TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 28 de fevereiro de 2016

O "CATECISMO" DO JUIZ MORO - José Nílton Mariano Saraiva

Na Itália, no alvorecer de 1992, foi deflagrada a Operação Mãos Limpas (Mani Pulite), visando o combate à corrupção, que provocou prisões, suicídios, quebradeira generalizada, mortes e a própria desestabilização socioeconômica do país. Para alguns, vitoriosa, fato é que ao seu final emergiu como “salvador da pátria” ninguém menos que o comprovadamente mafioso e corrupto empresário midiático Sílvio Berlusconi, num redesenho político por ninguém esperado. Como que a contestar o sucesso da Operação Mani Pulite, hoje, no país comandado pelo poderoso primeiro ministro-bandido Sílvio Belusconi, a corrupção não arrefeceu e continua a reinar, apesar do colapsar de tradicionais partidos políticos.

Tudo a ver com o atual quadro reinante no Brasil, onde a Operação Lava Jato, comandada pelo “deslumbrado” juiz de primeira instância, Sérgio Moro, interfere de modo cruel na economia e na política, literalmente paralisa o país, e atenta contra a própria democracia, já que a Constituição Federal é dia a dia desrespeitada; dentre outros direitos, por exemplo, acabou a presunção de inocência, assim como a obrigatoriedade de provas para se prender alguém é ignorada. A “perseguição implacável e sistemática” a um ex-presidente é diuturna e escancarada, objetivando não permitir que algum dia volte nos braços do povo. E quando se pensava que o Supremo Tribunal Federal poria um fim nos comprovados excessos do juiz Sérgio Moro, a única manifestação conhecida daquela corte foi de apoio, quando a ministra Rosa Weber, durante um dos julgamentos de presos políticos, asseverou: “Não tenho prova cabal contra José Dirceu, mas vou condená-lo porque a literatura jurídica me permite”. E assim foi feito. E ficou por isso mesmo. Quantos mais serão presos por simples presunção de que trafegaram na contramão da legalidade, já que provas não mais são necessárias ???

Para que compreendamos O “Catecismo” do Juiz Moro, que teve como “musa inspiradora” a Operação Mãos Limpas (Mani Pulite), e em que se ancora para estuprar a Constituição Federal à vontade (sem que ninguém se lhe anteponha), abaixo trechos do seu extenso arrazoado “Considerações sobre a Operação Mani Pulite”. Qualquer semelhança com a desonesta ofensiva contra o PT e Lula da Silva, não é mera coincidência. É um propósito claro e definido: acabar com a agremiação e desmoralizar seu ícone maior (um dos maiores Presidentes da República que o Brasil já teve). O perigo é que, tal qual lá (na Itália) cá (no Brasil) surja um corrupto Sílvio Berlusconi (genérico), gestado no raivoso ventre oposicionista. E o resultado, certamente, será catastrófico. Confiram o que pensa (e operacionaliza) o deslumbrado Juiz Moro:

A operação “mani pulite” (mãos limpas) redesenhou o quadro político na Itália. Partidos que haviam dominado a vida política italiana no pós-guerra, como o Socialista (PSI) e o da Democracia Cristã (DC), foram levados ao colapso, obtendo, na eleição de 1994, somente 2,2% e 11,1% dos votos, respectivamente. Talvez não se encontre paralelo de ação judiciária com efeitos tão incisivos na vida institucional de um país”.

A deslegitimação da classe política propiciou um ímpeto às investigações de corrupção e os resultados desta fortaleceram o processo. Consequentemente, as investigações judiciais dos crimes contra a Administração Pública espalharam-se como fogo selvagem, desnudando inclusive a compra e venda de votos e as relações orgânicas entre certos políticos e o crime organizado. As investigações “mani pulite” minaram a autoridade dos chefes políticos – como Arnaldo Forlani e Bettino Craxi, líderes do DC e do PCI – e os mais influentes centros de poder, cortando sua capacidade de punir aqueles que quebravam o pacto do silêncio. O PROCESSO DE DESLEGITIMAÇÃO POLÍTICA FOI ESSENCIAL PARA A PRÓPRIA CONTINUIDADE DA OPERAÇÃO MANI PULITE”.

