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quarta-feira, 30 de julho de 2008

Uma Outra Coisa Sobre o Amor - ROBERTO FREIRE






Uma ou outra coisa sobre o amor
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De repente um súbito e inesperado encantamento veio revelar possibilidades de amor em mim, como antigamente. Isso me assustou, porque conheço bem os tempos de meus sentimentos e de minhas emoções, sobretudo os de passagem de uns para outros, por exemplo do encantamento para o amor e deste para a paixão. Com o passar do tempo, porem, foram se tornando cada vez menores e menos perceptíveis. Por isso, temo que agora, só porque houve encantamento, eu já esteja perdidamente apaixonado. Resolvi, pois, refletir sobre uma ou outra coisa que durante a minha vida aprendi com e sobre o amor.

Só acho suportável viver quando estou amando. A vida, em si mesma, não me parece interessante.
Por essa razão só escrevi livros sobre o amor. E existe outra razão para viver e para escrever ?? Em 1965, em meu primeiro romance, Cleo e Daniel, fiz uma frase que acredito exprimir sintética e completamente essa realidade minha: "E o amor, não há vida, o contrario da morte".

Mas é muito difícil, quase impossível para mim, entender o amor. Como me sinto agora, intelectualmente perplexo, por estar vivendo esse encantamento. Não compreendo nada, mas vou me entregando gostosamente. E me perguntando: adianta alguma coisa entender, compreender, esclarecer as possibilidades e os caminhos do amor ?? Ele por acaso se tornaria melhor se pudéssemos submete-lo ao processo racional, do que vivido espontaneamente pelos sentidos, pelas emoções e pela sensualidade ?? Eu sei que não, que não adianta, que isso é inútil. Um dia resolvi a coisa assim: Do amor só pode fazer autopsia, jamais biopsia".
Isso me parecer verdade porque é impressionante como conseguimos explicar perfeitamente todos os nossos erros táticos, toda a nossa burrice e toda a nossa cegueira no amor, mas SÓ DEPOIS que o amor acaba. Mas quem consegue entender o parceiro DURANTE a transa, que é competente para prever as conseqüências de pequenas irresponsabilidades nossas ENQUANTO o amor dura ?? Só autopsia, nenhuma biopsia.

2 comentários:

jflavio disse...

Socorro lembra o nosso Roberto Freire que partiu para uma viagem intergaláctica nesses dias. Poeta, romancista, psicanalista, criador da Somaterapia. Roberto Freire ressuscitou entre nós a importância do corpo, secularmente inumado pelo catolicismo. Ressuscitou o prazer, pôs o orgasmo na ordem do dia .

socorro moreira disse...

Muito bem lembrado !

Defendeu a vida , que já havíamos escolhido !

Abraços , querido !