TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Réveillon - José do Vale Pinheiro Feitosa

Hoje à noite comemora-se! Um intervalo de tempo. Que por vezes adquire uma personalidade substantiva: o ano. Que assim se põe a receber qualificativos: ruim, bom, tomara que passe, o que virá, como será o outro ano?

O Réveillon dos franceses nos é um toque de impressão da dominância cultural. Na época em que a França nos influenciava. E a palavra Réveillon é uma composição de “retour a la veille”. Ou seja, o retorno à véspera. Acordar para o novo tempo.

Neste retorno os governos do Brasil e dos Estados assumirão um mandato eleitoral. Não é uma ruptura com o passado. É uma passagem, projetada, do que aconteceu nestes últimos momentos do dia 31 de janeiro.

Mas, então, esta unidade organizativa, que é o ano calendário, serve de marcação para que as remadas no barco da vida sigam um determinado ritmo. Uma determinada velocidade. Um curso definido.

Mas é apenas organização. A vida é um contínuo de tempo se é a ele que temos atenção. Um espaço de vida onde se faz nele o que chamamos tempo. De modo que a contagem é mera ilusão, enquanto o que fazemos, os sentidos e significados que imprimimos, as decisões e posturas que tomamos é quem de fato se encontra no espaço do tempo do sol.

E nesta ação, que envolve a consciência de cada um, temos o bate pronto ou aquilo que é muito refletido, a longa decisão, pois afinal é este intervalo entre o perceber e o agir e ele é relativo. De qualquer modo este intervalo (se demorado ou não) e o conteúdo da ação é quem entrará no contador da consciência de cada um.

Duas coisas são certas. A primeira: eu quero ser mortal. Num mundo em que tudo que amo o é, porque quereria me prolongar além delas. A mortalidade delas impregna-me de um suave caminho de igualmente seguir. Não por vontade própria. Mas por ser o curso necessário de igualar-me a elas. E o mais importante, mesmo mantendo a crítica ao diferente, sempre a gravidade da igualdade me aprisionou.

A segunda: entre os próximos se encontra o desejo de igualdade, de solidariedade, de dançar a mesma valsa da história. Não tem sentido qualquer a pregação do socialismo, do campo da liberdade, do amor ao próximo, se aqueles com quem dormimos e acordamos, parecem o tédio da existência.

Na pia onde as nossas escovas se cruzam, o acordar é o desejo de viver. A seguir na sala, na cozinha e de porta a fora onde houver gente e sentido da igualdade e da liberdade.

Assim neste contínuo entre 2014 e 2015 o desejo maior que posso anunciar é se tenha igualdade e liberdade. Não como moeda de valor, mas como essência desses segundos onde a capilaridade do nosso ser acontece.   

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