TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

OS BLOGS, A IDEOLOGIAA E A AGRICULTURA FAMILIAR, - José do Vale Pinheiro Feitosa

Uma das coisas mais interessantes destes velhos blogs é a capacidade da produção de texto que reflitam a leitura e análise do mundo de quem nele escreve. Mesmo com as redes sociais, os blogs ainda continuam na pauta da comunicação. E mesmo quando vem aquela argumentação mofada de que a juventude se encontra mais no "whatsapp" ou no "face" isso é mero e rasteiro preconceito. Na verdade os blogs são mais analíticos e não é verdade que ninguém mais ler longos textos. 

Quem nunca teve capacidade de se fixar em argumentações complexas sempre terá dificuldade.  Mas não se pode dizer que esta linguagem morreu. Estamos diante da velha questão de todas as gerações: o analfabetismo funcional sempre existiu e mesmo entre quem consegue decifrar os textos, existe a preguiça dispersiva para fundir-se à novidade do inesperado que se ler. 

Então volto com uns dados que peguei hoje nos blogs. É sobre a produção agropecuária da agricultura familiar vis-à-vis à agricultura não familiar. É que aqui mesmo neste blog li muito argumento contra a agricultura familiar e defendendo como a suprema jóia da coroa o agronegócio dado o peso da balança comercial. 

Em que pese este peso isso é relativo na formação de uma sociedade democrática, com qualidade de vida e que tenha progresso. A agricultura familiar tem um enorme peso no desenvolvimento econômico das famílias rurais, reduz o impacto nocivo da urbanização a qualquer custo e abre espaço, inclusive para que o agronegócio possa vender sua produção no exterior. 

Aqui no blog cheguei a ler argumentos que reproduziam meramente os interesses dos grandes produtores rurais, a sua hegemonia, a sua ideologia monopolista do campo e o horror às pequenas e médias propriedades, vistas, por incrível que pareça como uma política comunista. A ideologia de direita usava isso para atacar todas as forças de esquerda, mas principalmente, para atacar os pequenos produtores no campo e os índios para que fossem abertas novas fronteiras de exploração capitalista do agronegócio. 

Hoje vi estes números e republico aqui: existem mais de 4,3 milhões de estabelecimentos voltados para a agricultura familiar contra 809,3 mil da modalidade não familiar. A agricultura familiar tem uma participação de 38% no valor bruto da produção e emprega 14 milhões de pessoas (74%) contra 5 milhões (26%) da agricultura não familiar. 

Agora observem um número relativo: a população brasileira nesta semana atingiu o total de 202 milhões de habitantes. A produção rural por estes números estaria ocupando em torno de 20%, um pouco menos de 10% da população. Mas aí temos de considerar a população familiar que vive deste meio, o que eleva certamente a esta população para mais de um quarto da nossa população. Isso não é pouco como impacto social dentro das cidades.

A "fotografia" - José Nilton Mariano Saraiva

Não deve existir coisa pior no mundo para o ser humano do que ser pego no “flagra”, no exato momento do cometimento de algum deslize ou da materialização (prática) de um ato excrescente, não tão convencional, que vá de encontro aos bons costumes e à normalidade. E quando tal situação ou momento é “imortalizado pela fotografia” (a tal prova provada), e posteriormente veiculada em primeira página num veículo de penetração nacional, como um jornal de grande circulação, por exemplo, o “constrangimento” de quem a praticou deve ser algo transamazônico, capaz até de fazê-lo recolher-se durante um tempo, até que a poeira baixe e os ânimos serenem. Pelo menos pra quem tem um mínimo de “semancômetro” (ou vergonha na cara).

Pois bem, como é de conhecimento público, a última eleição para a Prefeitura de Fortaleza foi pau puro, briga feia, embate acirrado, jogo bruto e pra lá de pesado, com acusações de ambas as partes: de um lado, o candidato da prefeita sainte (Luizianne Lins) e de outro, o candidato do governador do Estado (Cid Gomes). No meio, como fiel da balança e alvo de todas as atenções, quem findou levando a melhor foi o eleitor dos bairros periféricos da capital, porquanto caminhões e mais caminhões, com carradas de “dinheiro vivo”, teriam sido distribuídos na noite anterior ao pleito. E aí, por uma apertada margem de votos (teoricamente comprados) o candidato apoiado pelo senhor Governador do Estado acabou por suplantar o indicado da prefeita.

Vida que segue, compreensivelmente, dia seguinte, as manchetes (garrafais) dos jornais matutinos da capital se referiam ao seu resultado, destacando a minguada vitória de um praticamente noviço na política cearense, o médico e deputado Roberto Cláudio, criação da “grana desenfreada” e da equipe de marqueteiros da máquina governamental (sim, porque se pessoalmente trata-se de uma figura afável, esteticamente é um autentico desastre, verdadeiro “aborto da natureza”: baixinho, careca, redondo de gordo, pesando quase 200 quilos).

Pois bem, muito mais que a manchete do jornal em si, o que chamou a atenção foi a “FOTOGRAFIA” colorida de meia página (na primeira página) publicada para ilustrá-la: nela, com um sorriso de orelha a orelha e claramente turbinado por alguma substância milagrosa (excesso de álcool ???), o então assessor do Governador, ex-prefeiturável, ex-governamentável, ex-tudo e, por fim, secretário de Governo, senhor Ferrúcio Feitoza, deixara de lado a formalidade do terno e gravata e, metido numa camisa pólo amarela, carregava nos ombros, sozinho e até com certa facilidade, o peso-pesado Roberto Cláudio e seus quase 200 quilos.

Foi o bastante para se compreender o repentino destaque conseguido pelo senhor Ferrúcio Feitoza que, de uma hora pra outra passara a ser “vendido” como um dinâmico e moderno gestor, modelo de executivo a ser cortejado e imitado, tanto que houvera sido mencionado como concorrente ao cargo do agora prefeito eleito; com tal “fotografia” foi que cristalizou-se na opinião pública a certeza de que tal figura não passava de um monumental puxa-saco, bajulador asqueroso e sem nenhum escrúpulo.

