TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 30 de junho de 2010

o amor noves fora

são tão grandes essas horas
que me ponho a esperar
até que chegue o momento
certo

toda vez que amanhece
coloco meus pés na água quente
antes de riscar o chão com minhas
solas desgastadas


só então o dia descortina
sua cara de mil cores pintada
e nela vejo uma mulher nua
tomada de compromissos
desejosa de meus braços


escrevo-lhe um poema
mas ela não leria uma linha
prefere cuidar de suas unhas
com que riscaria seu nome
em meu peito
terminando do lado esquerdo
onde se escreve a palavra fuga


quando era menino
evitava pensar
no desespero das mulheres lá de casa
ansiando nuvens
viajando para cidades além da fronteira
que sequer existia


agora que estou às portas
do oculto
sinto o peso do meu coração
crepitante de vontades
que não se fazem
o amor noves fora


o amor noves fora?
um abismo

3 comentários:

Domingos Barroso disse...

Sempre um prazer
ler seus versos.

Forte abraço.

José do Vale Pinheiro Feitosa disse...

Chagas,

O amor noves fora nada. Faltam nove para se completar o décimo que somos. Aliás, no ordenamento demográfico de hoje não somos o décimo, somos o sétimo nos números ordinais: quatro avós, pais, nós, a mulher e os filhos. Isso é o amor, multiplicado com outras dimensões abissais na oitava casa. Aquela que nos casa e quer casa.

chagas disse...

Domingos, José, um abraço pra vocês.

Durante muito tempo morei no cruzamento da André Cartaxo com a Zacarias Gonçalves. Hoje, é a velha casa que mora em mim. Lá havia muitas mulheres, primas e irmãs. Me lembrei delas. Fiz uma homenagem no poema que veio de outra mulher que tb ficou pra trás, completamente alheia às mulheres da minha família.

Valeu.