Os responsáveis pela operação “mani pulite” (mãos limpas) AINDA FIZERAM LARGO USO DA IMPRENSA. Com efeito: para o desgosto dos líderes do PSI, que, por certo, nunca pararam de manipular a imprensa, a investigação da Mani Pulite VAZAVA COMO UMA PENEIRA. Tão logo alguém era preso, detalhes de sua confissão eram veiculados no L'Expresso, no “La República” e outros jornais e revistas simpatizantes. Apesar de não existir nenhuma sugestão de que algum dos procuradores mais envolvidos com a investigação teria deliberadamente alimentado a imprensa com informações, OS VAZAMENTOS SERVIRAM A UM PROPÓSITO ÚTIL. O CONSTANTE FLUXO DE REVELAÇÕES MANTEVE O INTERESSE DO PÚBLICO ELEVADO E OS LÍDERES PARTIDÁRIOS NA DEFENSIVA. Bettino Craxi, especialmente, não estava acostumado a ficar na posição humilhante de ter constantemente de responder a acusações e de ter a sua agenda política definida por outros. A publicidade conferida às investigações teve o efeito salutar de alertar os investigados em potencial sobre o aumento da massa de informações nas mãos dos magistrados, favorecendo novas confissões e colaborações. Mais importante: GARANTIU O APOIO DA OPINIÃO PÚBLICA ÀS AÇÕES JUDICIAIS, impedindo que as figuras públicas investigadas obstruíssem o trabalho dos magistrados, o que, como visto, foi tentado. HÁ SEMPRE O RISCO DE LESÃO INDEVIDA À HONRA DO INVESTIGADO OU ACUSADO”.

A estratégia de investigação adotada desde o início do inquérito SUBMETIA OS SUSPEITOS À PRESSÃO DE TOMAR DECISÃO QUANTO A CONFESSAR, espalhando a suspeita de que outros já teriam confessado e levantando a perspectiva de permanência na prisão pelo menos pelo período da custódia preventiva no caso da manutenção do silêncio ou, vice-versa, de soltura imediata no caso de uma confissão (uma situação análoga do arquétipo do famoso dilema do prisioneiro)”.

Além do mais, havia a DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕES sobre uma corrente de confissões ocorrendo atrás das portas fechadas dos gabinetes dos magistrados. Para um prisioneiro, a confissão pode aparentar ser a decisão mais conveniente quando outros acusados em potencial já confessaram ou quando ele desconhece o que os outros fizeram e for do seu interesse precedê-los. Assim, o ISOLAMENTO NA PRISÃO ERA NECESSÁRIO PARA PREVENIR QUE SUSPEITOS SOUBESSEM DA CONFISSÃO DE OUTROS: dessa forma, acordos da espécie “eu não vou falar se você também não” não eram mais uma possibilidade. Há quem possa ver com maus olhos tal estratégia de ação e a própria “delação premiada””.

Usualmente é ainda levantado outro óbice à delação premiada, qual seja, a sua REDUZIDA CONFIABILIDADE. Um investigado ou acusado submetido a uma situação de pressão poderia, para livrar-se dela, mentir a respeito do envolvimento de terceiros em crime. Entretanto, cabível aqui não é a condenação do uso da delação premiada, mas sim tomar-se o devido cuidado para se obter a confirmação dos fatos por ela revelados por meio de fontes independentes de prova”.

A prisão pré-julgamento é uma forma de se destacar a seriedade do crime e evidenciar a eficácia da ação judicial, especialmente em sistemas judiciais morosos. Desde que presentes os seus pressupostos, não há óbice moral em submeter o investigado a ela. As prisões, confissões e a publicidade conferida às informações obtidas geraram um círculo vicioso, consistindo na única explicação possível para a magnitude dos resultados obtidos pelo operação Mani Pulite”.