Meses após, pra seu azar, através das “redes sociais” (sempre elas) o senhor Ferrúcio Feitoza foi novamente “flagrado”, como sempre sorridente, só que dessa vez dentro do carro do amigo Governador do Estado (evidentemente que no banco de carona), num desses passeios em que o chefe do executivo cearense se permite realizar sem a companhia do motorista particular e todo o seu séquito de seguranças.

O “detalhe” curioso da bendita “fotografia”: como que para corroborar o pejorativo “juízo de valor” que houvera sido emitido lá atrás a seu respeito (na época da eleição), o senhor Ferrúcio Feitoza dessa vez levava, não nos ombros, mas no próprio colo, dedicando extremada atenção, carinho e zelo, o “cachorrinho” do chefe (ninguém sabe se chegou a levar alguma “mijada”).  


PUXA (vida, haja) SACO, como pode alguém se submeter a tamanhos vexames, pelo e em nome do poder ???

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

"VELHA" e "NOVA" POLÍTICA - José Nilton Mariano Saraiva

Apesar de já ter decorrido um tempo razoável, a “bruma” que derrubou o avião do candidato Eduardo Campos (vitimando-o e à sua equipe), parece não ter ainda se dissipado, e de forma surpreendente mostra que poderá causar estragos, sim, na campanha da sucessora Marina da Silva (que houvera disparado nas pesquisas).

É que, nem bem iniciada as burocráticas investigações sobre quem era o proprietário do avião disponibilizado ao PSB e/ou ao candidato, a “coisa” tomou um rumo inesperado, porquanto restou comprovado ter havido o uso dos famigerados e abomináveis “laranjas” a fim de adquirir o próprio.

Um adendo: em Recife, terra do candidato Eduardo Campos, descobriu-se que duas empresas, a “Câmara & Vasconcelos Ltda” e a “Vasconcelos & Câmara Ltda” (isso mesmo, só trocando a posição das denominações) teriam sido usadas na transação de compra da aeronave; e aí, no endereço onde funcionaria uma delas, numa favela periférica da cidade, o repórter da TV foi encontrar um “pobre coitado” que, atarantado ante a pergunta se teria contribuído financeiramente para a compra de um avião, simplesmente mostrou-se indignado. Fato é que, extratos de depósitos bancários mostraram uma intensa movimentação de dinheiro, com transferências milionárias entre contas, objetivando a compra do avião.

Pois bem, na entrevista de 15 minutos concedida nessa quarta-feira (27) ao Jornal Nacional (ao vivo), a candidata do PSB Marina da Silva, após confirmar saber de um “empréstimo” para adquirir a aeronave, demonstrou “extrema dificuldade” em responder sobre se achava “ético” utilizar-se de “laranjas” para tal fim: e mais, já que ela se refere com tanta veemência a uma “nova política”, da qual seria a precursora, foi-lhe indagado o que isso tinha de “diferente”, em relação à “velha política” (“modus operandi”) dos adversários, que ela tanto combate e recrimina. Marina gaguejou e não convenceu na resposta. Ao repórter e tampouco aos telespectadores.

Num outro momento, enrolou-se toda para responder o “porque” de, no pleito passado, em que concorreu à eleição para Presidente (quando obteve quase 20 milhões de votos), ter ficado apenas em terceiro lugar (com diferença de 30 pontos em relação ao primeiro colocado) em sua terra natal, o Acre.  Isso seria uma espécie de “desaprovação” por parte daqueles que o conhecem mais de perto ??? Marina tergiversou e, de novo, não convenceu.

Enfim, Marina Silva, que no “debate” televisivo da noite anterior teria se saído bem, conforme seus adeptos, dessa vez mostrou-se despreparada quando questionada sobre questões prosaicas, mas que não constam da sua cartilha doméstica.

No mínimo, “baixou a guarda” e forneceu a senha para a investida dos adversários, em outros confrontos frente a frente.


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

A ameixa no pudim de leite


                                                                                                          J. Flávio Vieira

Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso.
 Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
Clarice Lispector

