TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 30 de junho de 2008


AINDA MAIS DO MESMO


Entra ano e sai ano e os artistas do Crato continuam ensaiando a mesma cantilena de sempre. A luta por um espaço na ex-pocrato já se tornou lendária e caricatural. Até parece que a ficha é dura de cair. A festa não é mais da cidade, desde que Joquinha abandonou a ladeira; desde que na nascente não nasce mais nada, só morre; desde que água limpa na cascata é só lorota; desde que a capital destituiu a cultura e deixou só o Crato, na ilusão de ser a capital da cultura. Acredito que a luta deva ser outra, através da associação e das parcerias.

São muitas as incoerências nessa lengalenga em dízimas. Desde que eu me entendo como gente andar entre as panelas é fazer parte da panelada. Se existe uma crítica veemente contra as atrações que ilustram essa patética desilustração bufa que é a programação da ex-pocrato, por que fazer parte dela? Será que é por causa do público? Justamente aquele que tanto prestigia e espera ansiosamente pelo momento mágico de estrear a roupa nova no show dos Aviões do Forró? Ou será que é a expectativa de mudar inteiramente a qualidade das apresentações apenas com os nomes da “terra”?

Andar de pires na mão desqualifica. E é isso justamente que pesa nessa bagagem da obscuridade, cheia de pedras lascadas. O sentimento de propriedade tanto alardeado não é seguido pela legitimação da representatividade. Falta corpo. Falta corporativismo. Falta politização. Falta o reconhecimento prático dos talentos até entre os próprios artistas, que dificilmente assistem aos shows dos próprios colegas, por exemplo. Até as prostitutas, mediante as humilhações recorrentes, se organizam, por exemplo. Até os camelôs, mediante as ameaças de extinção, se organizam, por exemplo. Até os artistas do Crato, de todos os segmentos musicais... não, esses não se organizam nunca, por exemplo.

Olhar para trás e olhar para trás é o voto de devoção de uma fatia significativa dos cratenses, que se apegam a essa tábua de salvação como o carrapato gruda na orelha do cão que passa o tempo lambendo a própria sombra. O tradicionalismo social e cultural do Crato é uma caixinha de chiclete Adams amassada, jogada entre as pontas de cigarro continental, esperando a última sessão do Cine Cassino. Gastamos tanto tempo olhando para trás que o presente é uma luz que ofusca demais, impede da gente ler a expressão off line escrita em nossa lápide.

Nossas políticas públicas para a cultura, faz tempo, são tão dinâmicas e atuais quanto o carro-de-mão de Noventa, que ainda em fantasmagoria está pronto para carregar no tempo, dando voltas na Siqueira Campos, o nosso orgulho cultural interditado. Agora só nos resta protocolar o dedo paleolítico da inquisição e apontar o orgulho e o bairrismo de outros que organizam publicamente e em parceria eventos como o Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga; o Festival de Inverno de Garanhuns; o Festival de Verão de Ouro Preto; a Mostra Internacional de Música Clássica de Maringá...?

O tempo é outro!!!! Perdemos o bonde das provisões culturais, enquanto tomávamos um cafezinho na cinelândia. Há muito que a cultura existente na ex-pocrato foi emoldurada em um cartão-postal, pronto para ser exposto como ex-voto em um futuro museu dedicado a Elói Teles. Enquanto isso continuamos em busca de falar com o prefeito, com o amigo do governador, com a avó do ex-deputado suplente, com o vaqueiro da vaca parida, para ver a possibilidade de se apresentar às seis horas da tarde ou às cinco da manhã de uma segunda-feira, ganhando um cachê de seiscentos reais, é claro.

Em Recife existe o Abril Pró-Rock, uma iniciativa privada de um festival que começou pequeno, só com atrações da “terra” e hoje tem nomes internacionais em sua programação. Em Natal existe o Mada, um festival de música alternativa que começou com duas bandas do Rio Grande do Norte e duas bandas de Pernambuco, com o advento das associações, hoje é um mega festival. Em Brasília existe o maior festival da música alternativa do Brasil, em que as associações musicais espalhadas por esse sertãozão de Guima, dão suporte e indicam as atrações, com sonorização e iluminação de primeiro mundo, tudo organizado via Internet, por dois garotos, um de 22 e outro de 21 anos. Aqui há de se considerar que a concepção de festival não é aquela do Festival Internacional da Canção, do final dos anos 60.