O que é necessário dizer e que, de todo modo, todo mundo sabe, é que a maior parte do financiamento da política é irregular ou ilegal. Os partidos e aqueles que dependem da máquina partidária (grande, média ou pequena), de jornais, de propaganda, atividades associativas ou promocionais têm recorrido a recursos adicionais irregulares. Se a maior parte disso deve ser considerada pura e simplesmente criminosa, então a maior parte do sistema político é um sistema criminoso”.

Talvez a lição mais importante de todo o episódio seja a de que a ação judicial contra a corrupção só se mostra eficaz enquanto ela contar com o apoio da opinião pública, com condições de avançar e apresentar bons resultados. Se isso não ocorrer, dificilmente encontrará êxito. Por certo, a opinião pública favorável também demanda que a ação judicial alcance bons resultados. Somente investigações e ações exitosas podem angariá-la. Daí também o risco de divulgação prematura de informações acerca de investigações criminais. Caso as suspeitas não se confirmem, a credibilidade do órgão judicial pode ser abalada”.


A presunção de inocência, no mais das vezes invocada como óbice a prisões pré-julgamento, não é absoluta, constituindo apenas instrumento pragmático destinado a prevenir a prisão de inocentes. Vencida a carga probatória necessária para a demonstração da culpa, aqui, sim, cabendo rigor na avaliação, não deveria existir maior óbice moral para a decretação da prisão, especialmente em casos de grande magnitude e nos quais não tenha havido a devolução do dinheiro público, máxime em país de recursos escassos. Mais grave ainda, no Brasil, a prisão pós-julgamento foi também tornada exceção, para ela exigindo-se, por construção jurisprudencial, os mesmos pressupostos da prisão pré-julgamento”.

De fato, escândalos políticos não colocam em questão apenas a legitimidade da classe política; eles também têm um impacto na legitimidade daqueles encarregados de investigá-los: a magistratura. Em alguns casos, de fato, a descoberta de ilegalidade disseminada provoca críticas ao sistema judicial no sentido de que este estaria sendo inadequado para combater a corrupção. Daí, por evidente, o valor, com seus erros e acertos, do exemplo representado pela operação “mani pulite”.

Não deixa ainda de ser um símbolo das limitações da operação “mani pulite” o cenário atual da política italiana, com o cargo de primeiro-ministro sendo ocupado por Silvio Berlusconi. Este, grande empresário da mídia local, INGRESSOU NA POLÍTICA EM DECORRÊNCIA DO VÁCUO DE LIDERANÇAS PROVOCADO PELA AÇÃO JUDICIAL e mediante a constituição de um novo partido político, a Forza Itália. Não obstante, o próprio Berlusconi figura desde 1994 entre os investigados pelos procuradores milaneses por suspeita de corrupção de agentes fiscais. Além disso, era amigo próximo de Craxi (este foi padrinho do segundo casamento de Berlusconi). Tendo ou não Berlusconi alguma responsabilidade criminal, não deixa de ser um paradoxo que ele tenha atingido tal posição na Itália mesmo após a operação mani pulite”.

No Brasil, encontram-se presentes várias das condições institucionais necessárias para a realização de ação judicial semelhante. Assim como na Itália, a classe política não goza de grande prestígio junto à população, sendo grande a frustração pelas promessas não-cumpridas após a restauração democrática”.



quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

PEDRO ESMERALDO, cratense até pelo avesso - José Nílton Mariano Saraiva

Desconhecemos alguém que ame tanto o Crato como o Pedro Esmeraldo, membro de tradicional família da cidade. Pelo Crato, o Pedro é capaz de enfrentar gregos e troianos, sem nenhum temor; pelo Crato, Pedro perde as estribeiras e topa qualquer coisa, independentemente de onde esteja; pelo Crato, o ordeiro e passivo Pedro transmuta-se num ativo militante político, capaz de elaborar comoventes, longos e sinceros arrazoados, via imprensa e na defesa da cidade.