                                                               Não tem bom sem defeito,  já reza a doce filosofia popular. Como caju, qualquer vivente deste mundão sem fronteiras, tem sempre um certo travo. Fossem os homens todos puros e imaculados, tornar-se-iam, quem sabe, igualmente insípidos e insulsos. A impureza é que os faz diferentes e únicos, que põe algum tempero no caldo que, claro, dependendo da intensidade, pode torná-lo saboroso ou intragável. A grande arte da vida tem seus segredos nesta cuidadosa cocção das nossas qualidades e extravagâncias.  Carregar nossa jornada apenas com virtudes pode nos tornar santos, mas perfeitamente assépticos. Faz-se mister dependurar, pelas beiradas,  algumas imprecisões, algumas falhas e incorreções que terminarão funcionando como a ameixa no pudim de leite.
                                                               Emengardo Loyola sabia disso por mera intuição. Ao longo de toda vida buscou dosar , com balança de precisão, predicados e pecadilhos. Transparecia, com algum estardalhaço suas qualidades : trabalhador incansável, pai de família carinhoso, uma certa carolice de papa-hóstia. Já as imperfeições apareciam algumas maquiadas e outras guardadas em cofre forte e sem senha. Percebia-se que era um pouco pão-duro, meio rapa de sola. Comentavam, também, os amigos,  das suas escapadelas, passando por baixo das cercas de arame farpado do casamento. Havia, por outro lado, um mistério difícil de desvendar. Emengardo não era rico, mas levava uma vida bastante confortável. Tinha casa própria, carro do ano, os filhos estudavam em boas escolas, a mulher não trabalhava por opção e contavam-se inúmeros imóveis  de sua propriedade. Trabalhava no setor de contabilidade de uma fábrica de sapatos há muitos anos. Auferia salário razoável e ganhara a inteira confiança dos seus patrões pelos longos e profícuos serviços prestados à empresa. Nem férias conseguia gozar, pois sempre o arregimentavam para quebrar os galhos e fechar as contas. Sua boa situação financeira sempre se imputava ao seu afinco ao emprego e, também, à sua crônica sovinice. O dinheiro entrava em sua conta em cano de quatro polegadas e saía gota a gota como em alambique.
                                                               O que ninguém sabia é que havia mais razões para a situação financeira folgada do nosso Loyola. Manipulando as contas e as verbas da firma, ele , funcionário de plena confiança dos patrões, encontrou maneiras de fazer esvair-se  dinheiro por canos paralelos, para pagamentos de empresas de fachada e que terminavam  engordando sua própria poupança bancária. Tornara-se, assim, meio sócio fantasma do negócio, sem que ninguém soubesse da empreitada. Emengardo ia de vento em popa com seu barquinho. Mantinha suas virtudes bem à mostra e também seus vícios menores os expunha com algum velamento. Tornara-se uma figura querida na cidade e, antes de tudo, humana: dosara de forma harmônica santidade e  transgressão.
                                                O diabo é que , com o passar dos anos, começou a pesar, na cabeça judaico-cristã de Loyola, o seu maior e velado vício : o surrupiamento clandestino das verbas da fábrica de sapatos. E aquele peso se foi tornando insuportável, até mesmo porque ele não podia dividir com ninguém: nem amigos, nem familiares, nem mesmo com  seu conselheiro religioso( temia a cobrança retroativa do dízimo). Um dia, por fim, ele tomou a decisão drástica: Já basta! Vou viver do meu salário!
                                               Nunca ninguém compreendeu bem a derrocada de Emengardo a partir daquele dia. As coisas começaram a minguar, caiu o padrão de vida, os filhos acostumados com uma vida mais folgada tiveram dificuldade de se adaptar aos novos tempos de cabritos magros. A esposa torceu o nariz e terminou resolvendo se separar do marido, antes que todo o patrimônio adquirido por tantos anos, fosse todo pelo ralo. Com o rabo entre as pernas, como cachorro em noite de São João, Loyola começou a ficar recluso, a se afastar dos amigos e até da igreja. Sua tristeza invadiu inclusive o seu ambiente de trabalho e os patrões começaram a olhar para ele com ar meio atravessado. Resolveram, por fim, demiti-lo, temendo que sua derrocada financeira o levasse a solapar o patrimônio da fábrica, para cobrir o buraco nas próprias finanças.
                                               Um dia, por fim, a faxineira  encontrou um bilhetinho no criado mudo, junto ao copo de 1080  que pendia de uma mão inerte:
                                               “Eu , como qualquer  simples mortal, era  edifício construído com caibros e ripas de poucas  virtudes e linhas, colunas e pilastras de muitos defeitos. Um dia resolvi, inadvertidamente,  derrubar a viga mestra de imperfeições que sustentava toda estrutura do prédio .  Ruí!”


Crato, 22/08/14 

A "hospedeira" - José Nilton Mariano Saraiva

Mais cedo do que se esperava, começou a célere e irreversível “debandada” no PSB, em razão do partido ter aceitado servir de “barriga de aluguel” para a candidata Marina Silva, de olho numa possível repetição da sua votação passada (o que acreditamos que não ocorrerá, quando ficar evidente que ela não tem “nada de diferente” dos políticos tradicionais).
O primeiro a “se mandar” foi um dos fundadores do partido e atual coordenador-geral da campanha do PSB, Carlos Siqueira, que houvera sido nomeado para a função pelo falecido Eduardo Campos. E saiu “tiririca da vida”, acionando sua metralhadora giratória em todas as direções, ao afirmar que Marina Silva “está longe de representar o legado de Campos”, já que ela quer mesmo é “mandar no partido”, mas que “como hospedeira da instituição, deveria respeitá-la”.
Também por discordar do novo caminho a ser trilhado pelo partido sob Marina Silva (ditado por mera conveniência eleitoral), o então coordenador de mobilização e articulação da campanha, Milton Coelho, igualmente indicado por Campos, pegou o bonezinho e... “fui”, presumivelmente por também corroborar da idéia de que Marina Silva está longe de representar o legado de Campos.
A verdade é que, se no primeiro momento da homologação de Marina Silva como candidata do PSB à Presidência da República a coisa já “fedeu’ tanto, é fácil imaginar que a “tempestade” braba que derrubou o avião de Campos parecerá um “chuviscozinho” qualquer, ante o que vem por aí, em termos de rebelião interna no PSB, se considerarmos o recado deixado por Siqueira: “Ela que vá mandar na Rede dela, porque no PSB mandamos nós”.
Só assim, quando o “pau começar a troar e torar” pra valer dentro das hostes pessebistas, pode ser que os eleitores em geral finalmente descubram (antes tarde que nunca) que o “animal político Marina Silva” não tem “nada de diferente” dos políticos tradicionais.
Afinal, ao “alugar” um partido político objetivando única e exclusivamente tentar a viabilização do seu desejo messiânico de galgar à Presidência da República, Marina Silva desdiz tudo o que houvera pregado até dias atrás: que os “partidos políticos” não passam de “ajuntamentos” de conveniências. Daí sua tentativa fracassada de fundar a sua “Rede Sustentabilidade”. Pois, por paradoxal que seja, Marina Silva é agora oficialmente a candidata do PSB. Por um "partido", sim senhor.
O fato irrecorrível e que não se pode escamotear é que, ao invés de “somar”, em sua chegada Marina Silva “divide”. E nem bem o embate começou, o PSB fragiliza-se, perde identidade e sai ferido gravemente. A prova é cristalina e “palpável”, para não deixar ninguém se enganar: são dois “graduados” quadros da instituição que se vão, dois “históricos” do partido que, em nome da coerência, abdicam da posição de realce que conquistaram dentro da instituição ao longo dos anos, mas que corajosamente optam pela orfandade partidária  (não há mais tempo de adesão a uma outra agremiação e eles certamente não aceitariam fazê-lo).



quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Capitão do Mato Virtual

                                                             J. Flávio Vieira 

                                         Em meio ao denso nevoeiro dos trágicos acontecimentos destes últimos dias, fica sempre difícil se perceber bem os detalhes das múltiplas imagens e situações que se vão projetando , quase que estroboscopicamente, à nossa frente.  Em meio à maratona eleitoral, então, quando os ânimos naturalmente se acirram de lado a lado, a visibilidade se torna bem mais prejudicada. A perda repentina de Eduardo Campos, numa dessas catástrofes típicas dos nossos sangrentos agostos, abate-se sobre o país com estardalhaço. Desaparece uma das mais promissoras carreiras políticas do Brasil, em tempos de escassez de novas lideranças, de novos discursos. Eduardo encarnava o novo, percebia, claramente, que dificilmente este ano seria o seu, mas plantava sementes para  colher um pouco mais adiante. O Nordeste viu-se tolhido duplamente : Eduardo conhecia de perto nossas vicissitudes e agruras. O Cariri, então, viu-se ferido triplamente :  saiu de cena  um grande político brasileiro e nordestino, com profundas raízes fincadas no Sul Cearense.
     