Mas o Crato é a capital da cultura e a ex-pocrato é mais importante do que rapadura. Aqui nós temos a ex-pocrato e não temos mais engenhos. Mas é aí onde está o doce da tradição. Mais moderno do que isso só mesmo uma possível Associação Benemérita dos Notáveis Cratenses em Defesa da Cultura Popular, que disponibilizará para download na web, por apenas um real e trinta, faixas do último cd da última banda cabaçal, antes da mumificação, minutos antes da hora da graça, já nas Oitavas de Páscoa do ano de São Patrício, o santo protetor da apropriação, como cunharia em cuneiforme o Caminha, que nunca desceu do navio e nunca foi pra aonde.

Marcos Leonel

Atenção Artistas - Hoje Dia 30 de Junho é o dia "D" - Reunião na Câmara dos Vereadores do Crato contra a exclusão dos Artistas na ExpoCrato.

Hoje, às 18:30 na Câmara dos Vereadores de Crato

"Foto: Dia D - Desembarque na Normandia"

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Artistas unidos contra exclusão na Expocrato

O Coletivo Camaradas convida todos os artistas da região do Cariri, em especial do segmento musical para participarem de importante reunião na Câmara Municipal do Crato, hoje, segunda-feira, dia 30 de Junho às 18:30 Hs. A pauta da reunião será sobre a exclusão dos artistas locais no Palco Principal da Expocrato. O Coletivo Camaradas tem recebido apoio de importantes nomes da intelectualidade e do campo artístico nesta luta. O grande ponto de discussão é favorecer que o público tenha acesso a diversidade musical em contraposição a música comercial, tendo em vista, que se trata de um evento público, que na ultima década vem sendo privatizado e monopolizado pela indústria cultural que promove a apologia à violência, à vulgarização sexual, à bestialidade, as drogas, ao machismo e a homofobia.

A reunião contra a exclusão dos artistas locais no palco principal da Expocrato e pela diversidade musical será hoje, dia 30, a partir das 18h30, na Câmara Municipal.

Informações adicionais nos blogs:

www.blogdocrato.com e
www.coletivocamaradas.blogspot.com

Não Percam! Essa Batalha a Classe Artística não pode Perder!
Que hoje, Dia 30 de Junho, seja um dia histórico para a Cultura dessa cidade
- O Dia D -

Por Alexandre Lucas
Editado por Dihelson Mendonça
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domingo, 29 de junho de 2008

A INCORPORAÇÃO DE DEUS

Mitonho acordou e logo avisou: estou com um santo. O pessoal de casa logo tratou de dar razão aos meios para curar o rapaz. Os amigos, da turma de filósofos da Batateira, chamaram Chico Preto ao exame de Mitonho. Chico, com a abordagem dos grandes filósofos após permanecer mais de três horas em pesquisa direta, retornou ao convívio do restante da turma para esclarecimentos filocientíficos.

A reunião foi embaixo do frondoso de Timbaúba, virado para o canavial e junto ao perfume da vacaria do outro lado da cerca. Os amigos não queriam preâmbulos. Interessava-lhes tão apenas a síntese da ocorrência. Chico Preto, o maior filósofo que a Batateira teve, tem ou terá, foi direto.

- Ele incorporou Deus! Não foi um santo qualquer. Não se trata de intermediações. Incorporou a causa de todas as coisas.

Imaginem aquela notícia sobre os demais. Isso tornaria a dificuldade de libertar Mitonho algumas centenas de vezes maior. Não adiantaria chamar Dona Soledade, Maria Cruz, Raimunda Jacó, não adiantaria chamar o velho Pedro Belém. A tarefa era de dimensões além de todo Bispado, do Cardinalício, quem sabe o Papa? E como trazer o Papa até na Batateira. Chambaril apresentou razão:

- o Papa é a palavra de Deus na terra. Não custa nada ele dar uma mãozinha para o Mitonho.

- E quem vai trazer o Papa para a Batateira? Deixa de ser maluco, quando o Papa sai do vaticano é tanta gente que vem atrás, por onde passa junta mais, essa ruma de gente vai é afundar a Batateira. de Dona Maria foi logo defendendo a segurança do seu território.