Enfim, e já tivemos a oportunidade de verbalizar isso aqui e alhures, se a cidade do Crato tivesse pelo menos uns dez combativos Pedro Esmeraldo, certamente não estaria na situação de penúria que hoje está. Pedro é um cratense não só da gema, mas da clara também. Ou seja, um cratense completo, autentico, insuspeito, acima de qualquer um outro (em termos de amor à terra-mãe). Se tiver igual, desconhecemos. Verdadeiro paradigma. Exemplo para as novas gerações.

Reservou o destino, entretanto, ao Pedro Esmeraldo, já na fase crepuscular da vida, algo desconfortável e que certamente o deixará profundamente abalado: nascido e criado na aprazível localidade conhecida por São José, Pedro Esmeraldo poderá, dentro de muito pouco tempo, ter que alterar na sua Carteira de Identidade, o local de nascimento; é que, em tramitação no desonesto e mercantil meio político, existe um projeto que desmembra certas áreas do Crato em favor de municípios vizinhos; e por esse projeto, segundo comentários, a área que abriga o São José passará a pertencer ao município de Juazeiro do Norte. Ou seja, Pedro, que abomina a cidade vizinha, por vias tortuosas será considerado um seu cidadão.

Quanta maldade do destino para com esse nosso guerreiro, Pedro Esmeraldo.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

"ÓRFÃO DE UM PAI VIVO" - José Nílton Mariano Saraiva

Em 19.04.2000 (16 anos atrás, portanto), encaminhamos ao jornal O POVO (aqui de Fortaleza) bem como postamos nos blogs do Crato para os quais contribuímos, o texto abaixo. Nos blogs foi publicado, embora sem maior repercussão. Com relação ao jornal O POVO, após um período razoável do seu encaminhamento, pessoalmente estivemos com o então vice-presidente, senhor José Raimundo Costa, procurando saber qual a razão na não publicação do nosso trabalho. Não houve maiores justificativas; o jornal simplesmente se sentia no direito de não publicá-lo e pt saudações. Hoje, finalmente, não só os principais jornais do país se referem ao caso, assim como “explodiu” nas redes sociais. Confiram abaixo o texto de 16 anos atrás (mais atual que nunca).

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Fortaleza/CE., 19 de abril de 2000
Jornal O POVO – Seção “Cartas ao Leitor” – NESTA
UM FATO JORNALÍSTICO”

Um filho, rejeitado pelo suposto pai, a ponto de não poder ostentar o próprio sobrenome: uma mulher, mãe-solteira, atormentada e solitária, pagando um alto preço (o exílio), por ter-se aventurado numa relação proibida: um homem, casado, maduro e academicamente reconhecido, que, em função de conveniências políticas e, também, para salvar o próprio casamento, admite o adultério (depois de pressionado), embora negue uma paternidade indesejada: uma esposa, traída e infeliz, que embora intelectual bem sucedida, é humilhantemente obrigada a conviver com a sombra de uma “outra”, numa forçada acomodação de interesses.

Em “A História Real-Trama de uma Sucessão”, de Gilberto Dimenstein (páginas 152-153) e na Revista Caros Amigos (em circulação, páginas 26-31) conhecemos, com detalhes, lances da relação extraconjugal entre o então Senador e hoje Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, com a jornalista global Mirian Dutra, mãe de Tomás, 8 anos de idade, produto de um equívoco, prematuramente “órfão-de-um-pai-vivo”.

O mais estranho, em tudo isso, foi a autêntica conspiração de silêncio, patrocinada pelos Diretores de Redação das principais revistas e jornais nacionais, conhecedores privilegiados da matéria, que sonegaram da população, às vésperas de uma eleição presidencial, tão preciosa informação, sob o débil e inconsistente argumento de NÃO se tratar de um “fato jornalístico”, embora numa outra eleição, por um fato semelhante, tenham enxovalhado com um dos candidatos, tornando-se partícipes ativos da mudança então verificada no rumo da história.

