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sábado, 25 de fevereiro de 2012

O Universo Neoliberal em Desencanto – Entrevista com José Carlos de Assis e Francisco Antonio Dória. Parte II

O que leva vocês a pensar que o Neoliberalismo não renascerá no fim da atual crise. Diz o economista José Carlos de Assis: Olha eu cometi até uma imprudência por que eu disse que o Neoliberalismo estava morto. Pelo menos enquanto ideologia organizadora da sociedade. Eu até cheguei a escrever isso num outro livro meu chamado a crise da Globalização. Eu achava que enquanto ideologia realmente ele ia sobreviver. Por que ideologia não morre, por que tem gente que acredita em horóscopo tem que acredita em ideologia as mais, anarquismo, coisa que aparentemente estariam ultrapassadas, mas que sobrevivem na memória coletiva e que de repente sobressaem. A sobrevivência ideológica do neoliberalismo é possível, ela é real. O que eu achava que não ia acontecer é a sobrevivência, pelo menos no curto prazo, da ideologia como uma instância organizadora da sociedade e das economias. No entanto ele está reaparecendo nessa condição. Talvez um pouco devido à incompetência de nós, a nossa incompetência como pessoas progressistas, sobretudo, em formular uma alternativa ao capitalismo ultra liberal. Eu não acredito que o capitalismo vá acabar. Essa crise não vai acabar com o capitalismo. O capitalismo está entranhado em toda a sociedade, em todas as sociedades, o capitalismo está entranhado na Ásia, está entranhado na Europa. Não vai acabar. O que vai acabar e que certamente tem que acabar é o neoliberalismo econômico. Ou o liberalismo radical em economia. Isso é o que tem que acabar para passar para um novo estado, uma nova situação, que é o capitalismo regulado. Esse capitalismo regulado, há uma coisa estranha por que os progressistas com medo de acolherem a idéia de que você tem que aceitar o fato de que o capitalismo em suas bases vai continuar, eles não conseguem formular o quê que é a prática real e a prática política do capitalismo regulado. Coisa que é até relativamente fácil por que ele aconteceu. Você teve um momento de capitalismo regulado, sobretudo na Europa. Você pega um país como a França. A França 66% do PIB é setor público. Na Alemanha que todo mundo diz é um país liberal coisa e tal, 56% é governo. São países altamente regulados, agora na verdade eles estão tentando destruir esta base de regulação. Mas isso é um modelo, ao contrário, é um modelo a ser seguida. É um modelo de sociedade. Em relação a isso é que eu acho é que a gente tem que destruir realmente o que resta de ideologia neoliberal como reguladora do sistema mundial e propor uma alternativa real em termos de sociedade e em termos de economia.

Agora o professor Francisco Dória: Eu vou ser curto e grosso. A diferença entre uma coisa e a visão alternativa. A visão Neoliberal e a visão alternativa, que no caso é a economia fundamentos Keynesianos pode ser resumida da seguinte maneira. A ênfase no caso neoliberal é a proteção aos fluxos financeiros, a liberdade dos fluxos financeiros, a liberar dos sistemas financeiros, a liberdade dos bancos, vamos ser pejorativos. Enquanto que a teoria Keynesiana está sintetiza no título da sua grande obra: Teoria Geral do Emprego, dos Juros e da Moeda. Do emprego, o ponto central é o emprego. Qual é a parte mais visível da crise européia? O desemprego. Qual a parte mais visível da crise a americana? O desemprego. E a resposta está dada na teoria econômica Keynesiana que está aí desde mil novecentos e trinta e tanto.

Professor José Carlos de Assis a crítica de vocês aos bancos centrais independentes. Não seria pior ela sobre o comando de políticos demagógico? Bom isso aí tem que ser esclarecido por que é outro ponto ideológico extremamente relevante na empulhação que se faz da política econômica contemporânea. Ninguém é contra um banco central operacionalmente independente. Qualquer agência pública tem que ser operacionalmente independente. Você tem uma agência de regulação de telefonia, na operação dela ela tem que ser independente por que ela é quem conhece os detalhes técnicos da operação do setor. Então a gente é a favor de um banco central operacionalmente independente. O que a gente é contra é um banco central politicamente independente no sentido de que seus objetivos políticos sejam muito restritos. O Banco Central Europeu que foi construído em plena hegemonia do pensamento neoliberal só tem um objetivo: controlar, regular a inflação. Enquanto o Banco Central Americano, é uma sociedade muito mais, sobretudo a elite da sociedade americana tem uma participação muito maior nos lobbies políticos e não ia deixar isso na mão de segmento de banqueiros apenas. O banco central americano que é o FED tem como objetivo....tem três objetivos centrais. Controlar a inflação sim, mas tem também, fornecer à economia os recursos necessários à expansão da economia e em terceiro lugar, promover o emprego máximo. O nosso banco central tem como objetivo único controlar a inflação. Então em nome do controle da inflação ele pode fazer qualquer coisa, inclusive uma taxa de desemprego cavalar. Isso é que a gente é contra. Esse tipo de Banco Central que é uma criação, sobretudo dos anos 80 para cá, teve um sucesso no mundo inteiro. Que foi um pouco que a gente for discutir mais um pouco, a causa disso, é mais uma vez a proteção da riqueza. Financeira. Quando você tem um banco central que não se preocupa com o emprego é um banco central restritivo que reduz a disponibilidade de dinheiro na economia e, portanto, só protege os interesses de quem já tem dinheiro. E não dos que não têm dinheiro.

Professor Antonio Dória existe este conflito entre banco central independente versus banco central subordinado aos políticos. Veja não é banco central independente, é banco central dependente do sistema financeiro, que é o banco central que nós temos. Primeiro eu quero lembrar que quem criou, uma das primeiras pessoas a pedirem um banco central independente foi Marx. Marx e Engels no manifesto comunista vamos ler lá, ninguém ler estas coisas, isso é que acho impressionante. Toda a discussão sobre banco central independente acaba parando no fato de que as pessoas não conhecem as bases e as origens dos conceitos e das idéias que estão sendo defendidas. Agora, especificamente no caso brasileiro, eu li a pedido do Assis, e em cima disso a gente fez o capítulo três do livro, eu li o texto teórico do banco central que expõe a técnica das metas de inflação. Eu tive que ler quatro vezes aquele paper, devo dizer eu estou habituado a texto matemático complicado, mas este realmente foi um dos mais difíceis que eu li. E o resumo do que está dito é o seguinte: regime de meta de inflação o que é que é? É uma regra de três metida a besta. Vocês me perdoem a franqueza, mas quando você resume toda a matemática que está exposta no paper o que resulta é isso. Nós temo que a meta de inflação é obtida a partir de uma espécie de regra de três, de um lado tem a expectativa de inflação e do outro lado tem a taxa de juros que deve supostamente controlar aquela expectativa de inflação. Agora que dita a expectativa de inflação? O mercado, o mercado financeiro. A pesquisa de mercado que o banco central faz todo mês, antes da reunião do comitê responsável. Ou seja, o mercado quer taxas de juros altas, por que está ganhando em cima do empréstimo em dinheiro improdutivo. Com isso determina, dá uma sugestão de meta de inflação, conhece o mecanismo, conhece a fórmula, a expressão matemática que liga a expectativa de inflação à taxa de juros e acaba resultando, O quê? A taxa de juros que o mercado deseja. Isso é independência de banco central? Claro que não.

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