A conversa andou pela solução, até que João de Barros resolveu fazer o que até ali ninguém fizera, perguntando a Chico sobre as evidências pelas quais Mitonho teria recebido Deus. Chico explicou:

- Mitonho sonhou que o mundo estaria mudando, que a muda era surda e ninguém prestava atenção. Acordou e logo viu na parede a fotografia da sua avó quando ainda bem mocinha. Aquela jovem permanente no quadro quando fora dele se encontra uma velha. Mitonho passou a achar que tinha o dom do tempo. E como a natureza da criação é o tempo, Mitonho achou que poderia corresponder a Deus, a própria criação em expressão.

Os filósofos entreolharam-se numa demorada e intransponível ignorância da oração de Chico. não jogaram uma pedras no filósofo pois eles mesmo é que o chamaram e conheciam esta mania do amigo de falar como os termos das metáforas bíblicas. Mesmo assim não acharam conclusiva a narrativa de Chico e este teve que manter o esforço explicativo.

- Antes da avó de Mitonho nascer não havia a fotografia. As pessoas nasciam, cresciam e morriam entre os olhos dos presentes e a memória destes. A própria pessoa tinha o espelho, mas o espelho lhe falava do momento da própria imagem. O resto era a memória e a memória é bondosa, sempre nos agrada. quando inventaram a fotografia, todo mundo passou a brincar de Deus. Nascia uma criança e logo fotografavam antes que o tempo lhe transformasse numa escolar e outras mais antes da adolescência e assim por diante. Passou-se a ter o poder de apreender os momentos até mesmo em movimento e a cores. E depois, eu soube, até com voz. Tudo isso passou a existir como se sempre tivesse existido. Eu e nenhum de nós nunca nos perguntamos como era antes da fotografia. Tinha a pintura, mas isso não é a mesma coisa, afinal a monarquia e clero eram pintados. Com a fotografia até nós somos fotografados. Qualquer um bole com o tempo, dividindo ele em duas partes: uma que não muda e a outra que se modifica. É como as nossas lembranças que guardam tanta coisa que não muda. E foi pelo motivo da foto de sua avó, que Mitonho num instante de gênio sentiu-se Deus. Mas passou, foi ele se lembrar da banalidade de nossas fotografias 3 por 4 que todos temos que tirar para a ficha da escola.

Depois do agito a calmaria. Depois do sonho de Mitonho a explicação de Chico. Como ninguém é de ficar calado mesmo, quem concluiu a trama foi Chico Breca:

- Muito bom. Bom de lascar. Assim não temos que trazer o Papa.

sábado, 28 de junho de 2008

O começo do fim das FARC

Colômbia: Farc ampliam ações políticas

Sábado, 28 de junho de 2008, 20h56

O terrorismo é uma ação total. Os planejadores militares e os estrategistas de imagem das organizações terroristas desenvolvem operações coordenadas em todos os níveis, tendo sempre em mente objetivos muito específicos -mas esses objetivos não são expressos de maneira direta e não devem ser claros para o Estado e a sociedade que estão sob ataque. No plano político, o terrorismo é sempre uma ação em larga escala cujo objetivo é iludir. Nas democracias contemporâneas, ações humanitárias têm sido utilizadas repetidamente pelos terroristas como forma de coagir a sociedade. Na Colômbia, esse tipo de ação se converteu em um argumento final e em uma forma determinada de guerra prolongada.

Em "El Impostor", romance de Jean Cocteau Thomas, uma das personagens, a princesa de Bormes, "percebe que lhe estão negando os feridos de que necessita para manter seu lugar na guerra"; desde então já existiam setores que desejavam se beneficiar da violência por meio da suposta prática do humanitarismo - "ocupar um lugar no esforço de guerra". O propósito desses grupos não é a paz, e sim obter vantagens dos diferentes momentos de um conflito, se tomarmos por base a idéia de que as intervenções humanitárias prolongam as guerras indefinidamente ao moderar sua intensidade e evitar de maneira sistemática a possibilidade de que alguma das partes se saia vitoriosa.

