TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

À ESPERA DE UM TEMPORAL - José do Vale Pinheiro Feitosa

Considerando o horário de verão: são 18 horas e 32 minutos no Rio de Janeiro. A cidade entocou-se dentro de casa (digo apartamento, abrigo, hotel etc.). Desde as 14 horas que os trabalhadores foram liberados para retornarem aos seus domicílios em segurança.

Digo. Liberado, às vezes, para enfrentar a insegurança de suas moradias. Neste momento há um tempo fechado. Sem qualquer sinal de trovões, relâmpagos e outros componentes do anúncio que se tornou espera.

Espera que chegue um temporal. Inundando tudo. Derrubando barreira. Travando o fluxo da cidade. Formando correntezas. Alagados. Transbordando lagoas, levadas, riachos e rios.

Na espera um silêncio de automóveis. Seria a hora do rush. As ruas principais ainda têm volume, mas muito esvaziadas. Assim como o tempo que se antecipa a jogos da seleção brasileira no período da tarde quando todo mundo era liberado mais cedo.

A espera do previsto. Lá pelos lados da Pedra da Gávea e Morro dos Dois Irmãos, as nuvens se avolumam. Quando porções anuviadas intensamente plúmbeas começarem a se desgarrar do volume principal, chegou a hora desta gente bronzeada encontrar-se com o vaticínio.

Mas se a previsão furar? Não vier temporal? Apenas aquelas tempestades corriqueiras de verão? O que se há de dizer do serviço de meteorologia? Infelizmente diante de tantas mensurações, de tantos modelos matemáticos, como se justificar ao distinto público tamanho efeito adventício.

Eis que à ciência da previsão, segura e precisa, teria chegado ao estágio em que as imprevisões agora previstas, por outro lado passaram a sofre os males da omissão. O imprevisto, o não acontecido do que fora previsto. E retornamos à dúvida da imprevisão.


Mas não nos enganemos. Nós que vivemos nesta terra. A espera continua até muito depois do que pensamos. Vejamos o anoitecer e seus mistérios não contabilizados. Ali onde o contabilizado também perde ou ganha valor.

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