                                   Como sempre, em meio à tragédia que se arrastou por toda semana, a comoção tomou de conta do país. O brasileiro tem  em si este estado de comiseração epidêmico. É do nosso feitio absorvermos , rapidamente , as tragédias nacionais, trazendo-as para dentro da nossa casa. Foi assim com Tancredo, com Getúlio, com Ayrton Senna. A Mídia, por sua vez, de olho na audiência, nem sequer consegue maquiar o prazer quase sádico em veicular, reiteradamente, as notícias mais tenebrosas. Sempre vesga, com um olho no gato e outro no peixe, faz ampla e interminável cobertura dos fatos, sem tirar o foco, porém, no outro lado da moeda : quem vai se beneficiar, politicamente, do inesperado acidente. Aí, claro, sempre puxa a brasa para sua tilápia: o poder econômico que lhe dá sustentação e, esse se associa, explicavelmente,  ao que há de pior e mais retrógrado na política brasileira ( a Direitona que há cinco séculos mama nas tetas públicas e esperneia quando alguma gotinha escapa por acaso e cai na boca do povão). A dor incomensurável da família ninguém respeita, fica sempre em segundo plano, vale o espetáculo midiático. A comoção do povo , às vezes multiplicada, esta é sempre verdadeira, mas serve-se como recheio de notícias, como pano de fundo ao que interessa, como catapulta a futuras  intenções  de votos.
                                   Há um outro lado, mais perverso e sádico que costuma acompanhar nossas grandes tragédias. Depois de alguns dias, quase que fincando um marco do fim do luto, começam a aparecer as famosas piadas de humor negro. Os psicanalistas talvez tenham uma resposta melhor para esta prática. Possivelmente, depois de um período de tristeza coletiva, o humor venha, por fim, fazer com que as coisas voltem ao normal, que o riso possa novamente aflorar nos lábios, que as catástrofes possam ser engolidas como um mero tropeço no trajeto  da humanidade.
                                    Este ano, no entanto, por conta do acirramento da campanha , no entanto, piadinhas de mal gosto, carregadas do mais negro  e despropositado humor, começaram a pulular, nas Redes Sociais quase que imediatamente.  Elas faziam um contraponto importante à consternação generalizada por que foi tomado o país. E, aí, surge uma pergunta inevitável ? Quais são os limites do Humor ? Tem-se o direito de brincar e fazer chacota com a dor alheia, sem respeitar o luto das famílias? Podemos fazer piadas sexistas, homofóbicas, racistas ? Não estaríamos, com isso,  desrespeitando pessoas ou alimentando chagas e preconceitos que a modernidade busca firmemente combater? Além de tudo, uma coisa é contar uma anedota numa mesa de bar e outra é divulga-la nas Redes Sociais, ao alcance de um número infindável de internautas.
Todos sabem que gosto de escrever textos de humor. Acredito, no entanto, que devem existir critérios éticos . Sei que nado contra a corrente e que os comediantes da atualidade têm a forte convicção que não há limites para a comédia. Pois bem, acredito que ninguém tem o direito de ser achincalhado, pessoalmente, por quem quer que seja. Sou contra, por exemplo, numa peça de teatro ou num show, se utilizar um espectador como bode expiatório, sem o seu expresso consentimento: parece-me sempre isso uma grande falta de criatividade.  O humor em cima de instituições, aí sim, tira-se a impessoalidade: fale-se do Governo, da Previdência, da Câmara de Deputados, do Senado. Corte-se, também, a rotulação, o grande motor de qualquer arraigado preconceito : todo judeu é avarento, toda bicha promíscua, toda loura burra. Isso apenas ajuda a solidificar segregações perniciosas e  seculares.     
   No caso específico do prematuro desaparecimento de Eduardo Campos, o humor negro demonstrou, claramente, que junto ao povo humilde e simples do Brasil, continua a existir uma elite perversa que persiste lutando pela manutenção da escravidão e solta seus capitães do mato, agora, nas selvas virtuais.

Crato, 19/08/14


terça-feira, 19 de agosto de 2014

Premonição ??? - José Nilton Mariano Saraiva

Dentre os significados e/ou definições para a palavra “premonição”, o Dicionário Houaiss (página 2288) nos ensina tratar-se de... “acontecimento que deve ser tomado como aviso, presságio, advertência” ou ainda... “sensação, pensamento, sonho, visão, etc. do que está para ocorrer” (ipsis litteris).

A transcrição acima, nos remete à divulgação pela televisão de um vídeo colhido menos de dois meses atrás, e só divulgado agora, após o acidente fatídico onde o presidenciável Eduardo Campos acabou por perder a vida, em razão de um desastre aéreo até agora não explicado.

Pois bem, ali vemos o presidenciável chegando apressado a uma reunião política na Associação Comercial de Maringá-PR, quando, ainda de pé, se desculpa pelo atraso de cerca de duas horas. Ao tomar assento à mesa, de viva voz expõe e esmiúça aos presentes a razão da demora: é que o avião que usaria no trajeto Londrina-Maringá simplesmente havia apresentado uma pane elétrica na hora da decolagem, daí ter que fazer o percurso entre as duas cidades, via terrestre.

Bem humorado, brinca com a ocorrência e conclui sorrindo: “ainda bem que foi em solo; imaginem se já tivesse decolado”

Pois é, o avião contratado para servi-lo durante toda a campanha por esse Brasilzão afora continuou sendo usado diuturnamente (talvez sem uma revisão mais rigorosa) e... deu no que deu.


O aviso fora ignorado.  

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

"Nada de diferente" - José Nilton Mariano Saraiva

Em 13.08.14, o jovem candidato à Presidência da República, Eduardo Campos, teve seu sonho interrompido de forma abrupta e violenta, ao ser vitimado na queda do avião que o transportava para um ato político, em Santos-SP.