Nesse caso, o objetivo seria evitar que o Estado colombiano obtenha uma vantagem militar decisiva, que permita a consolidação definitiva do modelo de democracia liberal que a maioria da população apóia, de acordo com sua vontade expressa nas urnas. Nesse sentido, a Política de Segurança Democrática é uma estratégia integral que tem a grande virtude de estar conduzindo o país na direção da paz, na medida em que as esperanças de sucesso militar para as forças irregulares parecem fadadas a desaparecer, e portanto a busca de um acordo político definitivo pode começar a lhes parecer mais atraente do que continuar a procurar uma vantagem pela força das armas".
A democracia é um fato intrinsecamente moral. Trata-se de uma aplicação política derivada de um conceito sobre a ética: existiu antes como axiologia e apenas posteriormente como política. Essa natureza impossibilita que uma democracia concretize plenamente um "acordo humanitário". Ela pode facilitar ou realizar ações humanitárias em favor de terceiros, mas de forma alguma ser parte de um acordo, porque isso pressupõe intrinsecamente que está ou estaria levando a cabo ações não humanitárias, ou contrárias ao humanitarismo, o que é intrinsecamente contrário à natureza da democracia. É por esse motivo que é tão difícil ao governo fixar uma posição quanto ao chamado "acordo humanitário", porque ou bem todas as suas ações atuais e futuras são humanitárias ou bem não o são e nem poderiam ser, o que tornaria o governo antidemocrático em sua essência.

A afirmação acima obviamente se aplica em termos gerais, e pressupondo sempre que aquilo que exista de puramente humanitário interesse apenas ao Estado, porque, para as Forças Armadas Revolucionárias Colombianas (Farc) e para aqueles que tomam a palavra em sua defesa, "acordo humanitário" é simplesmente um eufemismo para definir uma ação de reocupação militar de um território, com base na premissa de que o Estado perdeu sua legitimidade tendo em vista suas obrigações para com os seqüestrados, e que portanto deveria considerar como um mal menor a autorização para ocupação armada de uma porção estratégica de seu território, o que obviamente significaria uma reversão do sucesso fundamental que a Política de Segurança Democrática vem obtendo.

Já que as forças da guerrilha estão literalmente impossibilitadas de retomar territórios por meio de ações militares diretas, agora elas concentram suas tentativas de obter espaço nas ações políticas. Para as Farc, o tema da ocupação territorial tem uma importância extraordinariamente crítica, já que o fato de que não dispõem de território impossibilita que concretizem qualquer ação política. Por mais que suas forças operem em regiões de selva, o espaço em que atuam não tem valor estratégico, e mesmo nele elas estão sob ameaça, o que leva as força a criar uma frágil retaguarda nos territórios de países que lhes são aliados, o que só serve para promover uma defesa passiva.

As elites intelectuais que estão batalhando por um acordo humanitário na Colômbia certamente não agem de boa fé. Ao criar distinções e prioridades entre as vítimas de seqüestro das Farc e ao reunir em um mesmo discurso causas humanitárias e a justificação do terrorismo, elas conseguiram que a opinião pública nacional não pressione pelo sucesso de um acordo humanitário sob os termos propostos, e provocaram um prolongamento dos sofrimentos que afirmam querer reduzir. Na verdade, os porta-vozes políticos da guerrilha vêm realizando um esforço sustentado para valorizar determinados seqüestrados como ativos políticos.
O propósito real das atividades de Piedad Córdova quanto a essa linha é manter e possivelmente aumentar ainda mais o valor político e militar dos seqüestrados, e suas gestões de maneira alguma têm por objetivo conseguir que sejam libertados. David Moss, em seu seqüestro sobre o político italiano Aldo Moro pelos guerrilheiros de seu país, diz que "o poder de estabelecer o significado simbólico de um ato violento é tão crucial quanto a capacidade de encetar o ato em si"; no caso da Colômbia, o trabalho humanitário tem por objetivo estabelecer um significado simbólico, e exatamente por isso representa uma ação militar cujo objetivo é debilitar a vontade da sociedade no sentido de obter uma solução militar que ponha fim ao terrorismo.
A situação que vivemos gerou uma crise de prestígio no que tange às ações humanitárias. Seja porque as intervenções mencionadas transformam os conflitos em guerras endêmicas, seja porque facilitam a realização dos objetivos dos grupos terroristas, ou bem ainda porque o resultado final tenha sido o de favorecer os interesses de minorias violentas e de grupos de pressão alheios ao interesse geral da sociedade. No caso da Colômbia, o acordo humanitário promovido pelas Farc se enquadra nas três características.

