TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

UM CESTO CHEIO DE “VEJA” E “CARAS”

No salão destes enormes centros de exames: análises clínicas e imagens. A espera de alguém que faz exame de hora marcada, presente em ponto, mas a ordem é de chegada. E tome paciência.

Algo a fazer?

Uma estante, qual “as nossas roupas velhas dependuras”, expunha revistas amarfanhadas e gordurosas de tantos dedos virando páginas. Títulos como Veja, Caras, Época e por aí vai.

É Copacabana e os leitores se adequam aos títulos. E pensei, da menos datada passearei os olhos na vaidade de artistas, semi e celebridades do eixo Rio-São Paulo.

Todo mundo interpretando algum bom estilo de ilhas e continentes, taças e comidas, além de álbuns imensos de reuniões, casamentos, batizados, aniversários e tanta desrazões mais para apenas um clic digital.

Em verdade se trata de roupa velha mesmo. O que os esperançosos da próxima chamada do laboratório se distraem mesmo são com o “face”, instagram, whatsap e outras telas luminosas mais que houver.

Mas aí minha atenção viajou mesmo nas caras do vai-e-vem nos balcões, tomadas e saídas de elevadores e à espera nas cadeiras acolchoadas. Isso sem contar a indefectível programação matutina da nossa querida TV aberta apresentando vendedores de saúde e outras normas fundamentais que logo se esgotam na próxima edição.

Aquele bem vestido corpo esguio, de bolsa pendurada no antebraço (todas as mulheres a carregam), cabelos mechados de louro, escovado, unhas luminosas e na ponta dos dedos um digitar na tela com a força simbólica de uma executiva empresarial. Conversava com uma mais jovem, embevecida diante da oportunidade, anotando freneticamente em sua tela o que a outra lhe diz.

Bermuda. Cabelos brancos. Peso acima das tabelas e a cintura nos últimos furos do cinto. É uma verdadeira coorte de aposentados, meio expediente ou que mais tempo houver para um jejum, uma picada na veia e um café com um pacotinho de biscoito cream cracker.

A mulher do cafezinho ausentou-se. Alguns começaram a operar a máquina por conta própria. Chega um senhor, pouco mais do que sessenta anos, com algum problema neurológico e, vendo os outros, também entra no balcão para acionar a máquina do café. No seu modo lento começa a operação.

Sua acompanhante, uma senhora afrodescendente, diz: não faça isso senão a moça-do-café briga com você. Alguém explica que todo mundo está a fazer o mesmo. Aceita, mas daí em diante quem dirige todas as suas iniciativas é ela. Que fica a busca de soluções até meia hora após saírem em busca de um táxi. Ele, obediente, a segue.

Senhas para receber exames. Envelopes carregados. Braços dobrados para estancar a picada da agulha. Um estalo de lábios no sabor do café. Passos como um passarinho fugindo da gaiola. A satisfação do dever cumprido.


O médico, no seu consultório com cestos cheios de Revistas Caras e da Veja, continua a expedir as idas àquele salão onde a expressão é o fluxo de um ramo da economia. 

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