TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Flerte Matrimonial Dos Objetos

A minha xícara
tem duas pequeninas
fissuras na borda

(o quadro se assemelha
a um sorriso)

e logo que a cafeteira
canta ofegantes suspiros

o som passa pelas covinhas
da minha xícara

trazendo-me à alma
um estalo.

Levanto-me da escrivaninha.
Arrasto-me os chinelos.

Da porta da cozinha
(emocionado)

vejo a cafeteira
e minha xícara
próximas,

em profundo deleite
sem uma pontinha
de ciúme

por ser, afinal, o poeta
o único desvairado
senhor delas
e delas escravo.

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