Terra Magazine

A volta da inflação


As notícias do domingo (29 de junho)

BESTEIRA GRANDE
A foto ao lado (tirada há 60 anos) mostra a bela fachada do Matadouro Modelo de Crato. O prédio foi conservado assim até a década 70. Na ânsia de destruir o patrimônio arquitetônico de Crato um dos prefeitos da época resolveu demolir o edifício, alegando que iria construir no lugar um “Matadouro Moderno”, que nunca foi concluído. Resultado: Crato ficou sem o belo edifício antigo e sem o anunciado “Matadouro Moderno”. Já Juazeiro do Norte preservou o seu matadouro público, transformado posteriormente no Teatro Municipal Marquise Branca. Uma lição para os cratenses! Como a lembrar que nem tudo que é moderno é bom. E nem tudo que é antigo é ruim...

OUTRO EXEMPLO A SER SEGUIDO...
O Colégio Moreira de Sousa (antiga Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte) inaugurou a sala de memória do educandário. Ali estão expostos: modelos de fardas usadas pelos alunos, jornais editados pela escola, livros de atas, galeria de fotos, quadros dos concluintes, fotografias de grandes eventos ali realizados, dentre outros. Planeja-se, agora, transformou outra sala num pequeno memorial do Monsenhor Murilo de Sá Barreto que por mais de 30 anos ali foi professor.

MUDANÇAS
A população que compõe as faixas de renda mais baixas da população – a maioria dos eleitores – a chamada classe C, vai ter um peso decisivo nas eleições municipais deste ano. A classe C agora é mais informada e vê seu poder de compra melhorar. Isto é um fato. Bom lembrar que o PIB do Nordeste vem crescendo num ritmo duas vezes maior que a média brasileira. No Cariri essa mudança é ainda mais visível. A questão ambiental entrou na pauta das discussões. A população quer suas cidades melhor cuidadas, com praças bem conservadas, ruas arborizadas e pavimentadas. Os candidatos precisam atentar para essa mudança...

FÉ DO POVO
A tradicional missa celebrada todo dia 20 pela alma do Padre Cícero já chegou a Crato. Ela acontece na igreja da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, do bairro Seminário. Centenas de pessoas vêm participando da solenidade religiosa em memória do mais ilustre filho da Cidade de Frei Carlos.

EFEMÉRIDES DO CARIRI
2001, 29 de junho
– Nesta data tomou posse como 5º bispo diocesano de Crato, Dom Fernando Panico. A solenidade ocorreu na Praça da Sé com a presença de grande multidão.

TRISTE
Quem foi à Universidade Regional do Cariri presenciar as homenagens póstumas tributadas a ex-reitora Violeta Arraes observou. As bandeiras do Brasil, do Ceará e da Urca – que são hasteadas diariamente na reitoria – estão queimadas pelo sol, gastas pelo uso prolongado e sem cores. Aliás, o uso da bandeira do Brasil é regulado pela Lei nº. 5.700, de 1º de setembro de 1971 (alterada pela Lei nº. 8. 421 de 11 de maio de 1992) que recomenda a incineração quando o pavilhão não estiver em bom estado de conservação.

ALEGRIA
Madre Edeltrat Lerch, a freira que transformou o Hospital São Vicente de Paulo numa referência na área de saúde retornou no meio da semana à Barbalha. Foi recebida com festas, banda de música e alegria pela população da cidade. Madre Edeltrat vivia ultimamente na Alemanha, sua terra natal, para onde fora transferida pela Ordem Beneditina. A saudade falou mais alto. Ela pediu para vir terminar seus dias em Barbalha e foi atendida.

MEMÓRIAS DO CARIRI
O Coronel Filemon Teles era o chefe político de Crato na década 40 do século passado. Filiado a UDN, ele cultivava amizade com outros líderes udenistas do Cariri Era o caso Manuel Pinheiro de Almeida (Seu Né), de Farias Brito, candidato a prefeito daquela cidade. Residia em Crato uma senhora, Maria de Lisieux Feitosa Calíope, que tinha domicilio eleitoral em Farias Brito. Ela foi pedir a Filemon Teles ajuda para o transporte a fim de cumprir a obrigação eleitoral. Filemom atendeu ao pedido, mas sugeriu: vote no meu compadre Né de Almeida! Ela cumpriu o prometido. Ao final da apuração “Seu Né” foi eleito prefeito com a maioria de um voto.