Quatro dias depois (em 17.08.14), foi velado e enterrado na sua querida Recife. Nesse interregno (14 a 16.08.14), o jornal Folha de São Paulo houve por bem mandar seu pesquisadores às ruas a fim de auscultar a população sobre em quem pretendiam votar na eleição que se realizará daqui a menos de dois meses. Só que com um detalhe: já estampando o nome de Marina Silva como substituta de Campos, embora nem homologada pelo partido sua candidatura, ou seja, no auge da comoção fúnebre pela morte do candidato. Tabulados os dados, o resultado não poderia ser outro: Marina Silva suplanta Aécio Neves (despachando-o da corrida presidencial ???), e ameaça a então líder, Dilma Rousseff.

Ora, quem acompanha o noticiário político tomou conhecimento que meses atrás Marina Silva literalmente “detonou” todos os partidos políticos, por considerá-los um ajuntamento de pessoas com interesses não tão republicanos, daí sonhar em fundar a sua “Rede Sustentabilidade”, que seria algo diferente, conforme adiantou. Nunca, jamais parecida com um partido. A partir da própria denominação: “rede” e não “partido”.

No entanto, por não atender às exigências da legislação eleitoral, viu sua pretensão obstada e, então, esquecendo tudo o que dissera e declarara publicamente sobre os “partidos políticos”, Marina Silva  escolheu e filiou-se ao minúsculo PV, concorrendo à Presidência da República, obtendo surpreendentemente quase 20 milhões de votos.

Agora, de olho na possibilidade de “herdar” tão estupenda votação, o PSB se dispôs a funcionar como “barriga de aluguel” para Marina Silva, oferecendo-lhe o lugar de “vice” na chapa encabeçada por Eduardo Campos. E aí, picada pela mosca azul, Marina Silva mostrou que não tem “nada de diferente” dos políticos tradicionais e se prostituiu de vez (por mera conveniência pessoal), já que, por paradoxal, individualmente tinha o dobro das intenções de voto do próprio Eduardo Campos, candidato cabeça-de-chapa.  

E, como até hoje, tirante a questão ambiental ninguém sabe o que pensa Marina Silva a respeito das questões “macros” do país (metas inflacionárias, economia internacional, política energética, parceiros preferenciais, pré-sal e por aí vai) o melhor mesmo é não se deixar levar pelo “voto-comoção” e esperar que Marina Silva, se realmente for a candidata-herdeira, se desnude nos debates que virão mais à frente. Aí, veremos quem é quem.

Além do que e por enquanto, será interessante observar se os “falcões” do PSB aceitarão de bom grado que ela se eleja pelo partido e abandone-o mais à frente para fundar a sua “Rede Sustentabilidade”, como já o declarou em mais de uma oportunidade. Sem dúvida, uma desmoralização pública para o PSB, ou o atestado inconteste de “sigla de aluguel”.

No tocante à pesquisa do DataFolha, não há como não considerá-la “tendenciosa”, face ao inapropriado período em que se realizou: quando ainda se processavam as buscas pelos restos mortais do candidato e mesmo durante o seu velório. Claro que isso foi determinante para se chegar ao resultado hoje divulgado.


Assim, independentemente dos atores políticos envolvidos, resta-nos esperar pra ver se o “voto-fúnebre” prevalecerá nesse interstício de dois meses até a eleição. Uma coisa é certa: muita água ainda vai rolar por baixo dessa ponte.

sábado, 16 de agosto de 2014

Derrotado, mas... Vitorioso - José Nilton Mariano Saraiva

A “prova mais que provada” de que é possível se sair vitorioso, mesmo tendo passando por uma humilhante e vexatória derrota, nos foi dada recentemente após o desastre acontecido com a seleção brasileira de futebol, nos 7 x 1 que a Alemanha nos impôs sem nenhuma dificuldade, sem dó nem piedade.

É que, compreensivelmente pressionada pela mídia e torcedores brasileiros, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF), à frente seus corruptos dirigentes, houve por bem demitir sumariamente todos os componentes da comissão técnica (convocando uma outra a peso de ouro), porquanto a repercussão negativa (inclusive internacional) foi de proporções amazônicas.

E como os integrantes dessa tal comissão técnica tinham um vínculo contratual de trabalho que só se expiraria lá na frente, a quebra de tal vínculo, de forma abrupta e unilateral, evidentemente que caracterizou demissão “sem justa causa”, daí os atingidos terem direito à indenização prescrita na lei trabalhista.

E aí, de forma absolutamente legal, transparente e incontestável, o técnico Felipão e o supervisor Parreira (principais responsáveis pela escalação equivocada do time) “lavaram a burra”, já que embolsaram cada um cerca de R$ 4.100.000,00 (quatro milhões e cem mil reais) o equivalente a 612 salários mínimos ou a 51 anos de trabalho de um mortal-comum), enquanto os demais integrantes perceberam valores menos significativo, mas mesmo assim expressivos.

Trata-se, ou não, de uma “vitória... na derrota” ??? Ou alguém se importaria de ser derrotado se ao final saísse com uma grana dessas no bolso ???



quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O "garanhão" holandês - José Nilton Mariano Saraiva

Visualmente, ele não tem nada de especial ou que chame a atenção da mulherada: barriga tipo tanquinho, óculos fundo de garrafa e um tanto quanto desengonçado devido à altura, o holandês Ed Houben de repente virou celebridade, tornou-se um verdadeiro pop star, atração por onde anda, em razão da nova e interessante profissão que adotou: potencial “reprodutor humano” (tanto que apareceu no “Fantástico”, da Globo).

Sem cobrar nada, mas unicamente imbuído em “prestar favor”, ele vem ajudando mulheres de todo o mundo a engravidar, naquilo que ele considera “um dever moral”. A condição é uma só: que a “operacionalização” se dê através do método tradicional, ou seja, via prática do “ato sexual”. Magnânimo, para Ed não há nenhum tipo preferencial de mulher: pode ser alta ou baixa, negra ou branca, gorda ou magra, rica ou pobre, cabelo liso ou pixaim e por aí vai.