História, aliás, testemunha e reveladora do caráter de duas personalidades antagônicas: de um lado, um homem simples, pouco letrado, mas sensível e presente ao assumir o produto de uma relação adúltera, agregando-lhe o sobrenome humilde; de outro, um homem nascido em berço-de-ouro, herdeiro de família tradicional, detentor de títulos e honrarias, mas insensível e incapaz de admitir e reconhecer o filho gerado, condenando-o a carregar apenas o sobrenome materno; e, ainda por cima, desrespeitando acintosamente a ex-companheira, ao insinuá-la uma mulher de homens outros, porquanto mãe de um filho de pai desconhecido.

Questiona-se: pode um jornalista, ao seu bel-prazer, sustar indefinidamente a publicação de uma matéria de interesse coletivo, por “sugestão” de políticos influentes, como foi feito ??? O que se constitui em um “fato jornalístico”, digno de ser levado ou não ao conhecimento público ??? Onde a ética jornalística, ditada por manuais, pode determinar seja ele (o fato jornalístico), imputado aleatoriamente para situação idênticas ??? Até quando a liberação de verbas publicitárias do Governo determinará o escamoteamento da verdade, sob o pueril argumento de “falta de provas” ???

Com a palavra, os senhores Diretores da Redação.

José Nilton MARIANO Saraiva
Rua Luciano Magalhães, 333/203 - Ident.: 332.515-SSP-CE
Fortaleza-CE

sábado, 20 de fevereiro de 2016

"UM SÓ POVO, UMA SÓ NAÇÃO CARIRI" - José Nilton Mariano Saraiva

Se, enquanto teoria, a criação e implantação da Região Metropolitana do Cariri conseguiu ludibriar muita gente, através da propagação de mentiras e devaneios mil, na prática, a partir do momento em que passou a ser operacionalizada, converteu-se em um colossal embuste, uma farsa sem tamanho, uma nua, crua e indigesta realidade, principalmente para os cratenses.

Fato é que, para camuflar a escolha de uma única cidade (Juazeiro do Norte) como receptora preferencial dos investimentos governamentais ao sul do Ceará (assim como o fizera com Sobral, ao norte), o Governo do Estado contou com uma legião de treinados e amestrados “multiplicadores” (deputados estaduais da sua base de sustentação, secretários de Estado e meia dúzia de cratenses babacas, escorregadios e cooptados) que, hipócrita e irresponsavelmente, saíram às ruas a dourar a pílula, alardeando, difundindo e propagando as futuras benesses advindas da criação da Região Metropolitana do Cariri; só que, internamente, entre quatro paredes, já havia a determinação política em se evitar a pulverização dos investimentos governamentais entre as diversas cidades da Região do Cariri (desprovidas do “componente político”), centrando-os em uma só urbe, na mafiosa perspectiva que os benefícios fluiriam e se espraiariam entre as demais comunidades (e naquela ocasião, alertamos aqui sobre o perigo da passividade com que aquela “conversa mole” passara a ser digerida, o que nos valeu diversos rótulos desabonadores: bairrista, conservador, retrógrado e tal).

Mas foi assim, verbalizando tão “incrível lorota” diuturnamente (em alto e bom som), e valendo-se de um pseudo “regionalismo” alavancador do progresso, que foram criados e passaram a operar em Juazeiro do Norte (e só em Juazeiro, pt saudações) o Aeroporto Regional de Cariri, o Hospital Regional do Cariri, a sede Regional da Receita Federal, a Universidade Federal do Cariri, a Delegacia Regional da Polícia Federal, a unidade Regional da Receita Federal e tudo o mais que pudesse ser rotulado de “regional”; assim, castrando e obstaculando qualquer tentativa de descentralização, tudo tinha obrigatoriamente que ser em Juazeiro (posteriormente, na esteira do prestígio chancelado pela preferência governamental, a instalação de empreendimentos privados foi apenas consequência). Quanto às demais cidades da região (inclusive e principalmente o Crato), ficaram a ver navios, a esperar por quem não ficou de vir, e tendem à estagnação absoluta, à involução, a virarem meros satélites errantes a vagar sem rumo e sem norte na órbita juazeirense (com todas as consequências nefastas daí advindas).

