TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sexta-feira, 25 de julho de 2008

CLASSE MÉDIA E FAVELA

Bossa Nova e Jovem Guarda. Zona Sul e Zona Norte. Esquerda e Direita. Duas partes da geografia de uma cidade. Seria fácil assim se não fosse o Rio de Janeiro uma das geografias urbanas mais intrincadas do mundo.

Abordando esta última questão a geografia da cidade. Normalmente as cidades são coleções de fases de sua história. As partes das cidades incrustam suas elites fundadoras numa determinada área, a pequena burguesIa noutra, a burguesia emergente em expansões, os operários em torno das indústrias e assim por diante. O Rio de Janeiro por ter sido capital mais antiga do país e cidade fundadora da nacionalidade não tem esta geografia exatamente.

Além de ter sido a capital a cidade, no seu nascedouro, recebeu as levas de escravos libertos da escravidão, quando o campo não os absorvia e nenhuma reforma agrária distribuidora de terras foi realizada. Então foi no Rio de Janeiro que no estágio das reformas Pereira Passos, quando a cidade se afrancesou, os negros foram para os morros, no mesmo tempo em que os retornados da guerra de canudos adotaram o nome de Favela para os espaços do barracão. Favela: quem é do sertão do Ceará e Pernambuco conhece a planta.

Com a emergência da revolução de 30, as reformas e a legislação que instituiu nova ordem econômica e social, a cidade do Rio de Janeiro recebeu enormes contingentes populacionais. Assim os antigos espaços da burguesia clássica foram intercalados por bairros populares. Resultado: a geografia da cidade é uma mistura de retalhos populares e da classe média. A única região que foge à regra é a Barra da Tijuca.

A cidade do Rio de Janeiro, para o bem o para o mal, é uma cidade talhada para viver em paz. Qualquer emergência econômica, longos períodos de concentração da renda e do empobrecimento popular, eleva a tensão na cidade. A violência se horizontaliza por todos as regiões e ocorre entre vizinhos. Por isso é que ela se antecipou em violência em decorrência da falta de crescimento econômico dos últimos 20 anos. depois é que as demais cidades abriram os olhos para o fenômeno.

A consciência média do carioca a respeito do outro é muito maior que em outras cidades. Inclusive pela sua geografia com as classes médias e ricas embaixo e os pobres na vizinhança do alto. Ambos se examinam, ninguém ignora o modo de vida do outro, ninguém pode alegar desconhecimento. E como consciência é tudo, daí grande esperança para uma sociedade democrática caso a concentração da renda se reduza e os meios públicos (educação, saúde, segurança etc.) se tornarem equânimes. De qualquer modo, sem isso é guerra de guerrilha urbana para sempre.

Agora, voltando ao início. E a questão da Zona Norte, Sul e Subúrbio (hoje Zona Oeste)? Como isso se refletiu na música?

Leia no próximo post.

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