E a “coisa” parece que “pegou” de vez e de uma  forma tal, porquanto o distinto já engravidou mulheres na Holanda, Alemanha, Bélgica, Luxemburgo, Inglaterra, Itália, Israel, França, Áustria, Canadá e Vietnã (de tais encontros, garante o próprio, já vieram ao mundo mais de 100 (cem) filhos).

Pois bem, a fama do distinto é tanta que recentemente Ed “pintou” no Brasil a fim de atender pedidos de mais de 100 (cem) mulheres no eixo São Paulo-Brasília-Rio de Janeiro (e a próxima parada, já agendada,  será na longínqua China, onde já foi requisitado por dezenas de mulheres).

Todo gabola e picado pela mosca azul, o cosmopolita GARANHÃO HOLANDÊS garante que a qualidade e a quantidade dos seus espermatozóides são acima do normal, mas que... “essa rotina é muito estressante, já que eu perco um tempão nisso” (será que tá “abusando da fruta"???).

E atenção para o detalhe: o único custo para as mulheres que têm interesse em “encomendar” um rebento robusto e saudável é fornecer-lhe passagem e estadia. Só isso, nada mais.


E aí, será que Ed Houben deixará algum fruto por aqui ??? As mulheres cearenses vão encarar ??? 

Que tal curtirmos John Lennon - Woman

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

terça-feira, 12 de agosto de 2014

E haja "reciclagem" - José Nilton Mariano Saraiva

Ricos, porém velhos, decadentes, cansados e normalmente “bichados” (condição física comprometida) e, portanto, sem mais nenhuma condição-disposição para se submeter às exigências do profissionalismo vigente no futebol europeu, muitos dos jogadores brasileiros que atuam no “velho continente” são compreensivelmente premiados com o “bilhete azul”, representativo de que não mais interessam (ou que o mercado pra eles “já era”).

Só então, após despachados sumariamente dos respectivos clubes, não lhes resta alternativa senão lembrar que... o Brasil existe, daí voltar ao torrão natal (após anos) se lhes apresenta como única alternativa; e, para tanto, a alegativa hipócrita de que “amam o Brasil” e/ou que estavam “morrendo de saudades” da terrinha, e outras baboseiras mais.

Para tanto e sem nenhum escrúpulo, necessário valer-se dos amigos que militam na mídia esportiva tupiniquim (via oferta de propinas vultosas), objetivando anunciá-los como “reforço imprescindível” para aquelas agremiações que almejam cacifar-se a algum título em disputa. E como o futebol brasileiro adora uma “reciclagem” (???), tome leilão prá lá e pra cá, visando resgatá-los. E, por incrível que pareça, percebendo um salário respeitável, ou “top de linha”.

E haja enganação, a começar pela condição física deplorável, que não lhes possibilita atender às expectativas de dirigente e torcida. Não é preciso nem que entrem em campo, para que isso fique comprovado. O tal Kaká, por exemplo, contratado recentemente pelo time do São Paulo e anunciado como uma espécie de “salvador da pátria”, teve a estréia adiada... por um problema físico; posteriormente, entrou em campo uma única vez e já voltou ao Departamento Médico do clube, em função de uma lesão crônica na "batata-da-perna" (que os elitistas conhecem por panturrilha), diagnosticada já há anos, mas convenientemente escondida pra viabilizar seu retorno.

Já o “ciclista-palhaço-futebolista” Robinho (também em condição física suspeita), depois do fracasso monumental e fragoroso na Espanha, Inglaterra e Itália (onde serviu mais pra “divertir” os colegas que propriamente jogar bola), voltou às origens (Santos Futebol Clube) e a primeira providencia foi tratar de autopromover-se para a estréia contra o rival Corinthians (acabou não fazendo nada e saindo antes do final em razão de... problemas físicos).

Mas, como quem tem muito, avidamente sempre almeja mais e mais, e o futebol brasileiro está repleto de dirigentes mafiosos que ganham rios de dinheiro com essas desonestas transações (que o diga o senhor Gilmar Rinaldi, novo manda-chuva da seleção brasileira) depois de enganar por aqui, nada como aventurar-se (nem que se amparando em muletas) em países emergentes no futebol, mesmo que localizados no “fim do mundo” (o Oriente Médio e o Casaquistão, por exemplo), que ainda os recebem de braços abertos e como grande “atração”.  E aí, haja farras homéricas, drogas em abundância, desvarios mil, excessos de toda ordem, e por aí vai. E quando, finalmente, a “bateria” definitivamente não mais funciona, sempre há a possibilidade de serem contratados como “auxiliar” de algum ex-colega de profissão que encontrou um jeito de “treinar” alguma equipe por aqui.

Pois bem, enquanto os europeus investem na “base” (vide a Alemanha),  com resultados comprovadamente auspiciosos, o Brasil prefere trazer de volta esses "enfermos medalhões" da vida, que nada têm a oferecer. É assim, sem tirar nem por, que se processa e funciona a “reciclagem” (???) futebolística brasileira. 

E ainda reclamam dos resultados. São uns desonestos, definitivamente.


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Dom Pompom e o Velho Testamento

                                               Pompílio Evangelista de Mendonça carregava, junto ao nome pomposo, uma personalidade não menos respeitável. Atarracado, corpulento, voz de barítono, falava pausadamente como um bluesman. Nunca se o viu alterado, levantando a voz, discutindo ou tentando ganhar embates com sua retórica. De gestos largos, abraçava longamente a todos que o procuravam, com uma lhaneza de trato difícil de se encontrar naqueles confins de Matozinho. Extremamente bondoso, caritativo e solícito, nosso amigo atendia com muita presteza a tantos que o procurassem.  Dir-se-ia falar-se com um bispo ou um cardeal quando se procurava Evangelista, talvez, por isso mesmo todos o conhecessem por Dom  Pompom.
 