CORRENDO O MUNDO
A Universidade da Flórida (EUA) continua digitalizando e colocando na internet livros que foram citados no clássico “Milagre em Joaseiro”, de Ralph Della Cava. Um dos últimos disponibilizados foi “Juazeiro do Cariry”, do Padre Alencar Peixoto (http://www.ufilib.ufl.edu/ufdc/UFDC.aspx?b=UFOOO82307)

PIONEIRISMO DO CARIRI
A proposta para o Cariri sediar a 4ª Conferência Internacional de Geoparks – a ser realizada em 2010 – ganhou o apoio do Gabinete do Presidente da Republica e do Banco Mundial. E por falar em geopark, na 3ª Conferência Internacional (que foi realizada em Osnabrück, Alemanha), o Brasil apresentou para reconhecimento da Unesco as propostas de criação do Geopark Serra da Bodoquena e Pantanal (no Mato Grosso do Sul) e do Geopark Campos Gerais (o Paraná). Em breve serão concluídos os projetos de mais três geoparks brasileiros: Vale da Ribeira e Vale do Tietê (São Paulo) e do Quadrilátero Ferrífero (em Minas Gerais).

sexta-feira, 27 de junho de 2008

A SAGARANA DE SIBITO DA SERRA DO ARARIPE

E dadonde mermo é qui tu é?

Eu de riba, donde a trampa do cotôco da serra mais arta fica. Ali adonde a caixa da terra sorta os ventos nos rumos dos cardeais. Eu sô da terra qui o mé da jandaíra num foi bordado prú gosto da língua. É mé da ponta dos das abeia qui faz varanda, cuma fia noite e dia as aranhas bem no canto dos teiado. Seu moço eu bebu água do barreiro adonde mija as cabras e as vacas, tenho nin mim o sargado qui os bichu tirum do miolo das pranta. Minha vida é cheia de vereda no carrasco, de modo e vez eu chupo um maracujá peroba, numa tarde de fome um araticum sob os gai de um visgueiro. E teim o piqui e o abacaxi, o frii da madrugada qui gela os osso cum a lembrança da morte, naquele instantim mermo entre o fogo do inferno e o resfrigério do céu. Eu todo os dias luito com os milhão de coisa que na terra há e quando é para descansar, vem o céu estrelado cum tanto milhão de brilho que é munto prum sujeito sozim.

E qui diacho tuaqui fazeno?

Eu tava cum as oiça puxada no rádio e ouvi uma notiça do mundo de fora qui entrou deu a dentro feito um mungangá voando quano num devia. Ói seu moço, foi escretim sortar uma caixa de arapuá no meu juízo. Eu saí de casa cum os seiscentos mil demon-in, deixano pau de porteira aberto, pisano em poçaágua, nem prestando atenção na bosta verde dos animais. Na casa de Mané Cocô pru mais qui o povo de preguntasse prá donde ia na desembestadura deu no rumo da beira da serra, eu num tive tempo de dizer do tempo qui não tinha pru modi dizer as coisa. Chupando um taco de rapadura eu botava fogo na fornaia do corpo, cum as currulepes açoitando meus calcanhar e nem prestano atenção aos pedaçoseu qui ia deixando nos rastros da estrada. Na baixada qui o mundo se adivide, entre o rumo das Guaribas e as terra de Santa o rádio não tinha me dito a mão que devia seguir. E dos cipós do Jatobá uma caipora me oiava pitando seu fumo e nem uma mão me ajudava. Os pobri de espírito eu sempre soube, são cuma eu tava, com dois camim pru modi tomar sem saber qual deve pisar. As alma da mata tavum tudo ali brincando com a encruziada sem quarqué vontade de viajante. Pois, seu moço, uma tria de formiga de roça que apontou o rumo das guaribas e eu tirei o atraso da incerteza se botando num xote tão forte chega a bufa se espaia.

E quanto tempo tu levou pru modi descer a serra?

Eu vim cuma barranco caindo. Sartando vala feito cabrito, deixano os carrapichos levar as lembranças de seus espim, pisando pega-pinto, chutando caroço de gajarana e vim mexeno o mundo de arto a baixo. Cuma as águas descendo ladeira, drobando pedra, arrastando garrancho, espantando calango, muiando a surperfície mas alagando longe. Eu vim cuma homi apaixonado varando as noite sem medo, se esquecendo do meio entre a distância da partida e a janela prefumada de seu amor. Vim feito a necessidade que espera cuma fazem os açudes na parede, mas basta as bicha quebrarem para que o dilúvio se espante feito boiada perseguida por fogo. Eu vim cuma muié parindo, as dores do parto falando que o nascente se avermêia no horizonte, feito minino mamador com farta de leite. Eu vim e num instantin cheguei.

E pru modi de qui tu veio?

