TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 31 de março de 2010

Musa

Não peço a deus um tostão
mas confesso já chorei
por seu corpo

nunca vem,
nunca se desencanta
da rachadura da parede.

Perdi minha moeda faz tempo
desde então a mesma montanha
sobre o teto.

Um peso horrível,
uma assombração.

Seu perfume bebo todas as manhãs
penso que é água mas é das nuvens.

Seu rosto é redondo ou oval
um ovo de páscoa na poncheira.

Seu colo lânguido fugidio
para não esquecermos
Casimiro de Abreu.

Eu me planto na varanda
olhando novas andorinhas
com seus gravetos nos bicos
atentas às minhas rugas da testa.

"tão moço, mas já tem 44..."

Não sei o que essas andorinhas
nesta hora da noite têm a ver
com meu silêncio
e com minhas rugas.

Estou envelhecido,
certamente.

Mas as musas não, ora.
Suas saias esvoaçantes.

Seus collants,
ocasiões especiais.

Seus batons,
bem, seus batons
são demais.

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