TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

domingo, 15 de março de 2015

As bandeiras na Avenida Paulista - José do Vale Pinheiro Feitosa

Quando setores da classe média brasileira, especialmente de São Paulo, protestam como se carregassem todo o coração do povo eu fico a imaginar. Quem não viu, nos acontecendo do 2015 pouca gente é testemunha, mas no dia 23 de agosto de 1954 a fuzarca envolvendo a classe média brasileira, especialmente a “lacerdista” (como categoria política explicativa), a mídia nacional, os militares e setores do empresariado, a queda de Getúlio era uma unanimidade nacional.

No dia seguinte, uma multidão jamais vista nas ruas do Rio, furiosa, depredando jornais, querendo matar generais, era a revelação de que unanimidades podem ser forjadas. Getúlio havia dado um tiro no coração e o povo que se acuara diante da avalanche discursivo-mediática, explodiu em ódio aos algozes do presidente. Este povo aí que foi à Paulista hoje à tarde, não fala pelos corações dos brasileiros.

Mas é preciso reconhecer que há um processo discursivo-mediático operando e que continuará o exercício. E isso significa contra especificamente um partido, genericamente contra a esquerda e fundamentalmente com ódio de classe. Mesmo que o caldo da crise econômica, que as ações do imperialismo americano tenham interesses inconfessáveis no financiamento de tão bem articulada campanha, especialmente nas redes sociais e no WhatsSpp, a verdade é que há um “plus” operativo com núcleos bem identificados: empresários, setores financeiros, a rede Globo, as organizações Abril e, como sempre, as empresas de mídia com sede em São Paulo.  

Por isso é preciso que reconheçamos: a partir de hoje a política no Brasil será uma luta contínua visando um desfecho logicamente político. Todo mundo fará seus cálculos. O que acontecerá neste desfecho segundo os objetivos do programa político de cada partido e de setores da sociedade (incluindo empresários, sociedade civil etc.). Isso levará a todos a pensar no futuro dentro de uma lógica muito mais acelerada.

Outro fator a se revelar, especialmente em algumas manifestações de rua e nas redes sociais, é o surgimento de um sectarismo que rompe diálogos e favorece o porrete tanto no linguajar como de fato pelas mãos. Mas, mesmo este sectarismo costuma ser autodestrutivo e quando muito servir a propósitos mais bem organizados que depois os transformam em “milícias” a serviço de um projeto político de poder. Ensaios foram feitos na Paulista hoje quando uma faixa carregou o símbolo do nazismo.

De qualquer modo esta é a previsão do imediato. O que acontecerá daqui ao fim do ano e nos próximos anos é um exercício mais complexo que descamba para a adivinhação. Como a bandeira é o fora PT e o impeachment da Dilma, pode ser que surjam outras bandeiras nas ruas mais vantajosas para o país e que deem vazão ao futuro no qual a unidade da América Latina e um projeto popular de melhoria do povo brasileiro possa democraticamente seguir adiante.


Neste sentido é bom que tenham clareza nesta questão: todo avanço coletivo, portanto político, seja entre nações e relativo a uma nação é sempre um projeto de tensões. Depende apenas que o povo o compreenda.   

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