Eu vim pru modi dizê que a luz da nossa casa quem acende somos nós. Que a musica que as oiça dança é aquela que brota da semente que nóis plantou. Que as festa que nos festeja é festa que nosso pedaço tem, quando nós é que, cum as ferramentas da melodia, os pulmões do canto e o coração que bate neste peito. Pois mermo quando nóis recebe um coração do outro, logo nóis domina nas coisas dentro de nóis.

E foi pru isso?

E pelo João de Guimarães Rosa qui dizia palavras qui eu num entendia, mas sabia tudo qui ele dizia.

PEDRO

O ritual repetia-se quase que diariamente. Um pobre verdureiro, geralmente no horário do almoço, deslocava-se penosamente até a igrejinha do Pimenta. Galgava a rampa do templo fechado àquelas horas e, na entrada da capela, improvisada de púlpito, solenemente retirava de uma tosca sacola, nobres vestes que ele mesmo fabricara. Paramentava-se, cuidadosamente, com toda solenidade que o momento exigia. De início, se enfronhava numa alva talar que lhe cobria os pés, perceptível a forma artesanal da fabricação pela sujidade em alguns pontos da indumentária e pelo amarrotado do tecido. Encilhava depois um cíngulo branco à cintura e apunha uma estola vermelha sobre os ombros, que lhe caía delicadamente sobre o peito. Tomava, então, às mãos um livro antigo e punha-se a pregar numa linguagem intraduzível, talvez um dialeto do sânscrito, para uma platéia completamente imaginária. Terminado o culto, recolhia os paramentos e voltava ao trabalho, com um ar feliz, renovado , como se imerso em gotículas do sagrado.

Vi-o diversas vezes nas suas atividades sacerdotais, tantas que terminei por embotar os olhos com as sombrias tintas da normalidade. Hoje, soube que nosso padre já não prega nas paragens terrestres e, estranhamente, senti o meu dia oco e a paisagem do Pimenta sem o seu habitual verdor. Nem sequer sei o seu nome. Vou batizá-lo de Pedro, em homenagem àquele primeiro sacerdote que de pescador de peixes, viu-se na complexa missão de transformar-se em pescador de almas.

Os transeuntes sequer lhe davam atenção, o tinham por louco. Anestesiados pelo curare do cotidiano , crucificados nos ponteiros do relógio, passavam sem perceber o mundo que palpita e ferve à sua volta. Por outro lado, o nosso Pedro sequer olhava a inexistente multidão que deveria atentar para seu sermão, compenetrado, olhos analfabetos fitos no livro, continuava a celebrar o rito com uma aparência de plácida gravidade. Como se todos os fiéis deste mundo ouvissem devotos, e hipnotizados sorvessem sua pregação. Havia algo de profético naquela figura excêntrica que passava a manhã enchendo de verde o mundo e ainda se via impelido em semear o sagrado e difundir o mágico. Como um João Batista redivivo fez-se mais uma voz que clamava no deserto. Pregando fora do templo, como que buscava endireitar os caminhos do Senhor: fugir da pompa e da gala e procurar Deus no irmão que sofre na manjedoura e na criança faminta que chora na favela. Pregava de costas para o templo e de frente para o misterioso e enigmático mundo que se abria à sua frente.

Pedro talvez nem tenha percebido como são ínvias e espinhosas as veredas da profecia. João Batista simples, vestido em pele de animais, decapitado sem piedade por Salomé; Elias perseguido sem trégua e misteriosamente desaparecendo na sua carruagem de fogo e Isaías desacreditado e serrado ao meio com seus serafins. Todos encorpando o destino inflexível dos profetas: a incompreensão, a fama de louco, o martírio. Todos cientes também que montados no corcel do futuro falavam a incompreensível língua do porvir. E mais, que há bem mais verdade na sua pregação visionária do que nas palavras jogadas boca para fora por muitos filisteus travestidos de pastores. Aqueles mesmos que um dia já foram expulsos a chicotadas do templo, por venderem abertamente uma mercadoria que simplesmente não possuíam: a esperança.

J. Flávio Vieira

Intervenção de Paul Blanquart durante missa de despedida de Violeta Arraes Gervaiseau

Nestes dias os blogs do Cariri foram solidários com Violeta Arraes e demonstraram que reconhecem a própria humanidade que têm em si. Hoje, sexta feira, quando a Universidade Regional do Cariri lhe presta homenagem e quando suas cinzas serão deixadas no solo de sua origem planetária, estou postando o texto de Paul Blanquart lido no dia de sua cremação aqui no Rio.

