, contido na espessura da casca de um ovo.
Admito que isso seja suficiente, para a maioria das pessoas. Acontece que no interior desta casca imaginária, no interior deste ovo-metáfora, existe mais um universo de fenômenos e possibilidades, totalmente desconhecido e inatingível pelas ferramentas do mundo racional. E como não bastasse, existe ainda o exterior deste ovo imaginário, que não compreende nem sua casca (o mundo racional) nem o seu interior.
Ao descobrir-formular este pensamento tenho um susto imenso, quase um surto, e percebo que a Verdade e a Beleza são muito maiores e mais plurais do que poderiam supor nossos parcos recursos racionais.
Penso com Leonardo (Boff) que a transcendência seja uma das necessidades humanas; assim como o alimento, o abrigo, a procriação; e se não fosse esta necessidade de transcender nossa condição humana, de buscarmos o além-de-Nietzsche, não teríamos supra-humanos como Leonardo (o Da Vinci); a Terra teria a forma de uma bolacha e seria o centro do universo; o espaço seria plano e Einstein e Deus estariam errados, e...
Sinto muito pelos meninos inteligentes que são forçados a dizer coisa com coisa. Sinto por eles e por toda a humanidade.
João Nicodemos .

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Acordado: show de Luciano Brayner no VI Festival de Música Cordas Ágio


                                            Luciano Brayner: acordado, afiado e aceso.
                                            Show que promete animação com reflexão

Será do músico Luciano Brayner o privilégio de abrir uma série de expressivos e aguardados shows que acontecerão no Espaço Padre ágio, na da Vila da Música, bairro do Belmonte, em Crato, durante o VI Festival de Música Cordas Ágio. O show de Brayner, intitulado “Acordado”, será nesta quinta-feira, dia 1º de fevereiro, as 22 horas. Gratuito e imperdível.

Luciano Brayner, cantor, compositor e instrumentista pernambucano radicado no Cariri, apresenta um trabalho que estabelece um rico diálogo entre a musicalidade nordestina com suas tradições e outras vertentes presentes na música popular brasileira. O resultado se traduz numa música eclética, marcada por influências de vários gêneros e estilos. Com forte presença de palco e com uma voz com grandes recursos expressivos, Brayner nos oferece um repertório autoral de muita originalidade em interpretações de grande vigor e apuro estético. Samba, cabaçal, ijexá, bossa nova, baião e maracatu são alguns dos muitos gêneros que se harmonizam na expressão musical desse artista, cujo trabalho demonstra, cada vez mais, a qualidade e a diversidade da música popular independente produzida no Cariri e no Nordeste atualmente.

Acordado, afiado e aceso – No show, Brayner se expressará com toda a sua versatilidade - além de cantar e  tocar violão, flauta, sax e pífano, assina todos os arranjos - e será acompanhado de uma banda formada por alguns dos mais talentosos músicos da região. O repertório é composto por canções inéditas em conjunto com outras já conhecidas, presentes em seu primeiro disco, Casa de Badzé, com novos arranjos elaborados especialmente para o Festival Cordas Ágio, valorizando a presença e as sonoridades de cordas friccionadas.

Num dos momentos que promete ser um dos mais marcantes da noite, Brayner interpretará a canção Bárbaras palavras acesas, composta em homenagem ao poeta cratense Geraldo Urano, um dos maiores ícones das vanguardas artísticas no Cariri, falecido em fevereiro de 2017. Outro momento de destaque e que constitui uma oportunidade de reflexão política dentro do show, é o samba inédito Ai loviú Rintintin, onde de forma bem-humorada e crítica o artista comenta aspectos da atual situação política instaurada no país. Passeando por repertórios alheios, Brayner fará uma releitura tanguística da canção Cálice, de Chico Buarque e Gilberto Gil, que dialoga em seguida com o belo e lírico tango de Astor Piazzolla, Vuelvo a Sur.

Ao final, como de costume, com seu pífano afiado e acompanhado apenas por percussão, de forma totalmente acústica, encerra o show em grande estilo, em clima de terreirada, no meio da plateia, numa evocação que celebra a cultura musical do pífano e das bandas cabaçais, inspiração e influência bastante presente na sua trajetória artística e marca maior da sonoridade tradicional do Cariri.


