TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 31 de julho de 2010

DROPS




Luiz Karimai transcendeu!


Por volta das 15 horas desta tarde ensolarada, o nosso mais querido e iluminado artista Luiz Karimai desencarnou. Que todos nós, família e amigos, saibamos nos confortar pelo legado que nos deixou o artista e o homem sábio que foi durante todo o tempo que esteve entre nós. Nos irmanamos em luto.

(poema de Carlos Rafael Dias para Luiz Karimai)

Ele caminhou firme na linha tênue
Equilibrando-se com a sua espada de luz de samurai zen
O que é para um mestre atravessar para o outro lado?
Uma travessia, decerto, pisando o solo sagrado com sapatilhas de bailarino
Já o seu tamanco de carvalho, este já está bem gasto
Também pudera, sua caminhada, longa e árdua, venceu os terrenos derrapantes
Com breves e estratégicas paradas para cultivar, por exemplo, um bonsai de umbuzeiro
Da minha parte, sei que o mestre nunca parte
Ele adianta os passos para mostrar as veredas que dão em algum lugar

Cafezinho Quente

Dissipa-se a poesia
se a infame vaidade
insinuante e esguia

abocanha a pele
tritura os ossos
da alma picadinhos.

Voa e não retorna
aquele luar assombrado

se a tola inquietude
apodera-se do instante
e o ferimento não cura.

Precisa-se daquele poema
incauto, flagelado

nunca orado a santos
nem prometido ao diabo

trancafiado no baú antigo
dentro da gaveta da penteadeira
enterrado a sete palmos debaixo
do último sol, da última chuva
atrás do arco-íris.

Precisa-se daquele poema
oculto, exilado, passado
a goma e a lama
lacrando o envelope

que nem amiga mais fiel
que nem amigo mais correto

possam ter acesso
e liberdade.

Aquele poema exausto
sem sombra de figueira
sem sandálias antigas

apenas uma brisa
uma réstia

do que nunca foi dito
sussurrado em sonhos
escapado no gemido.

Que ninguém
(nem mãe nem filho)
invada e descubra

aquele poema iluminado
por ser inacabado
jovial, monge
e eterno.

Que a irmandade
do silêncio
rejubile-se

em nossa morte
duradoura e franca.

Não haverá vaidade
que torça o pescoço
e estrangule

o que cintila
dentro da alma.

Que ninguém
(nem pai nem filha)
apodere-se do que
não tem nome
tampouco feições.

Permita-me
o sonho da morte
dormir e acordar

um cadáver brilhante
cílios de fogo.

Que a vaidade se desnuda
pelo reflexo da própria máscara

e não mais se funda
do horror ao despropósito.

Precisa-se do poema
do infeliz inocente

do tempo
e do emudecimento
por uma noite
o sossego.

SOPA DE LETRAS


Agende-se!

Antes do último pau-de-arara

Deixo o meu Cariri
antes do último pau-de-arara,
mas não deixo que tirem ele de mim.
Não permito-me esquecer daqui.

Deixo o meu Cariri
antes do último pau-de-arara,
mas ele não sai de mim.
Não quero que saia de daqui.

Deixo o meu Cariri
antes do último pau-de-arara,
mas guardo as pessoas, as imagens,
as lembranças daqui.

Deixo o meu Cariri
antes do último pau-de-arara,
mas o meu Cariri não sai daqui,
de dentro de mim.



Thiago Assis F. Santiago
www.euthiagoassis.blogspot.com

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Lombalgia

Desagradável escrever
sentado no pufe:
as costas doem
pra chuchu.

Mesmo que escrevamos
arrebatamentos infantis
ficamos com aquela postura
de corcunda ao final do dia.

A tensão do franco atirador
some dos ombros com as cãibras.

A gravidade do olhar
invade as retinas
quando deveria haver
apenas guloseimas.

De fato torturante
escrever sentado
em um dócil pufe.

Devo logo comprar
aquela cadeira giratória.

Dessas que ao leve vento
e ao inesperado torpor
o bardo voe.

vidas em português

  "Não existe a língua portuguesa. Existem línguas em português."

José Saramago, no documentário "Língua - vidas em português", de Victor Lopes. 

Todos os dias duzentos milhões de pessoas levam suas vidas em português. Fazem negócios e escrevem poemas. Brigam no trânsito, contam piadas e declaram amor. Todos os dias a língua portuguesa renasce em bocas brasileiras, moçambicanas, goesas, angolanas, japonesas, cabo-verdianas, portuguesas, guineenses. Novas línguas mestiças, temperadas por melodias de todos os continentes, habitadas por deuses muito mais antigos e que ela acolhe como filhos. Língua da qual povos colonizados se apropriaram e que devolvem agora, reinventada. Língua que novos e velhos imigrantes levam consigo para dizer certas coisas que nas outras não cabem.

O filme é de 2004, e tem em dvd em alguma locadora que se preze.

monalisa 9


A FEIRA DE ANTIGAMENTE – POR PEDRO ESMERALDO

No tempo de minha infância, observava com muita tensão o movimento circulante dos mascates na antiga estrada velha que liga Crato a Juazeiro para a movimentação da feira do Crato.

Era coordenada por uma legião enorme de romeiros que marchava em direção do Crato a fim de buscar seus bens necessários para sua subsistência.

A feira do Crato sempre foi considerada uma das maiores feiras do nordeste. Tinha toda espécie de bugiganga, como especiarias, cereais e também pequenos animais domésticos: aves canoras, suínos, ovinos e caprinos. Era longa e seu movimento assustador. Não havia outro igual.

O povo de Juazeiro, possuidor de grande vocação para as obras artesanais, fabricava seus utensílios durante a semana, após o movimento do seu trabalho árduo na agricultura; produzia durante a semana a sua cultura agrícola para depois vir movimentar seus negócios na feira do Crato.

Era uma comunidade pacífica e capacitada para pendores artesanais com grande movimentação de utensílios domésticos, o que aproveitava o seu labor com a venda nesta devida feira. Os mais pobres não tinham condições financeiras e carregavam na cabeça os seus produtos manufaturados, os mais bem aquinhoados utilizavam seu transporte utilitário que eram as carroças de tração animal, o que vinha ser mais atenuantes na sua tarefa, e os menos possuidores de recursos teriam de concordar com as sujeições dos fiscais da prefeituras.

Nessa época, quase não havia carro, já que as duas principais cidades do cariri eram incipientes no movimento progressista e não podiam movimentar, de maneira alguma, os seus serviços com mais eficiência em busca da civilização mais bem acentuada, além disso, arcavam com poucos recursos financeiros e ainda não possuíam métodos educativos evoluídos. Esses movimentos eram suavizados e controlados pelos poderosos coronéis do sertão. Por isso, os técnicos da produção agrícola traziam pouco poder aquisitivo ao sertanejo que era completamente rudimentar, pois eram dominados por uma classe ruborizada e grosseira de pseudo-protencionistas.

Nesse período, ou sejam entre as décadas de 40 e 50, observava-se um comportamento ruidoso, deixando todo o pessoal submisso, sem procurar meios favoráveis para melhorar sua vida económica. Esses movimentos eram controlados pelos poderosos coronéis, a fim de se locupletarem com as benesses dos trabalhos agrícolas e procuravam controlar a submissão que, há tanto, dilacerava os pobres, deixando-os conviver em absoluta pobreza.

Por sua vez, causava admiração em observar a coragem desse povo humilde conduzir as suas quinquilharias para movimentar a feira do Crato.

Convém notar que essa classe pobre durante dias e noites, tinha que se desloca das suas atividades agrícolas para administrar em casa a sua tarefa artesanal, fabricando rudimentarmente os seus utensílios para, juntamente com a mulher e filhos, complementar com produto agrícola a sua economia. Fabricava de tudo desde vassouras, bacias de flandres, foice, espingardas, garruchas etc.