O mais estapafúrdio nisso tudo é que, à época da criação da tal Região Metropolitana do Cariri, por deslavada conveniência política, falta de justificativa consistente para esconder o marasmo administrativo, ou mesmo na vã tentativa de justificar o injustificável, os (maus) cratenses, inclusive e principalmente suas autoridades constituídas (que deveriam, sim, ser responsabilizadas pelo estágio a que chegamos), convencionaram e passaram a adotar o cretino bordão de que, como éramos “UM SÓ POVO, UMA SÓ NAÇÃO CARIRI”, o progresso e a aura desenvolvimentista viriam de forma equânime, igualitária, simétrica (e ai de quem ousasse pensar diferente). Tanto é que o então prefeito do Crato (Samuel Araripe) e seus áulicos sempre se fizeram presentes e nunca deixaram de bater palmas e tecer fartos elogios a tudo que era inaugurado em Juazeiro. Não podem, agora, chorar o leite derramado.

Deu no que deu. E como o esvaziamento do Crato é notório e acachapante, hoje, hipocritamente, as mesmas autoridades e formadores de opinião que engoliram o bolo sem mastigar, que teceram loas àquela criminosa ação governamental, que se deixaram bovinamente estuprar intelectualmente, que se extasiaram com o canto da sereia, e que covardemente, sim, se omitiram em questões cruciais, posam de indignados, choram ante as câmeras, manifestam surpresa sobre os rumos da Região Metropolitana do Cariri, reclamam do tratamento “desigual” a que foram submetidos Crato e as demais cidades da região. Pura hipocrisia, deplorável jogo de cena, falsidade em estado absoluto e latente.

E Juazeiro do Norte, que nasceu, cresceu e marombou-se à sombra de um grande embuste, uma farsa pra lá grotesca (o risível “milagre da hóstia”), continua adotando e valendo-se do mesmo heterodoxo “modus operandi”, da mesma estratégia suspeita de tramar na calada da noite, que o catapultou à condição de centro receptor de tudo que provém do poder central estadual (com a inestimável colaboração do “componente político”). Assim e lamentavelmente, por omissão e sem-vergonhice das suas ditas “autoridades competentes”, tornamo-nos, sim, uma mera “cidade dormitório”.

Só que o pior está por vir (recortem, guardem e nos cobrem depois o que aqui afirmamos): dentro de bem pouco tempo a área geográfica do Crato será substancialmente subtraída em proveito, principalmente, de… Juazeiro do Norte. Falta só o bater do martelo, Portanto, que quando isso ocorrer não se constitua nenhuma surpresa: afinal, não somos “UM SÓ POVO, UMA SÓ NAÇÃO CARIRI” ???

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

METEOROLOGIA


MAIS ATUAL QUE NUNCA



Dilma Resistente
Acabe com o podre da imprensa brasileira e inevitavelmente o chão do PSDB se abre. Os tucanos só se sustentam pela blindagem da mídia que ao mesmo tempo bombardeia o PT, pelo mesmo motivo: defender seus intere$$e$

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

DANÇANDO O BAIÃO - Demóstenes Gonçalves Lima Ribeiro (*)


Se não fosse uma mulher, o frio e a solidão do sul teriam destruído a minha crença no futuro e eu estaria no Nordeste, abandonando a pós-graduação. Eva, embora tão diferente de mim, para o bem ou para o mal, foi uma paixão avassaladora, o fato irresistível contra o qual homem nenhum poderia lutar.