SERVIÇO
Show Acordado, com Luciano Brayner e banda
Local: Espaço Padre Ágio, em frente à Vila da Música, distrito do Belmonte, Crato
Data: 1º de fevereiro (quinta-feira), as 22 horas
Livre e gratuito.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Caleidoscópio70: show celebra parceria musical entre Luiz Carlos Salatiel e Geraldo Urano

Luiz Carlos Salatiel & Geraldo Urano: os glimmer twins caririenses
(Foto: Pachelly Jamacaru)


Carlos Rafael Dias

Estreia neste sábado, 3 de fevereiro, no Festival Cordas Ágio, em Crato, o show Caleidoscópio70, que traz o cantor e compositor cratense Luiz Carlos Salatiel à frente da banda Los Fractais. Porém, o detalhe de que o show é totalmente composto de composições de Salatiel em parceria com o poeta Geraldo Urano torna o evento muito maior do que um mero espetáculo de entretenimento artístico. Será a celebração de uma profícua e genial parceria interrompida definitivamente há exato um ano, com o falecimento de Geraldo Urano, após uma longa e dolorosa doença psíquica adquirida em meados dos anos 80, época de maior produtividade da dupla. No entanto, desde a década anterior – os caleidoscópios anos 70 que inspiraram o título do show – que a dupla mantinha uma amizade fraternal e artística, responsável por momentos que engrandeceram a cena cultural caririense. Só que o encontro dos dois parece ter ocorrido bem antes. Na verdade, metaforicamente, essa aproximação nasceu de uma colisão cósmica entre dois astros que irradiam luz própria, destinada a provocar alguns cataclismos de efeitos invertidos na nossa terra-mãe.
Ambos nasceram praticamente sob o mesmo céu astrológico, no ano da graça de 1953, influenciados talvez pela sincronicidade histórico-cultural que prenunciava a ocorrência de um iminente turbilhão universal. O rock’n’roll dava seus primeiros acordes e os poetas da geração beat desafinavam “o coro dos contentes”. Mas o encontro fisico entre os dois só se deu mesmo no início dos anos 1970, na cidade do Crato, na emblemática região do Cariri cearense, no seio do antigo Movimento de Juventude do Crato - MOJUCRA, braço ativo da pastoral de Juventude da Diocese do Crato, espaço possível de participação para uma geração sufocada pelo establishment perverso que vigorava na época, tendo à frente o aparelho estatal repressivo instaurado pelo golpe militar de 1964, apoiado localmente pela tradição católico-provincial.

Anos setenta - Como informa o press-release do espetáculo, Salatiel e Urano, como membros do MOJUCRA, foram os responsáveis pela idealização dos inesquecíveis festivais da canção realizados no Crato entre os anos de 1971 e 1978, quando surgiu toda uma geração de compositores, como Abidoral Jamacaru, Cleivan Paiva, Luiz Fidélis, José Nilton Figueiredo, Pachelly Jamacaru e poetas como Rosemberg Cariry e José Flávio Vieira, dentre outros. A parceria Salatiel e Urano iniciou-se por essa época, gestada no ‘útero eletroacústico’ da banda Cactus, integrada, além da dupla, pelos irmãos Alberto (Louro) e Abidoral Jamacaru e mais Hobert e Xico Carlos, que depois seria o baterista do Papa Poluição, banda de pop-rock formada, em meados dos anos 1970, por músicos cearenses radicados em São Paulo. Por isso que, segundo Salatiel, “o show poderia ter sido feito nos anos setenta. Se não foi possível lá é porque era para ser feito agora com a mesma irreverência, timbres e cores caleidoscópicas daqueles loucos e apaixonantes anos”.
A trajetória desta parceria foi em parte interrompida ou limitada por conta de problemas de saúde que começaram a atormentar o poeta a partir de 1987 e que o acompanharam até sua morte, em fevereiro de 2017. Portanto, o seu sofrimento foi longo, se agudizando com o passar do tempo. Em todo esse período, Salatiel foi um amigo constante, visitando-o periodicamente, buscando estimulá-lo a continuar a escrever, coisa que Urano infelizmente parou de fazer nos últimos anos de vida.
Este show traz, pois, um recorte da produção musical realizada por dois parceiros que se irmanaram como almas gêmeas moldadas pela arte que se engaja na busca da vida em toda sua plenitude, com a intenção, também, de consagrar e perenizar a obra dos dois: a genialidade poética de Urano e a musicalidade performática de Salatiel que, no palco, sempre foi um dos grandes intérpretes do Cariri.
Um show para ver, ouvir, sentir e viver, deslocando-se para uma época onde o lema era simplesmente ‘paz e amor’, tudo o que hoje estamos cada vez mais precisando.


SERVIÇO
Estreia do show Caledoscópio70, com Luiz Carlos Salatiel & Los Fractais - Vinícius Saravá (teclados); Stênio Alves (Guitarra); Thiago Leonel (contrabaixo) e Remy Oliveira (bateria)
Data: 3 de fevereiro de 2018, as 22 horas
Local: Espaço Padre Ágio, Vila da Música, Belmonte, Crato.
Livre e gratuito.