Hoje, devido a modernidade, não temos mais esse movimento febril, já que as coisas mudaram tudo para melhor, pois vemos um trabalho mais sofisticado e com melhoria de produtividade e adequando ao tempo moderno. Esse tempo de miséria já passou. Graças a Deus.

Crato-CE, 29 de Julho de 2010

Flerte Matrimonial Dos Objetos

A minha xícara
tem duas pequeninas
fissuras na borda

(o quadro se assemelha
a um sorriso)

e logo que a cafeteira
canta ofegantes suspiros

o som passa pelas covinhas
da minha xícara

trazendo-me à alma
um estalo.

Levanto-me da escrivaninha.
Arrasto-me os chinelos.

Da porta da cozinha
(emocionado)

vejo a cafeteira
e minha xícara
próximas,

em profundo deleite
sem uma pontinha
de ciúme

por ser, afinal, o poeta
o único desvairado
senhor delas
e delas escravo.

SOPA DE LETRAS


Hoje, hoje! às 20h, SESC de Juazeiro do Norte.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

A COMÉDIA DA MALDIÇÃO NA PRAÇA DA SÉ - CRATO-CE - SÁBADO - 20 HORAS


A Cia. Cearense de Teatro Brincante - Ponto de Cultura do Brasil - apresenta: A Comédia da Maldição! Um dos mais aplaudidos espetáculos dos últimos tempos... Na Praça da Sé, em Crato-CE, neste sábado, 31 de julho, às 20 horas, na programação do I Festival do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversão do Estado do Ceará.

Elenco: Cacá Araújo (Tandô); Carla Hemanuela (Mãe Luzia); Charline Moura (Irmã Francilina); Jardas Araújo (Cantador); Edival Dias (Padre Sebastião); Joênio Alves (Dono da Bodega); Jonyzia Fernandes (Ana Expedita); Joseany Oliveira (Leide Zefa); Josernany Oliveira (Brincante da Mula); Lílian Carvalho (Beata Carmélia); Lorenna Gonçalves (Cibita); Márcio Silvestre (Vigário Felizberto); Orleyna Moura (Viúva Fantina); Paula Amorim (Ladra); Paulo Henrique Macêdo (Fotógrafo Jorjão); Samara Neres (Zulmira); Músicos: Lifanco (viola) e elenco (percussão).

Técnica: Texto e Direção Geral - Cacá Araújo; Assistência de Direção - Orleyna Moura; Cenografia - França Soares; Sonoplastia - Cacá Araújo; Iluminação - Danilo Brito; Maquiagem - Carla Hemanuela e Joênio Alves; Figurino - Orleyna Moura e Carla Hemanuela; Guarda-Roupa - Luciana Ferreira; Operação de Som - Gabriela Melo; Operação de Luz - Danilo Brito; Música - Lifanco e Cacá Araújo; Fotografia - Gessy Maia; Cinegrafia – Toyota; Produção Executiva - Mônica Batista; Produção Geral - Sociedade Cariri das Artes.

Promoção: SATED/CE
Apoio: Prefeitura Municipal do Crato / Sociedade de Cultura Artística do Crato / Sandálias Brisa / Coletivo Camaradas





Emancipação de Ponta da Serra no Cariri Encantado-Protagonistas!


Dentro do nosso programa Cariri Encantado dessa sexta-feira, 30 de julho, o tema "Emancipação de Ponta da Serra" será defendido por um grupo de cidadãos filhos do distrito que pretende libertar-se politicamente da sua cidade berço, o Crato.
Desde os anos 90 a questão provoca debates acalorados e, como aconteceu na última edição da revista "A Província", mereceu um artigo do editor Jurandy Temóteo esclarecendo sobre as perdas que advirão para o Crato se o intento for concretizado.
Os dados estão lançados!

Encontro Marcado:
Cariri Encantado - Protagonistas!
A partir das 14 horas nas ondas da Rádio Educadora do Cariri, 1020 khz
Parceria: Radio Educadora do Cariri e Oca-Officinas de Cultura, Artes e Produtos derivados.
Apresentação: Luiz Carlos Salatiel

Luz

Desde tempos imemoriais já se apregoava : a sala de visitas é o coração de uma casa. Receber bem, recepcionar, sempre se mostrou muito mais arte que técnica. Com a explosão da atividade comercial , hoje já englobando campos virtuais, impensáveis em tempos passados, a sutileza no receber, no acolher, percebeu-se ter uma íntima relação, não só com o fazer amigos , mas também fidelizar clientes. A arte do acolhimento bebe no riacho da sedução. Quem recepciona, assim, deve carregar consigo segredos de diplomata, técnica de dança do ventre, sutileza de gueixa, paciência de monge. Imaginem, então, caros leitores, quando o recepcionista encontra-se ao largo do portão da vida e tem a grata função de fazer adentrar todos numa imensa morada chamada terra ? Pois , esta é a nobre função dos obstetras, dos parteiros : entreabrirem um mundo prenhe de possibilidades e desafios para a vida que explode no vagido de tantos bebês atônitos com a luz incandescente e ofuscante do novo, do belo, do misterioso. Poucas especialidades médicas são tão gratificantes, poucas carregam consigo tanto poder de refazer o gênesis e repovoar o planeta.
Pois este texto de sábado, amigos, é sobre um desses recepcionistas exímios e que, nesses dias, cumprida a missão, abriu a porta do quintal deste mundo para ser acolhido no grande pomar ao lado. Chamava-se Tarcísio Pinheiro e toda a cidade o conhecia, até porque muitos e muitos das atuais gerações foram por suas mãos conduzidos ao milagre da vida. Mais de quarenta e cinco anos de trabalhos dedicados, sem interrupção, num entreabrir incessante das fronteiras do ser, para um sem número de caririenses. Não bastasse isso, fez-se ainda cirurgião do mais fino jaez, um clínico de faro aguçado, qualidades desenvolvidas em tempos em que a medicina ainda carecia de especialistas nas mais diversas áreas. Advindo da seminal Faculdade da Bahia, a primeira do Brasil, Dr. Tarcísio trazia consigo uma sólida formação humanística e ética. E, mais que tudo, trouxe todo o seu conhecimento, adquirido com árduas penas, para junto do seu povo, da sua gente. Profissional do mais fino trato, atendia a todos com uma presteza exemplar. Assumindo inúmeros cargos : diretor de Hospital, Chefe de Perícia, Médico de Saúde Pública; nunca se soube de reclamações dos seus fiéis pacientes ao seu trabalho. Não bastasse isso, desempenhou ainda uma profunda atividade social na cidade, inserindo-se na atividade agro-pecuária e desenvolvendo ainda uma ativa participação na vida política do Crato. Fez parte de uma heróica geração de médicos que, a partir dos anos 60, revolveram os horizontes de uma Medicina ainda de fortes tons empíricos, para os largos caminhos do cientificismo : Dr. Humberto Macário, Dr. José Ulisses Peixoto, Dr. Ebert Fernandes Teles, Dr. Maurício Teles, Dr. Fábio Esmeraldo, Dr. Tarcísio Pierre, Dr. Eldon Cariri, Dr. Luciano Brito, Dr. Mozart Magalhães, Dr. Elígio Abath, Dr. Valdir Oliveira, Dr. Hugo Barreto e muitos outros.
Estupefatos, diante da fragilidade da vida, parecemos todos tristes e cabisbaixos, sem perceber que são tênues e quase imperceptíveis os limites entre a corda bamba e o abismo; entre a luz e o breu; entre o ser e o não ser. O fogo que nos faz brilhar é o mesmo que nos queima, lentamente, a cera da vela da existência. Quanto mais brilho emitimos, mais vida consumimos. O que fica ? A persistente lembrança do brilho que iluminou tantos caminhos e veredas . Ela nos consola em pensar que quem ofereceu tanta luz aos que chegavam ao vestíbulo deste mundo; deve ser recebido, com fogos de artifício, do outro lado da porta do quintal que dá para o pomar.

