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sexta-feira, 2 de setembro de 2016

"SÓ NO CRATO MESMO" - José Nilton Mariano Saraiva



SÓ NO CRATO MESMO” - José Nílton Mariano Saraiva
  
Objetivando prevenir futuros colapsos hídricos em Fortaleza, por conta dos periódicos e inclementes períodos de estiagem que assolam o Ceará (desde sempre), o então governador do Estado, Tasso Jereissati, começou a construir (em 1995) o açude Castanhão (com capacidade de armazenamento de 6.700.000.000 m³), a aproximados 250 quilômetros da capital (foi concluído em 2002).

À época, estudos técnicos detalhados sobre a melhor localização para uma obra de tamanho vulto e importância chegaram à conclusão que a opção adequada seria a região jaguaribana e, ainda assim, com uma péssima notícia para os habitantes da pequena cidade de Jaguaribara: a área a ser inundada, para servir de leito e represar as águas futuras que privilegiariam a capital do Estado deixaria aquela urbe definitivamente submersa (para trás, pois, ficariam os restos mortais dos entes queridos, os templos religiosos tradicionais, suas concorridas praças, suas memórias e por aí vai). Foi um drama, com choros, velas e ranger de dentes, mas que, finalmente, contou com o “aprovo” da Assembleia Legislativa Estadual. Prego batido, ponta virada.

Assim, depois do processo de convencimento da população e das indenizações respectivas, a cidade de Jaguaribara e seus habitantes foram REMANEJADOS para uma cidade novinha em folha, planejada, projetada e construída com esmero e cuidados, evidentemente que acima do nível do futuro reservatório e mantendo a denominação original.

A reflexão é só para lembrar que a RELOCALIZAÇÃO de qualquer pequena comunidade e/ou de uma cidade de maior porte, com o concomitante REMANEJAMENTO dos seus habitantes, só pode ser feita se comprovadamente o interesse público prevalecer e falar mais alto (como se deu em Jaguaribara) ou se houver uma hecatombe natural que obrigue ou expulse os moradores daquela área (tsunamis, terremotos, etc).

Pelo que se sabe (apesar de a história registrar que ali já foi “mar” milhões de anos atrás, e os fósseis da vizinha Santana do Cariri comprovariam isso), atualmente a cidade do Crato não se acha em possível “área de risco”, não existe nenhuma “falha geológica” em seu subsolo ou mesmo algum indício que indique uma futura catástrofe e, portanto, teórica e tecnicamente estamos livres de uma RELOCALIZAÇÃO indesejada (continuaremos, ad finem, ao sopé da Serra do Araripe).

Mas, como o “Crato é final de linha”, já que “só vai ao Crato quem tem negócios lá”, é difícil entender por qual razão o autor de tão contundente depoimento (o então prefeito da cidade Samuel Araripe ao tentar justificar, em 2009, o marasmo e fracasso da sua administração) insiste em voltar à sua prefeitura, onde reinou durante oito (08) anos, durante os quais a cidade regrediu oitenta (80); afinal, o que o Crato perdeu e/ou deixou de ganhar naquele período, face o isolamento político do seu mandatário ou sua não vocação para a coisa pública, foi algo de extraordinário: o Sesi, o Sebrae, o Campus da UFC (embrião da Universidade Federal do Cariri), a Delegacia da Polícia Federal, o Hospital Regional do Cariri, a Procuradoria da República, o Centec, a Justiça do Trabalho, o Centro Cultural do BNB e por aí vai, sem esquecer o criminoso fechamento de diversas escolas municipais, tanto na urbe como nos distritos e zona rural.

Destaque-se, que já àquela época o então prefeito não contava com o apoio do Governador do Estado (que certa vez, abandonando o protocolo e remetendo às calendas gregas o respeito institucional, sem se fazer anunciar antecipadamente chegou a circular pela cidade sem dar a mínima para o prefeito), embora contasse com o apoio do Senador Tasso Jereissati; e, hoje, coincidentemente, a mesma coisa acontece: novamente não tem o apoio do atual Governador do Estado (um filho do Crato) e continua vinculado ao Senador Tasso Jereissati.

Em resumo: como definitivamente o Crato não será RELOCALIZADO e o candidato não contará com o apoio do Chefe do Executivo Estadual, quem tem um mínimo de “consciência crítica” é levado a imaginar que a tendência natural é que o resultado seja o mesmo: marasmo, retrocesso, atraso, involução.

Não custa lembrar que o alheamento, passividade e descompromisso do seu povo para com a cidade (principalmente em épocas de eleição) é que levaram o Crato à lamentável condição de “cidade-dormitório” das urbes vizinhas (Juazeiro e Barbalha) e pode ser sintetizada no bordão que, inadvertida ou pateticamente, seus habitantes repetem até com certo orgulho (?): “só no Crato mesmo”.

Cabe, então, o questionamento: será que “só no Crato mesmo” a população reconduzirá ao trono alguém que foi comprovadamente reprovado no passado, em termos administrativos gerenciais ???

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