TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 29 de agosto de 2009

A questão da corrupção

Por - Marcos Damasceno
Não entendi ! Alguém censurou esta postagem. O que aconteceu?

Últimamente tenho acompanhado muitas críticas aos governantes, relacionadas principalmente a corrupção. Será que estes que tanto criticam têm moral, e um passado limpo para tais críticas ?
A palavra corrupção deriva do latim corruptus que, numa primeira acepção, significa quebrado em pedaços e numa segunda acepção, apodrecido, pútrido. Por conseguinte, o verbo corromper significa tornar pútrido, podre. No Brasil existem pessoas honestas, mas há também pessoas (um número muito maior) sem ética e sem respeito pelo próximo e pela Pátria. Que só pensam em si mesmas. Neste caso, o egocentrismo (egoísmo) e o individualismo andam lado a lado. Existe um sistema de corrupção tão forte, que a falta de cumprimentos de leis e de valores morais estão exterminando os valores éticos brasileiros. É um problema de colonização, que em algumas regiões se deu pela via da emancipação e em outras pela via da exploração. Toda essa complexidade traz uma herança boa e outra ruim, moralmente falando. Dessa formação social surgiu também a formação moral de cada povo.
Devido às mudanças e circunstâncias comuns à vida coletiva, o surgimento de uma autoridade deveria ser natural. Seria um líder sem qualquer direito superior aos demais, porém não deixava de ser uma autoridade, onde sua opinião definiria o destino do grupo. Eram várias as situações em que se viu a necessidade de um líder. A partir do momento em que se formalizou a organização da sociedade, surgiram as normas, sejam estas codificadas ou não. Com a organização da sociedade, surgiu a relação representante/representado. Isso pra todas as instituições, todas as agremiações. Automaticamente surgiu também o poder. O poder de representar. Podemos observar isso em todas as sociedades humanas, as civilizadas e as selvagens, apresentam-se já organizadas, com um poder representativo permanente, ainda que rudimentar. Desde a antiguidade, o homem já tinha em mente a necessidade da sociedade submeter a um poder. Sob essa ótica, os homens públicos, sábios da época, asseguravam que a sociedade para sua integridade moral e para a ordem social necessitava das normas de um poder advindo de um líder, de um regime. Com isso, veio o verdadeiro sentido do poder: não a submissão de uns homens a outros, mais sim, o de todos os homens às normas de um poder ou de um regime. A formação do poder surgiria de um contrato entre os homens. Porém, a relação representante/representado vai mais longe, também são representados os defeitos e as qualidades de cada parte. As mentalidades, as visões, os anseios, as demandas. Progressistas e não progressistas (reflexo do atraso). O representante tem o perfil do representado, e vice-versa. A regra é esta. Dificilmente foge disso.
Outro fato relevante foi a influência, tradicionalmente, do poder econômico na escolha do representante. O capital intelectual muitas vezes é desprezado, prevalecendo o capital financeiro. Isso caracteriza uma “democracia monetária”. Porém, nos últimos anos vimos muitos de casos em que a formação social do poder se deu de maneira social/intelectual. No entanto, ainda são casos isolados. A representatividade precisa, em regra, ser melhorada, o homem precisa rever seus conceitos, a sociedade necessita de uma nova arrumação social. Não é novidade para ninguém ver o poder econômico influir nas escolhas representativas. É a pura realidade dos fatos. É a definição realística da situação. Segundo Rodrigo Rocha Loures, Presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná, ‘a questão da corrupção no Brasil é algo que tem suas bases no período colonial, tempo em tudo era das famílias ou da burocracia estatal. Um problema advindo da nossa colonização. É uma decorrência trágica, mas natural, desse traço cultural’. Implica dizer que, a corrupção está no nosso ‘DNA’, às vezes “recessivo”, às vezes “dominante”. O fato é que o nosso sistema sócio-cultural é corruptor. Vale salientar que, a corrupção nos representantes é fruto da corrupção na sociedade (representados). Existe muita hipocrisia nisso. Existem muitas pessoas corruptas exigindo honestidade, ética e decência; muitos representados corruptos exigindo representantes honestos, éticos e decentes. Constantemente pratica-se a corrupção financeira, moral, religiosa etc. Quer um exemplo bem comum? Alguns quando estão numa agência bancária querem cortar a fila. Isso é corrupção. E depois querem condenar a corrupção. Os mesmos que praticam a corrupção, corrompem, são os que exigem (com muito moralismo) a ética, a decência e a honestidade. Aí é onde mora a hipocrisia. Tenho em mente que se existe um corrupto, existe também um corruptor. Luis Fernando Veríssimo, disse ironicamente: “Brasil: esse estranho país de corruptos sem corruptores”. Enfim, a representação é o espelho dos representados. No julgamento de Jesus Cristo por Pilatos, o povo foi consultado: “Jesus ou Barrabás?” E o povo escolheu Barrabás para ser absolvido e Jesus Cristo para ser condenado. E o arrependimento é histórico. É o povo e suas escolhas. No processo de escolha sempre tem representantes éticos, decentes e honestos. E muitas vezes, são escolhidos, pelos representados, representantes corruptos.