J. Flávio Vieira

Atitudes no bem - Emerson Monteiro

A Terra é nossa casa, eis o título adotado pelo cantor, compositor e instrumentista Nando Cordel para desenvolve um projeto que visa acordar no coração das crianças, jovens e adultos, a riqueza das boas maneiras: o respeito, a humildade, o carinho, a moral, a gentileza... chamando atenção para que cada um olhe o outro como irmão.
Tal iniciativa ganha espaço na educação de crianças e adolescentes, sobretudo na atualidade, quando cresce no Brasil campanha para conter a violência na educação dos filhos. Enquanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assina o projeto de lei que modifica o artigo 18 do Estatuto da Criança e do Adolescente. Com a modificação, ficará vedado aos pais adotar castigos físicos para disciplinar ou punir os filhos.
Esse projeto de lei de autoria do Executivo federal, que depende agora da aprovação do Congresso Nacional, restringe inclusive as mínimas ações de punição, desde, por exemplo, simples palmadas, vistas até então, por alguns educadores, como medidas profiláticas de combate aos hábitos nocivos, na primeira fase da vida infantil.
Diante, pois, da necessidade premente de métodos inovadores que venham suprir os instrumentos usados na formação básica, o artista Nando Cordel sai, numa firme cruzada pedagógica pelo Nordeste, utilizando-se de belas cartilhas destinadas a crianças e educadores, enfocando áreas essências da prática diária nas escolas e no lar.
Temas quais escovação dos dentes, uso de linguagem apropriada, asseio, religiosidade, sinceridade, obediência e outros, são apresentados de modo didático nesse material.
Sempre demonstrando preocupação com a adoção dos valores positivos, este pernambucano nascido em Santo Agostinho vem visitando as secretarias de educação dos municípios, visando ampliar os frutos dessa tarefa que soma às apresentações musicais destinadas à propagação do conceito da Paz entre as pessoas.
Artista versátil, consagrado fenômeno de inspiração literária e musical, este menestrel se identifica com a gente do Ceará, e, no Cariri, vem prestigiando o trabalho dos Anjos Solidários – Cevema, em Juazeiro do Norte, a consolidar sua história de 25 anos de um talento consagrador.
Além desta campanha em prol do aperfeiçoamento da educação infantil, Nando Cordel também pretende deflagrar um movimento visando aumentar as doações de órgãos humanos, ora em andamento, com músicas e apresentações.
São estas, portanto, boas e possíveis finalidades da arte engajada no corpo da sociedade, quando seus ídolos abraçam causas nobres e retribuem à altura o carinho e a predileção do grande público ao seu trabalho. Dignas de nota as atuais providências de Nando Cordel nesta nova fase de sua carreira artística.

Mimos

Chegarei em casa
antes que anoiteça
e bem antes que abras
a porta

o macarrão já enfraquecido
lânguido dentro da água
o molho no prato decorado

e uma jarra fresquinha
sobre a mesa.

Ouvirei teus passos
lá na garagem cansados

subindo os degraus
(pior) ardendo os pés.

Deixarei que dês apenas
o primeiro drible de corpo

e me lançarei contra
teus embrulhos, papéis,
fardos e a bolsa de couro.

Tu cairás no sofá
suspirando de alívio

enquanto eu debruçado
nas tuas sandálias
tiro-as dos teus pezinhos
beijo a parte mais vermelha

inicio de imediato
aquela massagem.

Fecharás os olhos
(entreabertos diria)

e antes que acordes
terei posto na mesa
o teu banquete.

Verás uma toalha nova
e sobre ela aquela flor
do dia dos namorados

fora do vaso
úmida, elegante.

Tu (meio brava,
meio esquecida do tempo)

perguntarás o que faz
aquela flor molhando
a casa toda.

Pegarei a bendita flor,
enlaçarei entre teus cachos.

Tu me pedirás desculpas.
Darás um beijo nos meus
trêmulos lábios.

Algo parecido com lágrima
gotejará do olho esquerdo.

antes ARTE do que tarde



(...) y el mundo, en conclusión,


todos sueñan lo que son,

aunque ninguno lo entiende.


(pedro calderón de la barca + lupin)

pulpifex maximus


1933 foi um ano ruim
a porta se abriu para a lavanderia, o banheiro ficava do lado oposto. lavei e enxaguei as mãos e comecei a voltar para a cozinha. um varal que corria por toda a extensão da lavanderia me chamou a atenção. nele estavam penduradas uma dúzia de calcinhas, como um bando de meninas risonhas. algumas eram azuis, outras cor-de-rosa, umas eram brancas e outras ainda, douradas. eramdelicadamente pequenas demais para serem da senhora Parrish. não poderiam adornar ninguém senão a glória da minha vida, as sedas sagradas da minha bem-amada. CARAMBA! eu estava satisfazendo todos os meus desejos a respeito de Dorothy naquela noite! acompanhei o varal de um lado a outro, deixando cada uma roçar o meu rosto. acariciavam as minhas narinas, despentearam o meu cabelo. eram doze. tantas... e eu não tinha nenhuma, nem mesmo uma para guardar como troféu, para servir de recordação. a dourada atraiu meu olhar. tinha as bordas rendadas de preto, suaves como plumas, doces como um papafigo. uma pra mim, onze para Dorothy; era mais do que justo. soltei os prendedores e enfiei-a debaixo da camisa. senti-a junto da pele, respirando ali, aconchegada e feliz.
(john fante)

Entrepontos encerra seu primeiro ciclo de encontros no Crato (CE)


O programa Entrepontos chega à quarta cidade do interior cearense na próxima terça, 3 de Agosto. O projeto é uma ação prévia da IX Feira da Música de Fortaleza. O fim do primeiro ciclo do Entrepontos marca a véspera da Feira, que acontecerá no período de 18 a 21 de agosto no Centro Dragão do Mar

O Crato (CE) é a última cidade do primeiro ciclo do programa Entrepontos. A série de encontros no interior cearense passou por Guaramiranga, Itapipoca e Quixadá antes de chegar ao município da região do Cariri. De 3 a 6 de agosto, o Crato recebe o encontro que envolverá músicos, técnicos, produtores e demais agentes do universo musical. Este público terá a oportunidade gratuita de interagir com convidados do Ceará e de outros estados do Brasil, assistir palestras e participar de grupos de trabalho (GTs) divididos em três áreas de capacitação da música – Comunicação; Gestão de Carreira e Produção; e Direção e Técnicas de Palco.

O Entrepontos já reúne resultados da experiência de realização do encontro nas três primeiras cidades deste ciclo. Em Guaramiranga, cerca de 40 pessoas participaram dos GTs e diagnosticaram, junto aos facilitadores, a necessidade de se organizar um núcleo produtivo para dar conta da boa movimentação do calendário cultural da cidade. A leitura parte da sugestão de que o expediente de projetos culturais realizados no município, como o Festival de Jazz & Blues e o Festival Nordestino de Teatro, pode reunir uma presença mais significativa de mão-de-obra local.

Em Itapipoca, o grupo que reuniu em torno de 70 pessoas traçou um planejamento de ações para a cena musical do município. Mobilizar uma atividade envolvendo a música de Itapipoca na Feira da Música de Fortaleza; programar uma mostra de músicos locais na capital cearense; organizar uma mostra de música na própria região; e realizar ensaios abertos da orquestra da cidade foram algumas dessas ações.

A cidade de Quixadá reuniu aproximadamente 40 pessoas, a exemplo de Guaramiranga, distribuídas entre os GTs. Na agenda quixadaense, os participantes planejaram organizar uma grande caravana para a Feira da Música; mobilizar uma atividade envolvendo a música de Quixadá também na Feira; estimular o intercâmbio Fortaleza – Quixadá entre os artistas locais; levar a tecnologia de transmissão de shows ao vivo pela Internet para outros eventos da cidade.

Em comum, os GTs de comunicação das três cidades criaram uma lista de discussão online e um blog a fim de reforçar – respectivamente - a comunicação entre os agentes do município e de conectar a produção local com o resto do mundo. O Entrepontos finaliza os encontros desta série traçando um mapeamento da cadeia produtiva da música em cada cidade, de acordo com a participação nos GTs. A atividade sugere um posicionamento para que cada participante entenda a sua responsabilidade com a cena musical local. Até então, em torno de 150 pessoas já receberam o certificado de participação no Entrepontos.