O meu sogro ficou viúvo logo após o nascimento de Eva. Júlia Strauss, uma das tias paternas, alguns anos mais velha do que Eva, administrava a casa. Ele, Mr. Hermann, gostava de ser chamado assim, pois tinha orgulho de sua origem europeia e disfarçava a amargura da viuvez, refugiando-se no trabalho. Em São Leopoldo, praticamente mudara-se para a “Oficina Baviera” e tinha certeza de que a colonização portuguesa e a formação mestiça brasileira eram a causa irreversível do nosso atraso.

Um dia, ele se irritou quando lhe falei que enxergava exatamente o contrário. Na verdade, reverencio o gênio lusitano e os nossos antepassados, por um país tão grande, unido pelo idioma único e pela mistura de raças. Portanto, nada mais estranho do que eu naquela família, a contragosto vencida pela nossa determinação, pois meses depois eu e Eva estaríamos casados.

O velho se transformou quando Mathilde nasceu e ficou extremamente feliz ao batizarmos a sua primeira neta com o nome da avó. A mãe, as tias, os primos eram toda a atenção para a criança, mas o tempo passava e eu me sentia cada vez mais só.

Eva perdera o interesse pela profissão e Júlia Strauss, surpreendendo a todos, ingressou no curso de Ciências Sociais. Embora discreta, exibia, progressivamente, visível transformação. Não era mais a solteirona gordinha, voltada exclusivamente às questões domésticas, à sobrinha e ao bem estar do irmão. O terninho escuro, os cabelos presos e os óculos de aros grossos, deram-lhe um ar de professora, parecia uma intelectual. Em alguns fins-de-semana, ela vinha a Porto Alegre e ficava conosco, tinha cursos de imersão.

Eu seguia a minha vida com Eva, Mathilde e os estudos do doutorado. Às vezes, ainda mais só quando elas iam para São Leopoldo e eu não podia viajar. Num desses dias, Júlia veio para uma aula e noite de sábado, quando eu já ia me recolher, saiu bruscamente do quarto de hóspedes e invadiu a sala. Cabelo solto, olhos azuis, ela parou em frente a mim e atirou o roupão.

Completamente nua, eu fiquei maravilhado. Como não acreditar no Brasil se estavam ali os peitos duros, a bunda firme e a boceta envenenada? Nos intervalos, ela ria descontroladamente – como ela ria! - e cantarolava baixinho, conhecia Luiz Gonzaga e João do Vale, a música nordestina seria o tema da sua dissertação.

Mr. Hermann nos cobrou outro neto e Eva, encantada com a maternidade, só pensava no enxoval. Já não me sentia tão intruso e reconhecia o esforço da família para que eu e Júlia terminássemos o trabalho. Eva e Mathilde freqüentemente passavam os fins-de-semana com o avô, enquanto Júlia vinha a Porto Alegre levantar o material de pesquisa.

Decidi-me por um biocombustível e Júlia voltou-se sobre a autenticidade dos afetos no inconsciente nordestino traduzido na música popular. Necessitávamos um tempo de recolhimento para a redação final e um amigo de Mr. Hermann nos emprestou um chalé em Gramado. Assim, num último “tour de force, ficamos completamente isolados.


Na volta, nosso progresso e a defesa próxima das teses, foram comemorados com um churrasco. Quando Eva anunciou a gravidez, todos brindaram o novo neto. Mr. Hermann, alegre como nunca, convencera-se de que o sertanejo era, antes de tudo, um forte e fez questão de apresentar a nova cozinheira, Nilzete. Ao final, riso malicioso, a baiana me contou que mais uma Strauss estava interessada no Nordeste e sonhava aprender comigo como se dança o baião.


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(*) Demóstenes Gonçalves Lima Ribeiro é médico-cardiologista, natural de Missão Velha e atualmente residindo e exercendo o ofício em Fortaleza-CE.