Não quero, portanto, dizer que a culpa toda é do representado que escolhe. Mas a maior parcela é da sua responsabilidade. Em regra, a sociedade aceita, e de certa forma até convalida com a situação. Assistir à corrupção faz com que o cidadão passe a descrer da capacidade da Legislação do nosso País de coibir erros. Daí, quem age certo começa a se questionar se vale a pena andar dentro da Lei. Muitos mesmo com as mãos sujas da corrupção, ainda querem negar ou jogar a culpa para os outros. Vejamos um exemplo: aquele bandido de rua (como é conhecido) quando é abordado pela polícia, pego no flagrante, ao cometer um assalto diz: “Rapaz não sei de nada não. Eu tava bem aqui assim. Eu ando com minha mãe, oh doido... Eu nem gosto de sair de casa!”. Isso só ocorre pela brecha da impunidade. Nossa Legislação é subjetiva e frouxa. A corrupção existe no mundo todo. A impunidade que é algo nosso e o grande agravante. A sociedade está corrompida, mas o maior corruptor é a ideologia vigente. Efetivamente isso se deve àquelas imperfeições inerentes aos seres humanos. Ideais de justiça, igualdade e liberdade são sempre esquecidos quando está em jogo privilégios e manutenção (ou detenção) de poder.
Outro inibidor que pode ser adotado, como regra, para redução e/ou combate da má representatividade é a avaliação da procedência daqueles que desejam o pôster de representante pela Justiça. Um “nada consta”. Puxar a ficha de todos seus atos. E adotar-se regras rígidas quanto a isso. Igualmente quando vamos fazer um crediário, em que nossa ficha (procedência comercial) é vistoriada. Ou vamos adquirir um automóvel, em que a sua ficha documental é vistoriada. Dependendo da procedência (se boa ou ruim), o postulante ao cargo de representante deveria ter o direito de representar assegurado ou negado, dependendo da sua ficha (procedência judicial). Isso pelo senso comum dos bons costumes e da integridade físico-moral da sociedade.
Na nossa região (Região Nordeste) a sociedade era representativamente desorganizada, sem poder de força, de mobilização. Tínhamos um sistema representativo machista (não tinha espaço para a mulher), personalista (não tinha espaço para o jovem) e capitalista (cooptação de forças e corrupção do processo de escolha dos representantes através do capital financeiro). E ainda existia uma resistência ao novo, à mudança. Mas esta realidade está mudando. Estão surgindo outros valores culturais, conceitos morais, princípios éticos, outras normas comportamentais, frutos da socialização de informações, das tecnologias, da consolidação de sistemas democráticos, da estrutura midiática moderna que adota uma agenda positiva. Vejamos o exemplo do Portal SRN. Vivemos na atualidade a liberdade e a prosperidade. Temos nossos direitos societários garantidos pelo menos no papel. O problema foi reconhecido. Várias campanhas de conscientização. Uma sociedade mais organizada em classes, mais esclarecida e mais ativa. Enfim, uma série de fatores que contribuíram para a redução da interferência e influência do poder econômico no poder representativo. Houve avanço, no entanto, há muito que melhorar.
Para Tizuka Yamasaki, consultora espiritual, ‘o que diferencia uma pessoa de outra é o seu imaginário, a interpretação que dá aos fatos da vida’. Para tanto, está faltando consciência, e sobrando paciência. E consciência só adquire através de um processo conscientizador contínuo. O debate não foi feito ainda na dimensão ideal. Não temos tempo a perder. É hora de mudar. Mas mudar com responsabilidade. Mudar em cima do que pode dar certo. É possível transformar a nossa sociedade. É possível mudar esta realidade. Está na Bíblia, em Romanos 12.1-2: “Transformai-vos pela renovação da vossa mente”. Conclui-se, porém, que a mudança de perfil da relação representante/representado, para aqueles que condenam a corrupção, só ocorrerá com a mudança de atitude. Agindo de forma honesta e legal. Para exigirmos a parcela de responsabilidade dos outros, temos que, primeiro, cumprir a nossa. Penso assim. Senão, vai continuar a demagogia, o cinismo e o maquiavelismo ainda existentes. A mudança social só será possível com a mudança pessoal de cada pessoa. Lanço o bordão: “Somos o que escolhemos”. E isso tem conseqüências, dependendo da escolha do representante pelo representado. Boas e ruins. Já dizia um pensador: “As escolhas que fazemos ditam a vida que levamos”. É preciso almejar novos caminhos. Sem palavrório falso, sem discursos inconsistentes e sem idealismo vazio. Tenho a certeza de que ainda existe espaço para a esperança e o otimismo em nosso meio social.
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NOTA DA ADMINISTRAÇÃO DO BLOGUE:
O Cariricult foi criado com o objetivo de ser um espaço de construção coletiva dedicado à livre expressão, independente de ideologia política, credo religioso ou qualquer outra opção ou orientação de pensamento ou estilo de vida. A única restrição que se possa fazer aqui é no tocante ao ataque pessoal de forma desrespeitosa e injusta. Portanto, nunca se admitirá qualquer tipo de censura ou restrição que seja à manifestação de pensamento ou ponto de vista, desde que seja devidamente assinado ou indicado a fonte.
Desconheçemos, por fim, a causa que levou o autor desta postagem a indagar a possibilidade de que tenha havido censura. Mas, refutamos, peremptoriamente, a priori, qualquer ação tolhedora do livre pensamento ( 05:01 de 30/08/2009).