A realização do EntrePontos é da Associação dos Produtores de Discos do Ceará (ProDisc), com a parceria do Sebrae (CE) e incentivo do Sistema Estadual da Cultura (SIEC). No Crato, o programa conta com apoio da Secretaria de Cultura, Esporte e Juventude do município e do Sebrae local.

O Encontro – O Entrepontos abre a sua programação para empreendedores, gestores culturais e de entretenimento, estudantes e profissionais vinculados às linguagens artísticas e áreas afins, como Design, Moda, Comunicação Social e Turismo. O acesso é gratuito e as inscrições prévias estão abertas na sede do Sebrae do Crato (Rua Senador Pompeu, 341, Centro).

A dinâmica de cada encontro segue o esquema abaixo:

- Encontro Geral, com abertura do evento e reconhecimento dos participantes de cada município;

- Palestras temáticas, com a realização dos painéis de troca de experiências com convidados do Ceará e de fora do Estado;

- Grupos de Trabalho (GT), facilitados por agentes de reconhecido saber e experiência nas áreas de Comunicação; Gestão de Carreira e Produção; Direção e Técnicas de Palco;

- Laboratório Musical. É a atividade final do encontro, momento em que os participantes acompanharão a realização de um evento musical – com apresentação de três atrações. O laboratório será o espaço para a aplicação de conhecimentos adquiridos nos GTs, à medida do potencial e aprendizado de cada participante e de seu respectivo entendimento sobre o evento.

Programação

* Crato

Locais: Palestras e GTs na sede local do Sebrae (Rua Senador Pompeu, 341, Centro) e shows no Centro Cultural do Araripe (Largo da RFFSA – antiga estação ferroviária)
Acesso: Gratuito

- 3/8:

14 às 19h30 – Encontro geral (com intervalo)

- 4/8:

14 às 17h – Grupos de Trabalho

17h30 às 19h30 – Painel com Benjamin Taubkin (pianista do selo Núcleo Contemporâneo e membro da ABMI – Associação Brasileira de Música Independente/SP) e Amaudson Ximenes (Associação Cultural Cearense do Rock – ACR/CE)

- 5/8:

14 às 17h – Grupos de Trabalho

17h30 – Preparação para o laboratório musical

- 6/8:

9 às 16h – Laboratório musical

17h – Sorteio de brindes e finalização dos GTs

20 às 22h – Shows com Felipe Cazaux (CE) e bandas locais

Serviço – EntrePontos – série de encontros, realizada no interior do Ceará, com foco na capacitação em negócios da música. Dias 30 de junho a 3 de julho em Guaramiranga (CE), 14 a 17 de julho em Itapipoca (CE), 21 a 24 de julho em Quixadá (CE) e 3 a 6 de agosto no Crato (CE). Acesso: Gratuito. Informações gerais: (85) 3262.5011 – entrepontosce@gmail.com

Mais informações para a Imprensa: (85) 8690.2466 – fgurgel@gmail.com (Felipe Gurgel) e (85) 8846.6092 – debmedeiros@gmail.com (Débora Medeiros)

quarta-feira, 28 de julho de 2010

DROPS


cartum por GALHARDO


"Como vencer uma discussão sem ter razão"

O assunto é outro, mas o texto de Luís Nassif cabe aqui, diante de alguns ataques a este blog. Leiam!


"A Internet consagrou uma nova retórica, não propriamente fruto dela, mas vinda da lavra brilhante de Olavo de Carvalho e seu "como ganhar uma discussão em ter razão".
Esse estilo foi copiado por alguns blogs de esgoto e rapidamente assimilado por José Serra. Dará belo material de pesquisa futuro, para algum linguista ou psiquiatra analisar essas relações, de uma pessoa assumir a personalidade, o estilo e a retórica de outra e incorporar de tal maneira que passa a raciocinar igual. É como se o ventríloquo passasse a ser controlado pelos bonecos.
Um dos recursos é o da minimização ou maximização de um fato, de acordo com as circunstâncias.
Quando fui alvo de ataques desse povo (não do Olavo, esclareça-se), atacavam honra, família, sexualidade, não respeitando nada. Se reagisse, diziam: isso é choradeira sua. E esse mantra era repetido por seguidores na rede.
Exemplo típico de assimilação de estilo é Serra, um dia, brandir a retórica do medo. Quando a estratégia rasa é denunciada e a reação ganha escala, ele diz: «não vim aqui para discutir isso, mas os problemas reais da economia», como se nunca tivesse explorado o assunto.
Outro recurso é juntar informações que não são necessariamente mentiras mas que, no final, permitem não contar a verdade – uma das formas de mentir.
São estratagemas que funcionam no ambiente restrito de um blog. Quando praticados sob a visibilidade conferida por uma campanha, são desarmados na hora. Enganam trouxas, irritam os leitores mais racionais. Mas, mais cedo ou mais tarde, são anulados.
Confira nessa história dos genéricos. Os fatos:
  1. Em 1993 o Ministro Jamil Haddad deixou pronto um decreto criando os genéricos. Mas o projeto não andou.
  2.  Em 1999, o deputado Eduardo Jorge (na época do PT) voltou ao tema e conduziu uma ampla negociação para a aprovação da lei dos genéricos. Negociou com deputados, com o Ministério, com entidades do setor, com conselhos de saúde e conseguiu a aprovação. O Ministério da Sáude, com Serra à frente, era um dos interlocutores – não o que conduzia o processo.
  3. Aprovando a lei, é obrigação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) regulamenta-la. Foi feito. Aliás, o diretor era o Gonçalo Veccina, se não me engano. É possível que Serra tenha dado alguma força.
  4. Entrando em vigor a lei, saiu pelo país fazendo campanha explícita de promoção de alguns laboratórios. Na época cheguei a ligar para ele para alertá-lo que um dos laboratórios promovidos era de um baita barra pesada que esteve envolvido com a Funasa na época de PC Farias. Mas, tudo bem, fazia parte do oba-oba político.
Em cima desses fatos, qual a versão que Serra espalhou para tentar assumir a paternidade individual da criança.
  1. Foi na sua gestão no Ministério da Saúde que a política de genéricos foi implementada. Correto. E muitos e muitos outros fatos devem ter ocorrido naqueles anos.
  2. Foi em sua gestão que a Anvisa regulamentou o uso dos genéricos. Correto.
  3. Em seu site, Serra diz que "só havia remédios de marca" e esse quadro mudou na sua gestão. Correto.
  4. Aí se entusiasma com os próprios feitos e escorrega: «foi Serra quem "mudou" isso, em 1998, ao assumir o Ministério da Saúde e regulamentar a Lei dos Genéricos». E aí deixou de lado toda uma luta histórica, pioneiros, contribuições coletivas e individuais e se apropriou o mérito de terceiros. 
Teve o mérito de enfrentar a outrora poderosa Febraban para consolidar os genéricos.
Confira matérias recentes sobre os genéricos;
G123/07/2010
Serra voltou a propor a criação de policlínicas de saúde no país. Segundo ele, as unidades poderiam atender 15 mil consultas por mês e realizar 40 mil exames. Também citou programas criados quando ministro da Saúde, como os medicamentos genéricos e os mutirões para a realização de cirurgias eletivas (que não são de emergência) e para a detecção de doenças como o câncer de colo de útero.
O tucano afirmou que o governo parou de “turbinar” iniciativas de sua gestão no ministério. “Parece que coisas que eram associadas a mim, como os genéricos e os mutirões, foram deixadas num segundo plano”, disse.
G1 21/07/2010
Serra diz que os genéricos foram regulamentados na sua gestão no Ministério
http://g1.globo.com/especiais/eleicoes-2010/noticia/2010/07/presidenciaveis-disputam-versao-sobre-autoria-da-lei-dos-genericos.html
Em seu site de campanha, o tucano José Serra destaca que a lei foi regulamentada em sua gestão no ministério e critica a atenção dada ao tema pelo PT. "A Lei dos Genéricos foi regulamentada há onze anos, na gestão de José Serra no Ministério da Saúde, para ampliar o acesso da população a medicamentos, principalmente os de tratamento contínuo. (...) Mas poderia avançar muito mais.O governo do PT boicotou os medicamentos genéricos."
Não mente completamente, só no essencial.
 (...)A campanha do PV afirma que, em 1993, o então ministro da Saúde Jamil Haddad "baixou um decreto que abriria caminho para a criação dos genéricos, mas a iniciativa não teve sucesso".
Eduardo Jorge voltou à carga em 1999, quando Serra era ministro da Saúde. “Negociamos um substitutivo mais moderado do que meu projeto original e tivemos a aprovação da Lei 9787/99. Assim muitos ajudaram, porém o autor da lei sou eu mesmo”, disse Eduardo Jorge em nota divulgada pela campanha do PV. 
 Aprovada a lei, caberia à Anvisa regulamentá-la. Obrigação dela, aliás. Mas Serra pegou esse ponto para se conferir a paternidade dos genéricos»
A aprovação da Lei dos Genéricos no Congresso, porém, só ocorreu em 1999, durante a gestão de Serra na Saúde. Ele deu o passo final ao promover regulamentação da lei pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que especifica as normas técnicas para que os genéricos sejam idênticos ao remédio de marca.
Os oito anos de tramitação da lei, porém, mostra que outras pessoas contribuíram para sua aprovação. Antes dela, foi necessáriaa aprovação de outra lei, em 1997, que regulamenta a propriedade intelectual no país. A norma incluiu o Brasil nos padrões da OMC (Organização Mundial do Comércio), pelos quais qualquer produto tem sua patente protegida somente até 20 anos de seu registro.
No seu site, Serra diz:
O texto do site ressalta ainda que antes "só havia remédios de marca" e que foi Serra quem "mudou" isso, em 1998, ao assumir o Ministério da Saúde e regulamentar a Lei dos Genéricos."