                                   Pompílio chegara em Matozinho há uns vinte anos e vivia tocando uma fazendola onde criava gado, bodes e carneiros. Morara em várias cidades , anteriormente, e comentava-se, a boca miúda e com cuidados redobrados,  que o passado do nosso bispo popular contradizia sua postura tão fina e recatada. Balbuciava-se, aqui e ali, que fora pistoleiro de aluguel dos mais afamados e que atrás daquela figura delicada e afável escondia-se uma cascavel de doze guizos.  Isso , de falar por falar, saltava, algumas vezes de algumas línguas bífidas da Vila. Para a mor parte dos matozenses, no entanto, estas questiúnculas nem interessavam, até porque todos gostavam da figura honrada  do velho Evangelista. Apesar da divulgada folha corrida de Pompom, as pessoas o amavam mais por reconhecimento que por temor.
                                   Sabia-se por ali que a família de Pompílio era um verdadeiro clã. Tinha parentes e aderentes espalhados por todo o estado e que se ajudavam mutuamente. Mexer com qualquer um deles, ofender alguma filha dos Mendonça era cutucar nu uma caixa de marimbondo de chapéu. De repente, sem que ao menos se esperasse, lá vinha uma bala perdida, um carro desgovernado, uma pedra rolando da ribanceira: tum ! No dia do velório lá estava nosso Dom Pompom, cabisbaixo, choroso, cumprimentando todos os familiares e se pondo à disposição para desvendar o crime ou acidente tão pavoroso.
                                   Contava-se dele, um caso exemplar. Soledade, a sua primogênita , casou com Pergentino, um sujeitinho meio boêmio, chegado a um carteado e a um violão. O pai nem queria o casamento, torceu o nariz, mas Soledade fincou pé e não teve como retroceder. Entrado na família, ele passou , imediatamente, a gozar da imunidade diplomática dos Mendonça.  Casava e batizava, seguro de que tinha guarda-costas. Pergentino chegava bêbado em casa e gostava de bater na esposa. Pompom soube das lapadas frequentes, mas não se meteu : ela é que tinha escolhido aquele caminho. O problema é que um dia, a surra foi tamanha que Soledade procurou o pai , em prantos, com a cara inchada e o braço quebrado : não aguentava mais tanta peia. Dom Pompom ouviu-a calmamente e informou que sabia de tudo mas não quisera meter a colher de pau naquele angu de caroço. Agora, que ela o procurara, sim, prometeu resolver a questão. Consta dos anais de Matozinho que nosso bispo contratou um pistoleiro e pediu que resolvesse a questão. Acertou o preço: R$ 2000,00. Deu-lhe a metade e combinou hora e local, para depois da consumação do fato, se encontrarem para o restante do pagamento. Dito e feito. Pergentino estava todo serelepe no Bar do Giba, de violão em punho, entoando “A Deusa da minha rua”, quando um sujeito entrou tranquilamente no bar, disparou um único tiro a queima roupa, no cocuruto de Pergentino,  e saiu como se nada tivesse acontecido. Soledade quase enlouquece, nunca imaginara que o tratamento seria tão radical, mas calou o bico. Dom Pompom, então, procurou a polícia e , visivelmente abalado, disse-lhes que tinha informações de onde estava o assassino. Prometeu-lhes , então, uma gratificação de quinhentos reais, sob uma condição: não queria que o atirador escapasse. A polícia concordou. Pompom, então, deu o local e a hora exatos que havia combinado com o pistoleiro para o recebimento da outra metade. A polícia já chegou atirando: o homem havia resistido à prisão.
                                   Sulpício Mendonça, filho mais novo de Pompílio, sempre foi chegado aos livros. Estudou com afinco e terminou se formando em advocacia. Daí para juiz foi um pulo. Assumiu em Bertioga.  Sulpício sabia  do passado  paterno, mas sempre o respeitou, embora admitisse, para si mesmo, que a profissão que escolhera , certamente, era uma espécie de contraponto ao obscurantismo contravencional da família. Quisera trazer algum ar de legalidade à família.  Dr. Sulpício fez carreira meteórica por ali. Brevemente se esperava uma promoção : ele deveria assumir uma Vara importante na capital.
                                   Um belo dia, Dr. Sulpício participou do julgamento de uma facínora que havia assassinado as próprias  esposa e a filha. Acabado o júri , o réu pegou vinte e cinco anos de xilindró. Ao ouvir a sentença, revoltado,  ele ameaçou:
                                   --- Doutor, reze para eu passar muito tempo no xadrez, viu ? Quando eu sair, o senhor vai me pagar. Se eu matei até a minha , que dirá a sua ! Acabo com você e sua família, seu miserável !
                                   Sulpício já estava acostumado com ameaças, de maneira que nem levou muito em conta o desabafo do assassino. Ficou , no entanto, mais  encafifado que aliviado quando, três dias depois, soube que o sentenciado tinha sido morto na cela, com mais de cinquenta perfurações de cossoco. Desconfiou que Dom Pompom poderia estar por trás daquela solução tão radical. Procurou o pai e sondou-o. O velho, pausadamente, informou que tinha mexido os pauzinhos e resolvido a pendência. Sulpício agitou-se:
                                   --- Papai, não acredito ! Não precisava esta loucura! Eu sou a justiça ! Não estamos mais nos tempos das cavernas ! Meu Deus !
                                   --- Meu filho, mas aí,  já não estava mais na sua jurisdição!
                                   --- Como não, papai ! Eu sou juiz! Lembra ?
                                   Dom Pompom, então, mostrou as rígidas regras do seu  velho testamento:

                                   ---- Meu filho, você é formado em Letras ! Eu é que sou formado em Tretas, viu ?

sábado, 2 de agosto de 2014

"Passividade" rima com "Covardia" ??? - José Nilton Mariano Saraiva

Lembram da velha máxima, segundo a qual “cão que ladra não morde” ??? Pois bem, não é de hoje que o senhor Ciro Gomes insulta, agride e destrata aqueles que não rezam pelo exótico receituário-hipócrita do seu deturpado catecismo-político. E assim o faz porque, esperto e sabedor que determinado segmento da imprensa política deste país adora fanfarrões, pseudo-valentões e especialistas em plantar boatos, diuturnamente usa e abusa do artifício de provocar metade do mundo e a outra banda, objetivando estar sempre em evidência nas manchetes dos jornais. E como até aqui a passividade (ou covardia) dos atingidos é uma triste realidade, pra que mudar ???

Mas, eis que agora Ciro Gomes (também conhecido por “Ciro-tapioca”, por trocar - ou virar - de partido com a recorrência de quem muda de roupa) parece que encontrou uma tampa para o seu penico, na pessoa do ex-deputado, ex-prefeito de Maracanaú e atual candidato a vice-governador na chapa do senhor Eunício Oliveira, senhor Roberto Pessoa, que de há muito contesta com acidez os Ferreira Gomes. 