4 comentários:

Carlos Rafael Dias disse...

Prezado João Ludugero,

Inicialmente, saúdo o seu retorno ao blogue, depois de uma curta porém expressiva ausência.

Sobre a sua indagação de que poderia ter tido algum tipo de censura à sua postagem, garanto que isso nunca ocorreu aqui e jamais ocorrerá.

Somente eu e Salatiel temos o status de administrador do blogue. Da minha parte, não houve nenhum tolhimento à necessária liberdade de expressão. Posso afirmar o mesmo em relação à Salatiel.

Fique tranquilo.

João Ludgero Sobreira Neto Ludgero disse...

Foi boa Rafael, quando coloquei não entendi, foi justamente sabendo que de você ou Salatiel não viria a censura. O que então aconteceu? Postei este texto, consutei o blog e ele lá estava. Depois o mesmo sumiu.

Saudações Geográficas!
João Ludgero

Carlos Rafael Dias disse...

Ludugero,

Eu mesmo li a postagem, quando cheguei a me perguntar se o autor seria o filho do professor Alderico Damasceno. E, agora, lembrei que havia uma postagem em duplicidade (de Alexandre Lucas) e eu deletei uma. Talvez, nesta operação, de forma inadvertida, eu tenha também excluída a sua. Se foi isso, foi totalmente acidental. O que importa, agora, é que o mal-entendido está esclarecido.

Esperamos sempre contar com s suas sempre instigantes e inteligentes colaborações.

Um abraço.

João Ludgero Sobreira Neto Ludgero disse...

Valeu! E o Autor não é Marcos de Alderico não.