COMPOSITORES DO BRASIL

É dura, é triste, é cruel
A dor de uma saudade
Quando se teve nas mãos a felicidade...
(Um juramento falso)

PEDRO CAETANO

Por Zé Nilton

Cem anos de Pedro Caetano celebrará sua família ao lado de amigos e fãs no dia 01 de fevereiro de 2011.

Nesta sexta-feira, dia 29, às 20,30 ,iniciando as comemorações do centenário desse compositor de destaque na época de ouro da Música Popular Brasileira, será realizado um grande show no Clube do Choro de Santos-SP, com a presença de sua filha Cristina Caetano.

Informa ainda Cristina Caetano que dentro das comemorações serão realizados trabalhos de restauração de acervo, montagem de um site, edição de livros, songbook e CD. Enfim, a memória do inesquecível e primoroso compositor será preservada.

Pedro Caetano é de Bananal , São Paulo, mas cresceu, viveu, amou e tornou-se um expressivo compositor no Rio de Janeiro. Estáentre os bambas da época, como Ataulfo Alves, Cartola, Ismael Silva, Nássara, Wilson Martins, Ary Barroso. Dividiu a autoria de suas músicas com nada menos de que Pixinguinha, Noel Rosa e Valfrido Silva.

Dono de uma inspiração melódica de grande valor e de uma poética de profunda singeleza, Pedro Caetano deixou sua marca no panteão da História da Música Popular Brasileira, e sua música será eterna como as coisas que tocam a alma. Atentemos para essa poesia adornada por uma melodia que nos enche de raro prazer:

Nova Ilusão(Pedro Caetano)

É dos teus olhos a luz
Que ilumina e conduz
Minha nova ilusão
É nos teus olhos que eu vejo
O amor e o desejo
Do meu coração...
És um poema na terra
Uma estrela no céu
Um tesouro no mar
És tanta felicidade
Que nem a metade
Eu consigo exaltar...
Se um beija-flor descobrisse
A doçura e a meiguice
Que teus lábios tem
Jamais roçaria, as asas brejeiras
Por entre roseiras
Que são de ninguém...
Óh, dona do sonho,
Ilusão concebida
Surpresa que a vida,
Me fez das mulheres,
Há no meu coração
Uma flor em botão
Que abrirás se quiseres.

Outra vez estaremos prestando a homenagem a Pedro Caetano através do programa Compositores do Brasil. Associamo-nos às alegrias dessa festa que sua filha Cristina Caetano está coordenando, e que gentilmente nos procurou, através do Blog Caririag, em contato com o prof. Carlos Rafael, para agradecer pelo programa que realizamos em fevereiro último.
Compositores do Brasil, um pouco da história e das músicas de Pedro Caetano.
Na sequencia:

SETE E MEIA DA MANHÃ, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz, com Dircinha Batista
UM JURAMENTO FALSO, de Pedro Caetano com Orlando Silva
É COM ESSE QUE EU VOU, de Pedro Caetano com Elis Regina
FLOR DE LARANJEIRA, de Pedro Caetano Carlos Galhardo
SANDÁLIA DE PRATA, de Pedro Caetano e Alcir Pires Vermelho com Francisco Alves-Sandalia de Prata
O QUE SE LEVA DESSA VIDA, de Pedro Caetano com Ciro Monteiro
ONDE ESTÃO OS TAMBORINS, de Pedro Caetano com Quatro Ases e um Coringa
CAPRICHOS DO DESTINO, de Pedro Caetano com Orlando Silva
LEVEI UM BOLO, de Pedro Caetano, com Almirante
DISSE ME DISSE, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz, com Aracy de Almeida
EU BRINCO, de Pedro Caetano com Carlos Galhardo brinco
FOI UMA PEDRA QUE ROLOU, de Pedro Caeteno com Vassourinha
O SAMBA AGORA VAI, de Pedro Caetano com Quatro Ases e um Coringa
DUAS VIDAS, de Pedro Caetano e Claudionor Cruz com Orlando Silva
SALVE O AMÉRICO, de Pedro Caetano e Alcyr Pires Vermelho com Cristina Buarque e a Banda Glóri

Quem ouvir verá!

Programa COMPOSITORES DO BRASIL
Rádio Educadora do Cariri
Todas as quintas-feiras, de 14 às 15 horas
Pesquisa, produção e apresentação de Zé Nilton
Retransmissão: www.cratinho.blogspot.com









Manhã De Quarta

Não me canso
de entreter-me
com as formiguinhas
em zigue-zague
aos encontrões.

Por magia (a intuição das formigas
é pura e delicada magia)

desviam-se no momento
em que as antenas de algumas
haveriam de ferir os olhinhos
de outras.

Cada qual no dorso
leva uma partitura
da natureza: folha,
graveto, asa
de besouro.

Há aquelas mais caseiras
e preferem: farelos de pão
cuscuz e bolacha.

Seguem sempre em zigue-zague
aos encontrões sem nunca
se machucarem.

Confessam coisas inaudíveis
aos meus ouvidos e sobem
pelas paredes.
Cariricaturas
Do blog para o papel

Recebi do meu amigo Wilton Dedê, um incansável residente da cultura caririense, um exemplar devidamente autografado do livro “Cariricaturas em Verso e Prosa”, edição que registra o fazer literário de um grupo de escritores que postam suas criações no blog www.caricaturas.blogspot. Com. Ao ler o livro percebi que nem tudo que está ali é diletantismo e que nem tudo está preso a um passado imóvel, feito naftalinas mofadas.

Não vou entrar no mérito literário, uma vez entendido que a essência desse feito seja exatamente o ato sacramental e fundador de ações coletivas que encenam suas vivências em um espaço virtual. A partir dessa decupação, dois aspectos me chamaram a atenção nessa obra. Creio que esses aspectos possam traduzir, em parte, aquilo que se pretende em uma criação dessa espécie, bem como aquilo que não se espera em forma de repercussão interventiva.