Fato é que, presumivelmente escalado pra se contrapor ao linguajar baixo e chulo do Ciro Gomes, em resposta às pesadas críticas que este houvera dirigido ao “cabeça-de-chapa” Eunício Oliveira, tachando-o de “aventureiro, lambaceiro e mentiroso” (e que teria “enriquecido de forma ilícita”), Roberto Pessoa, que não leva desaforo para casa, afirmou simplesmente (de forma até “cândida”, por paradoxal que pareça), que... “não discuto com drogado”.

Como não foi a primeira vez que tão séria e contundente acusação foi feita (sem que se conheça alguma contestação do atingido, na esfera judicial, pelo menos publicamente), cabe questionar: 1) a fala (pública e sem resposta) do senhor Roberto Pessoa, sinaliza e aponta serem pertinentes suas acusações contra Ciro Gomes, no tocante ao uso de drogas ???; 2) os recorrentes ataques apopléticos, seguidos de evidentes demonstrações de instabilidade emocional, que levam Ciro Gomes a descomposturas verbais dignas de um esgoto, seriam motivadas pelo uso de drogas ???

Pra complementar, não esquecer que o senhor Gaudêncio Lucena, sócio e coordenador-mor da campanha de Eunício Oliveira, que também houvera sido atacado por Ciro Gomes, colocou sua honestidade em dúvida, ao questioná-lo como se mantém (ou como vive nababescamente), já que há algum tempo “desempregado” e sem qualquer fonte de renda.


Alfim, como estamos apenas no começo da disputa eleitoral, a expectativa é se saber se nos próximos dias teremos alguma tréplica por parte de Ciro Gomes, porquanto uma outra velha máxima nos ensina que “quem cala consente”. 

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Forró das Bolas Dentro

J. FLÁVIO VIEIRA



                                               Não deu outra. Mal Sinderval Bandeira, prefeito de Matozinho, soube da realização do Copa do Mundo aqui no Brasil, ficou todo serelepe. Cedo começou a mexer seus pauzinhos, a futucar os políticos a ele alinhados, no estado; a cutucar o vazio dos deputados federais que foram apoiados, por sua administração. O sonho era fazer de Matozinho uma das cidades sede da World Cup. Far-se-ia, claro, necessário  fazer uma reforma ampla no estádio “Sinderzão”,com capacidade atual para 2000 torcedores,  melhorar a infraestrutura da vila, mas nada impossível, principalmente vindo dinheiro das estranjas. Antes mesmo de avançar nos primeiros passos, com o ovo ainda entalado no fundo da galinha,  Sindé, através da sua amplificadora -- os puxa-sacos locais-- já fez espalhar pelas redondezas , a notícia. E o povo já ficou mais agitado que picolé em boca de banguelo. Vendedores de rolete de cana, de din-din, de pipoca , passa-raiva e filhós sonharam, imediatamente, com um substancial incremento na venda dos seus produtos. As pensões de Matozinho, então, começaram a se mobilizar , no sentido de melhorar e ampliar suas acomodações. E o professor de inglês do Grupo Escolar Cacildo Jurumenha, conhecido como “Tobias or not Tobias”, imediatamente iniciou uma turma noturna, especial, para todos aqueles que se interessassem em aprender a língua inglesa, para melhor comunicação com os turistas.
                        Com o andar da carroça, no entanto, Sinderval começou a perceber que seu sonho ultrapassava os limites da realidade. Nem mesmo a capital do estado conseguiu se tornar sede da Copa, como diabos Matozinho poderia alimentar tamanha pretensão?  O enlevo alimentado pela Vila, no entanto, não podia ser tolhido de uma vez, sob pena de trazerem consigo suas indigestas consequências políticas. Sinderval, assim, foi comendo pelas beiradas, como quem degusta prato de angu quente. Espalhou, de início, que as verbas para ampliação do estádio tinham atrasado, depois que o pessoal da FIFA estava reestudando a divisão das sedes, por fim, jogou a culpa na administração estadual que por incúria e má gestão, havia prejudicado todo o estado, com a perda de tão importante evento. O povo que foi degustando o purgante, pouco a pouco, terminou por esquecer o amargor do remédio nas últimas doses.
                         Como prêmio de consolação, Sinderval resolveu organizar uma espécie de FIFA FUN FEST local. Botou um telão no meio do “Sinderzão”, contratou sanfoneiro, cobriu o estádio de bandeirolas verdes-amarelos e estampou acima do telão um nome mais regional : “Forrozão das Bolas Dentro”. A cada jogo do Brasil, reunia-se toda Matozinho no estádio , logo cedo, começava-se o tarrabufado até a hora do jogo e, terminado o espetáculo com a invariável vitória da nossa seleção, o rela-bucho continuava noite adentro. Matozinho virou uma festa até o fatídico jogo da semifinal.
                                   Naquele dia, quando começou o bombardeio de gols contra nosso escrete, o povo se revoltou e o pau comeu no centro. Antes que a desgraça se fizesse completa, depois do terceiro gol, os matozenses rasgaram o telão de cima abaixo e quebraram , por completo, o aparelho de retransmissão. Para todos os efeitos, assim, em Matozinho pelo menos, o Brasil perdeu da Alemanha de 3X0. Houve apenas uma exceção a esta regra.
                                   O velho Vanderico Salustiano estava na capital no dia da goleada e assistiu por lá nossa derrocada. Voltou capiongo e com o humor mais baixo que diferencial de cururu. Não comentou nada com ninguém, fechou-se como pequi verde. Uma semana depois teve uma congestão: morreu-lhe o lado esquerdo e ficou com a língua trôpega. Chamaram Janjão da botica que prescreveu a meizinha milagrosa:
                                   --- Tem que tomar Aguardente Alemã: uma gota ,  pelo menos sete vezes ao dia !
                                   Ao ouvir a prescrição, Vanderico entreabriu os olhos e, língua presa, suplicou:
                                   ---- Alemã? Alemã? Não ! De sete a um de novo, não !
                                   E bateu a caçoleta.


Crato, 01/08/14