TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 29 de junho de 2009

A manutenção, intensidade e continuidade da modernidade.

Estimulado por um ensaio de Idelber Avelar (O pensamento da violência em Walter Benjamin e Jacques Derrida) e uma resenha feita pelo Marcos Leonel de um livro de Peter Gay sobre o Modernismo, retorno a este tema que me é caro e que tanto trabalho me deu ao escrever o livro Paracuru.

Toda ocasião em que a modernidade seja tema, tema em si mesmo, torna-se um paradoxo de dualidade, pois vivemos sua era (mesmo que uma pós ou uma desconstrução desta) e assim torna-se mais difícil vê-la de fora. De qualquer modo a modernidade, ou os tempos históricos que vivemos tem sido o mais estimulante para os poderosos recursos que a humanidade possui ao olhar para si. Onde se encontraria o lugar deste desafio paradoxal do pensamento, da cultura e do progresso humano desde o Renascimento, passando pela Reforma, pelo Iluminismo (a Ilustração) e a Revolução Burguesa? Encontra-se na própria natureza da REVOLUÇÃO.

Mesmo que formas abrandadas da análise da contradição tenham surgido no pensamento humano, o certo é que a dialética tem sido poderosa para os tempos revolucionários. E são tempos revolucionários pelo enorme poder dispersor mundial que as formas e as idéias que alicerçam a modernidade possuem inclusive pelos instrumentos institucionais (como Estados Nacionais, a sistematização das finanças mundiais e as corporações produtivas espalhadas como multinacionais e todos aliados a um comércio mundial quase orgânico).

Se retornarmos aos tempos das sucessivas revoluções francesas, incluindo o tempo imperial e a de 1848, o certo é que as classes sociais que se uniram para superar o feudalismo já traziam promessas diferentes para cada classe no novo que se estabelecia. Ao sedimentar-se como a classe do poder, a burguesia ao tentar conservar as regras vitoriosas dos diversos momentos revolucionários, tornou-se violenta por natureza. A partir daí temos a violência da burguesia como aquela preservadora do direito e a dos operários com a fundadora de outros direitos.

Igual como resenha o Leonel em Peter Gay, a estética da modernidade como a superação dos cânones existentes (a era Vitoriana já era pós-revolução inglesa e de ascensão do poder da burguesia) e de alguma forma a adição do “estar” à velha regra da filosofia idealista do “ser”. Isso revela ou iria em oposição ao desejo da burguesia de “conservar” a ordem por ela conduzida e como se fez em todas as eras da história, alcunhando a “impossibilidade” do mundo ser de outra forma.

Acontece que a luta de classe não foi nem uma ideologia (ou diretriz política) ou uma arma de ação, a modernidade como conceito em arte, estilo de vida e na cultura se encontra na matriz dialética de “um outro mundo é possível”. E esta “possibilidade” (Marx poderia ter tido uma “visão” da história influenciada apenas pelas enormes lutas para fundar o novo) se tornou o movimento contínuo da humanidade.

A intensidade do movimento e sua continuidade sustentam-se na consolidação de novos direitos como os trabalhistas, humanos e sociais na velha ordem burguesa e como “novidade” (uma “possibilidade” pré-revolucionária) nas culturas e economias dos demais continentes. Por isso mesmo a modernidade é um fenômeno mundial, igual jamais tenha talvez se encontrado na história, que feito um bumerangue se volta continuamente para o corpo europeu que a fundou.

Um comentário:

Marcos Vinícius Leonel disse...

Meu caro José, grande texto!

O Modernismo é realmente fascinante. Sobre essa vertente política, o Dolf Oehler escreveu um livro fora de série: O velho Mundo Desce aos Infernos.

Agora estou ´quase de férias e poderei retomar a leitura do seu livro, em breve comentarei aqui.

Um grande abraço