O primeiro aspecto é o diálogo imaterial e material entre as mídias, a escrituração que sai do campo virtual da rede mundial de computadores, carregando todas as transversais que isso representa, para cair no universo imemorial da imprensa, conservando e prolongando o poder da escrita no papel, e tudo que essa escrita representa dentro da história da humanidade. O outro aspecto é o dialogismo entre o universal e o provinciano, em seu eterno jogo de junção e disjunção na construção do cotidiano das pequenas narrativas individuais.

Dentro da leitura que faço dessa obra que intervém diretamente em nosso universo imaginário como um eterno retorno, os aspectos que me chamaram a atenção revelam o tanto que este livro está inserido em nossa realidade, em nossa contemporaneidade, exatamente pelo que ele tem da fragmentação e da descontinuidade. Se por um lado o “Cariricaturas em Prosa e Verso” busca visibilidade através de um marco, de um registro mais palpável, de um ancoradouro de idéias, de uma amostragem da nossa cultura, por outro lado ele indicia categoricamente também o que é propriedade criativa daquele que navega anonimamente na rede, que está oculto, mas que também é parte dessa bricolagem. Eis o intrigante flâneur da nossa era.

Longe de querer ser uma síntese do que se produz artisticamente aqui no Cariri, o “Cariricaturas em Prosa e Verso” se projeta como uma janela de um apartamento do infinito edifício das manifestações culturais. Olhando através dela é possível ter uma visão tremeluzente e impressionada do que aqui se faz e do que aqui se paga. Ao mesmo tempo em que você encontrará o cangaceiro de Wilton Dedê sentado em sua montaria, correndo bribocas secas, tendo lobisomens e volantes em seu encalço, você também encontrará a viva, a mais que presente opacidade das gravuras de Bruno Pedrosa, que oferecem a você apenas o espaço e nenhum chão.

O grande barato desse livro é que ele proclama, de forma belamente irônica, a perversão total dos comentários anônimos, a forma anarquista mais temida por aqueles que se relacionam coletivamente na rede mundial de computadores. Agora você pode pegar o livro e fazer o comentário que você quiser. Sem que ninguém saiba quem você é. E mais ainda, sem que os autores nem saibam o que você está comentando e nem para quem você está comentando.

Cariri Encantado- Sonoridades! recebe André do Liberdade & Raiz.


Dentre os shows mais festejados pela platéia, que vibrou muito com o Palco Sonoro URCA/BNB na ExpoCrato 2010, esteve o da banda Liberdade & Raiz -liderada pelo André- que faz um chamado Reggae Roots, quando a cadência do Reggae se harmoniza com a poesia mais simples nordestina: é o Reggae Cariri!
A banda Liberdade e Raiz está nos palcos da vida desde 2006 e foi criada na cidade do Crato. Com um estilo inconfundível, tem conquistado um fiel público que reconhece e já canta o seu repertório de musicas autorais nos seus shows.
Pois então, vamos desvendar os mistérios desse Reggae, que da Jamacaica nascido tomou conta do planeta Terra, na conversa com o André no nosso Cariri Encantado – Sonoridades de hoje, quarta-feira, dia 29 de julho 2010.

Encontro Marcado:
Cariri Encantado- Sonoridades!
A partir das 14 horas pelas ondEas da Radio Educadora do Cariri.
Apoio Cultural: Radio Educadora do Cariri
Produção: Oca- Officinas de Cultura Artes e produtos derivados.
Apresentação: Luiz Carlos Salatiel.

o passado condena


O documentário com o assustador título acima, de Sérgio Muniz, é uma reflexão sobre a atuação do Esquadrão da Morte e do famigerado delegado Fleury, chefe do DOPS em São Paulo. Filmado clandestinamente em 1971, nunca foi exibido por representar risco de vida para a equipe. Na época, os negativos foram transferidos para Cuba.

Desde de 2006, seu realizador exibe sem muito alarde em universidades e mostras sobre direitos humanos. Com uma narrativa ainda atual, o documentário utiliza-se de diversos materiais em sua construção – recortes de jornais e revistas, imagens captadas diretamente da televisão, transcrição de depoimentos de pessoas torturadas e fragmentos das obras teatrais “A resistível ascensão de Arturo Ui”, de Bertold Brecht, no Teatro de Arena,  e “O Interrogatório”, de Peter Weiss, no Teatro São Pedro.

arte de segunda mão (colagem por LUPIN)


terça-feira, 27 de julho de 2010

Dói-Dói

Antes de dormir
confesso-te
que ainda tive
forças para
meter-me debaixo
da cama e torcer
o pescoço daquele
bicho-papão sacana.

Não me agradeças.

Coisa minha
pessoal,
intransferível.

Agora podes te deitar
sem medo (mas sempre
é bom guardar um pouco)

estarei do outro lado
do corredor e deixa-me
te dizer outro segredo:

não é a moeda
que se encanta

é a parede
e suas fendas

que adoram
ver crianças
chorando.

Dorme,
pois já durmo
sobre o teclado.

Ah (ia-me esquecendo)
aquela boia do teu
primeiro mar e da tua
primeira piscina

guarda o sal e o cloro
naqueles desenhos
de golfinhos
e baleias.

Enche a boia
(lava antes o bico)

verás que os desenhos
continuam encantadores.

Agora dorme,
pois já durmo
sobre o teclado.

monalisa 8


SOBRE O PARQUE ECOLÓGICO DO SITIO FUNDÃO


Acompanhei nos últimos dias as varias manifestações de setores da imprensa e da sociedade cratense, incluindo alguns visitantes que estiveram no Stand da SEMACE na Expocrato, os quais fizeram cobranças e elogios aos encaminhamentos dados pelo órgão em relação à administração e qualificação do Parque Estadual do Sítio Fundão. Muitos porém, acusando negligência do Estado e cobrando informações acerca do processo de implantação daquela Unidade de Conservação.

Como cidadão cratense, interessado em esclarecer tais fatos, procurei informações na SEMACE e na SECULT sobre o processo, que agora repasso, para que a população cratense fique melhor informada.

De início informo que a SEMACE, escritório do Crato, tem todas as informações necessárias sobre o processo de implantação do referido Parque. Qualquer cidadão cratense pode se dirigir ao escritório daquele Órgão que será atendido em qualquer indagação acerca do processo do Sítio Fundão. Inclusive, a partir de 1º de junho foi nomeado como Gerente do Parque, o professor Mardineuson Sena.

O processo de aquisição da área, bem como de criação do Parque Ecológico do Sítio Fundão, foi um projeto apresentado e aprovado pelo Governo do Estado, na gestão do então Presidente do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente, André Barreto, ainda em 2008.

Quanto às construções previstas para o Parque, informo-lhes que houve a assinatura da Ordem de Serviço pelo Governador Cid Gomes, em junho de 2009, como é do conhecimento de todos, no entanto, a empresa contratada nunca iniciou as obras previstas. Inicialmente, a empresa argumentou a falta de ligação de energia elétrica, fato sanado com a intervenção do próprio Governo do Estado, mas ao final demonstrou total desinteresse na realização do projeto, fato que independe da vontade dos órgãos envolvidos. No momento as obras previstas estão sendo discutidas dentro do órgão com o posterior encaminhamento para outra empresa.

Pelo projeto seriam construídos: Um prédio para a CPMA (Polícia Ambiental), uma sede para a Unidade de Conservação/SEMACE, uma casa para o Gerente do Sítio Fundão, um estábulo para cavalos da CPMA, galpão garagem para máquinas/veículos, um espaço multiuso com auditório e alojamentos.

Neste espaço de tempo, a SEMACE recebeu uma demanda da SECULT, informando que estava em análise um pedido de tombamento da casa, do engenho e da barragem. O pedido foi feito pelos ambientalistas, professor Eldinho Pereira da Silva e Miralva Ferreira Guedes da Silva (ver pareceres dos processos 07106346 3 e 07272650 4, da SECULT - CE), sendo também alertada sobre as possibilidades de impacto ambiental causado pela quantidade de intervenções físicas no Parque.

Observem que o Órgão (SEMACE), por força de Lei, não tem poderes para intervir nestes imóveis enquanto durar o processo de tombamento que também envolve o COEPA e o IPHAN. No entanto, continua a buscar uma solução rápida para a questão.

A SEMACE, de forma tempestiva, acatou a demanda e está reestudando o projeto, de forma a diminuir ao máximo as intervenções físicas e outros impactos considerando os fixos e fluxos que poderão ser instalados na Unidade de Conservação. Foi pedido o desmembrando de dois itens do referido projeto como forma de agilizar a liberação do Parque à comunidade:
I - Abertura das trilhas (cujo mapeamento já está pronto)
II - Sinalização do Parque para facilitar/orientar a visita.

Insisto na informação daqueles que procuram outros meios (rádios, jornais, blogs) para falar sobre o assunto, que a SEMACE, escritório do Crato, tem todas as informações necessárias sobre o processo de implantação do Parque Estadual Sítio Fundão, e que estas informações estão ao alcance de todos. Procurem o Professor Mardineuson, gerente do Parque. Lembro ainda que todos os processos de Governo são públicos e podem ser acessados por qualquer cidadão através da Internet.

Quanto à proibição de visitas, informo-lhes que o processo envolve a Promotoria Pública do município do Crato e, segundo o próprio Promotor, “é uma questão de segurança do Parque e das pessoas”. Mas com o envio de documento, ressaltando os objetivos da visita, a autorização pode ser expedida pela gerência do Parque, mediante a viabilização e o acompanhamento por parte da CPMA, sempre no turno da manhã.

As dúvidas podem se tiradas com a Gerência de Unidade de Conservação (88) 8844 5750 e (88) 3102 1288. E as que não forem tiradas em Crato podem ser dirigidas à Sra. Elisabete Romão, Coordenadora Florestal, na SEMACE Fortaleza, à qual está vinculada a Unidade de Conservação Parque Sítio Fundão, pelo telefone (085) 3101-5546.

Um abraço

Wilton Dedê

SOPA DE LETRAS


Lupiniano


"Tudo que a humanidade sofreu com as guerras, com a pobreza, com a pestilência, com a fome, com o fogo e com o dilúvio, todo o pavor e toda a dor de todas as doenças e de todas as mortes — tudo isso se reduz a nada quando posto lado a lado com as agonias que se destinam às almas perdidas. Este é o consolo da religião cristã. Esta é a justiça de Deus — a misericórdia de Cristo. Este dogma aterrorizante, esta mentira infinita: foi isto que me tornou um implacável inimigo do cristianismo. A verdade é que a crença na danação eterna tem sido o verdadeiro perseguidor. Fundou a Inquisição, forjou as correntes e construiu instrumentos de tortura. Obscureceu a vida de muitos milhões. Tornou o berço tão terrível quanto o caixão. Escravizou nações e derramou o sangue de incontáveis milhares. Sacrificou os melhores, os mais sábios, os mais bravos. Subverteu a noção de justiça, derriscou a compaixão dos corações, transformou homens em demônios e baniu a razão dos cérebros. Como uma serpente peçonhenta, rasteja, sussurra e se insinua em toda crença ortodoxa. Transforma o homem numa eterna vítima e Deus num eterno demônio. É o horror infinito. Cada igreja em que se ensina esta idéia é uma maldição pública. Todo pregador que a difunde é um inimigo da humanidade. Em vão se procuraria uma selvageria mais ignóbil que este dogma cristão. Representa a maldade, o ódio e a vingança sem fim. Nada poderia tornar o inferno pior, exceto a presença de seu criador, Deus. Enquanto estiver vivo, enquanto estiver respirando, negarei esta mentira infinita com toda minha força, a odiarei com cada gota de meu sangue."
Robert G. Ingersoll

segunda-feira, 26 de julho de 2010

DROPS

PRA QUEM ACHA QUE LUPIN É

MEDÍOCRE ATÉ NO NOME:

ARSÈNE LUPIN é um grande pesonagem

da ficção policial do início do séc. XX

e nome de uma famosa revista do

gênero (ficção policial) da década de

'30 do séc. XX. E MAIS NÃO DIGO!


Lupin, o esgremista

Dize-me qual o íntimo relacionamento
que tens com tuas fezes exceto aquele
tempo em que menino barrigudo lombri
guento sob um sol de outubro do cari
ri caminhavas amudado indolente com
raiva do mundo entregar à enfermeira
aquele potinho (pasmem) transparente
que logo ao balcão do atendimento do
funrural a recepcionista gritava bem
alto: "nem preciso ver, tu tem soli
tária e das grandes!" Dize-me qual
agora o teu íntimo relacionamento
com tuas fezes exceto quando sensi
velmente esqueces do teu passado
infantil e mágico e sofres por toli
ces vis de sujeitos trogloditas em
matéria de alma e de bons modos
com a Arte Pop. Dize-me lupin por
que sofres menino hoje afamado
inteligente. Dize-me.

DROPS


O Rebento

Sobre o tanque
de lavar roupa:

a flauta
do meu filho.

É uma flauta doce
do jeito que é doce

seu olhar matreiro
sua voz de criança.

Se nas férias
fizer tatuagem

será seu rosto
tocando flauta.

A flauta doce.

Com a doçura
da bala soft.

SOPA DE LETRAS


domingo, 25 de julho de 2010

Poemas de Rilke - Trad. de Augusto de Campos

CONCLUSÃO

A morte é grande.
Nós, sua presa,
vamos sem receio.
Quando rimos, indo, em meio à correnteza,
chora de surpresa
em nosso meio.

Do Livro de Imagens, 1902


A PANTERA

(No Jardin des Plantes, Paris.)


De tanto olhar as grades seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na terra:
grades, apenas grades para olhar.

A onda andante e flexível do seu vulto
em círculos concêntricos decresce,
dança de força em torno a um ponto oculto
no qual um grande impulso se arrefece.

De vez em quando o fecho da pupila
se abre em silêncio. Uma imagem, então,
na tensa paz dos músculo se instila
para morrer no coração.


A MORTE DO POETA

Jazia. A sua face, antes intensa,
pálida negação no leito frio,
desde que o mundo, e tudo o que é presença,
dos seus sentidos já vazios,
se recolheu à Era da Indiferença.

Ninguém jamais podia ter suposto
que ele e tudo estivessem conjugados
e que tudo, essas sombras, esses prados,
essa água mesma eram seu rosto.

Sim, seu rosto era tudo o que quisesse
e que ainda agora o cerca e o procura;
a máscara da vida que perece
é mole e aberta como a carnadura
de um fruto que no ar, lento, apodrece


O POETA

Já te despedes de mim, Hora.
Teu golpe de asa é o meu açoite.
Só: que fazer da boca, agora?
Que fazer do dia, da noite?

Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.


A QUE VAI FICAR CEGA

Ela sentou-se como as outras para o chá.
Me pareceu então que segurava a taça
de um jeito diferente das que estavam lá.
Pouco depois sorriu. Um sorriso sem graça.

Quando se levantaram, enfim, conversando,
e juntas percorreram numerosas salas,
devagar, ao acaso (entre risos e falas)
de súbito, eu a vi. Ela seguia o bando

das outras, concentrada, como que alguém que deve
cantar diante de um grande público em instantes.
Sobre seus olhos claros e rejubilantes,
como a incidir num lago, a luz caía, leve.

Precisava de espaço. Andava lentamente.
Andava quase como se não fosse andar.
Como se houvesse algum degrau à sua frente.
Como se, de repente, ela fosse voar.

Dos Novos Poemas, 1907.

A arte de narrar merecidamente premiado



Projeto Narrativas Orais no Barro Vermelho, premiado pelo programa MINC Mais Cultura.



De fato, a oralidade funda a necessidade da escrita, do código impresso. Seja, na areia, no barro ou em placa de argila cozida, os transmitidos relatos orais de pessoa para pessoa, de geração para geração e de povo para povo, ganham outra dimensão quando eternizados no registro da escrita. (CAVALCANTI,2002:28).


A idéia de coletar contos, lendas, cantigas, brincadeiras, músicas encenadas nos dramas e toda literatura popular que nasce do verbo e do imaginário de moradores antigos do Barro Vermelho, hoje na boca dos moradores Alto da Penha, a tempos me instiga. O tema foi objeto de pesquisa junto às comunidades narrativas orais de Crato em 2004 e 2005, o que me deu suporte para compor a monografia que defendi pela Faculdade de Filosofia do Recife.

O Projeto Narrativas Orais no Barro Vermelho é fruto dessa vivência e foi recentemente premiado pelo programa Mais Cultura do MINC. Terá como produto final a publicação de um livro cujos escritos e ilustrações ficarão a cargo dos 50 estudantes do Ensino Fundamental da Rede Pública de Ensino do Crato envolvidos no Projeto. Eles participarão de oficinas de formação nas áreas de identidade cultural, fotografia, desenho, pintura e produção textual.

Com o apoio da Secretaria de Cultura Esporte e Juventude de Crato, as ações do projeto serão concentradas na Biblioteca comunitária Luis Cruz, localizada no bairro Alto da Penha.

Durante um ano a comunidade do Alto Penha, sob a égide do verbo falado, fará um regresso a infância da ficção literária que se confunde com a infância da humanidade em simetria com os verbos migratórios dos tempos de Sherazadze das Mil e uma noites e que desde então alimenta e ocupa o imaginário de todos os povos. Tal qual um mosaico construído de pedaços de tempo a literatura oral é a memória do mundo a criar e a ofertar alguma coisa do próprio mundo dos homens.

Desde a sua origem, ao homem foi dado o poder de expressar-se, de comunicar-se. Contam seus feitos, seus domínios, seus estados interiores, o mistério da existência. Narrativas orais que representam à alma humana, o convívio social, as manifestações do cosmos. Mitos, crenças, rituais primitivos revelam os estados imaginativos, explicam os fenômenos naturais não submetidos às leis racionais. Criações anônimas tão propícias a estética da poesia a invadir as almas dos literatos que em seus escritos registram tamanha beleza e grandeza. “Ao lado da literatura, do pensamento intelectual letrado, correm águas paralelas, solitárias e poderosas da memória e da imaginação popular” (CASCUDO).

Na contemporaneidade as telas imagéticas hipnotizam, seduzem e roubam o lugar das conversas antes aconchegantes nas cozinhas, nas calçadas, nos terreiros. Essa ausência dos prazeres do ócio desencadeia estados interiores permeados de solidão, de individualismo. O que resulta dessas formas de narrar inquieta e nos convida a percorrer caminhos outros para reencontrarmos a afetividade perdida em meio ao fetiche do consumo.

De forma que, o retorno do convívio com as narrativas orais, com os elementos que compõem o reino popular é mister, pois a muito o homem em sua caminhada vem perdendo o que lhe é liricamente humano em meio a tanto cimento armado.


Entretanto, o sentimento pretérito permanece latente e o que se busca é sua conexão com o presente para propiciar estabilidade as emoções e estimular hábitos e comportamentos harmônicos entre as criaturas e o mundo.

Espero, leitor, que ao terminar a leitura desse artigo, bem como mais adiante da leitura do livro que por nós será impresso e publicado, consiga sair de frente da tela do seu computador um pouco mais convencido de que a tradição oral vai muito além da própria tradição oral e mostrar aos seus pares porque Todo o artista deve ir onde o povo está, como diz Milton Nascimento.


Por Ana Rosa Borges, coordenadora.





pegando no gancho do capitão gancho


Mais uma vez sou citado no blog do crato:
"...desde que ali aportou - de mala e cuia - e de forma inopinada, um "cartunista" (medíocre até no nome: "Lupin", que dizem ser pequeno no físico e na personalidade) com seus crtuns-pornô agressivos e ofensivos que vão do deboche dos conceitos religiosos da maioria da população brasileira (desrepeitando a constituição) até as taras e desvios sexuais dignas do mais reles bordel. A esse Lupin se deve a decadência do "cariricult" , hoje pouco visto devido a sua abusiva obsessão pela exposição gráfica do órgão sexual masculino expondo crianças e senhoras de idade a cenas chocantes , ridículas, sujas e sem nexo..."

pulpifex maximus


18
o conceito cristão de Deus - Deus como Deus dos doentes, Deus como aranha, Deus como espírito - é um dos conceitos divinos mais corrompidos que já houve na terra; até representa, talvez, o nível mais baixo na evolução descendente do tipo divino. Deus degenerado em contradição da vida em vez de ser a glorificação dela e o seu si eterno. declarar a guerra em nome de Deus, à vida, à natureza, à vontade de viver! Deus, a fórmula para todas as calúnias do "lado de cá", para todas as mentiras do "lado de lá" . o nada divinizado em Deus; a vontade para o nada santificada!...
(o anticristo, f. nietszche)

DROPS

uma ótima caricatura do woody allen por laurent.

para complementar a ótima postagem do nirton .

tudo pode dar certo?

 Woody Allen dirige Evan Rachel Wood e Larry David
foto California Productions
Dizem que Woody Allen é repetitivo, que cada filme é mais do mesmo, que é verborrágico, discursivo sem vírgulas, encucado metido a engraçado.  Não vejo assim. O cineasta nova-iorquino é, sobretudo, original, fidelíssimo aos seus conceitos, não faz manobras para expor seu ponto de vista. O cinema de Woody Allen, principalmente os filmes realizados a partir dos anos 80, trazem um conteúdo filosófico inquietante e admirável. E essas reflexões da realidade são expressas de maneira sensata, divertida, de humor quase negro e indiscutivelmente inteligente.
Woody Allen não é um "comediante", por mais que sua cara deponha em contrário, e mesmo quando não protagoniza seus filmes. Por trás daqueles óculos de lentes grossas (sua marca registrada) de um homem franzino, bate um coração cheio de dúvidas, interrogações e nenhuma resposta. O que Allen questiona em seus filmes são perguntas que necessariamente não precisam de refutação. Seu cinema não é um talk show filosófico, não é um Quiz como teste de conhecimentos sobre a esquisitice da raça humana. Em cada filme o cineasta parte de si mesmo, e desse ponto nevrálgico parte do homem como ser complexo, parte da vida como algo que não faz sentido, ou se sentido há, é sempre movido a perplexidade.
Amor, paixão, sexo, religião, neuroses comportamentais, relacionamentos afetivos e outros precipícios, são temas pontuais nos mais de quarenta títulos de Woody Allen, que tem a sorte de poder realizar no mínimo um filme por ano, e assim pôr à vista seus diálogos analíticos.
Seu mais recente trabalho, "Tudo pode dar certo" (Whatever works), em cartaz em algum cinema que se preze, é mais um belíssimo testemunho de um artista que não cede à passividade, e prefere a crítica mordaz à aceitação do que é só porque assim lhe parece.  No filme um sessentão, ex-professor universitário, separado, solitário, considera-se ser o único capaz de compreender a insignificância das aspirações humanas e o caos do universo. Inicialmente vemos o personagem como um rabugento, mau humorado, grosseiro, e podemos até continuar achando, mas é impossível não sucumbir aos questionamentos colocados de forma espirituosa, e se envolver com as situações que se sucedem ao longo da história. O humor que se observa no filme é refinado e ao mesmo tempo ácido, cru, implacável.  Fundamentalistas cristãos, judeus e evangélicos, ricos e pobres, homens e mulheres, não escapa ninguém, não há perdão para o chato.
Amante do jazz, Woody Allen capricha cada vez mais na trilha sonora. E dessa vez ouve-se "Desafinado" de Tom Jobim e Newton Mendonça, numa versão de Stan Getz, e "Menina Flor", de Luiz Bonfá, por ninguém menos que o grande  Charlie Bird.