"A você, Pierre, seu companheiro de toda uma vida, essa vida que não podíamos imaginar que você conseguisse viver sem ela, nem ela sem ele: como ela vacilou no momento do seu acidente, em 1987, temendo perdê-lo!

A vocês, os três filhos, Maria Benigna, Henri e João Paulo, os três tão queridos, e igualmente queridos, embora de modo diferente.

A nós, amigos e próximos.

Antes que o fogo leve seus despojos, cabe-nos fixar a memória desta mulher, recolher os traços com que marcou o espaço e o tempo — para que eles nos penetrem —, a fim de continuarmos o caminho.

Mulher de facetas múltiplas, mas de grande unidade de sentido. Mulher curiosa de tudo, mas sem superficialidade, curiosa de uma presença densa nas coisas, nas pessoas, no que acontecia. Para sintetizar, Violeta mulher política, mulher de cultura, mulher de fé.

1. Mulher política primeiro. Mas de que política?

A “senhora embaixadora do Brasil em Paris”, como alguns a chamavam, era capaz de frequentar e de receber gente da alta roda. Na verdade todos os que assim o desejassem. Mobilizando todos os círculos, não para todos os Brasis, mas para o seu Brasil, que era aquele que a ditadura esmagava, e particularmente o povo pobre. Atrás de seu largo sorriso, era uma ativista poderosa. Lembro-me de uma manifestação em janeiro de 1970, na grande sala superlotada da Mutualité — Sartre lá estava, Miguel Arraes, vindo de Argel, também — e que contou muito para relançar as energias num contexto difícil (morte de Marighella, caso dos jovens dominicanos). Para montar essa manifestação, e num tempo recorde, éramos apenas um punhado de indivíduos sem tropas, mas treinados por uma Violeta determinada e que Pierre assistia noite e dia.

E o Brasil que ela servia assim, que ela desejava, não era apenas um Brasil para os pobres, mas pelos pobres: ela sempre se manteve fiel ao espírito e aos objetivos dos grandes movimentos de educação popular, para os quais o futuro dos oprimidos deve ser construído por eles. E é nesse ponto que a mulher política era inseparável da mulher de cultura.

2. Mulher de cultura, de fato, mas de que cultura?

De grande sensibilidade e de um gosto muito firme, ela apreciava as grandes obras, as da elite. Mas se recusava a admitir que a arte fosse apenas um consumo de luxo para os abastados, num mundo à parte. Capaz de exercer altas funções culturais – não foi ela a senhora secretária de cultura do estado do Ceará, e depois a senhora reitora da Universidade do Cariri? –, ela soube colocar essas funções, assim como a ação política, a serviço da afirmação dos pequenos, pela valorização e pelo estímulo de sua criatividade cotidiana. Todos puderam observar sua atenção pelos objetos produzidos pelas artes populares e sua preocupação de que essas artes se tornassem novamente vivas e imaginativas. E também sua senbilidade ao ambiente de todos os dias, às roupas, à arquitetura de interiores. A razão disso é simples: se não queremos que a vida escape à grande maioria, é preciso que cada um seja seu autor. Se Violeta abordava a política pela cultura era para que a política não escapasse ao povo. O raciocínio hoje difundido diz: produzamos economicamente a riqueza e, quanto à cultura, depois veremos. Resultado: o homem livre e responsável torna-se consumidor manipulado pelo mercado. Assim como Pierre frente à Fundação Araripe, Violeta era partidária de uma outra via de desenvolvimento, que garanta a dignidade de todos pela criatividade singular de cada um.

Mas o que a impelia nessa direção? É aqui que encontramos a mulher de fé.

3. Violeta, mulher de fé.

Nesse ponto tocamos no fundo que habitava todo o resto, uma interioridade pessoal que a fazia caminhar.

Pois sua política é a política da fé: a de dom Helder, de quem ela foi como que filha, primeiro muito jovem no Rio, depois dirigente nacional da JUC, depois enviada por ele a Lyon para uma sessão de Economia e Humanismo, onde ela encontrou Pierre. Dom Helder, que ela encorajou, em junho de 1970, durante uma passagem dele por Paris, a denunciar a tortura no Brasil com muita força e também muita repercussão para que os militares não podessem impedi-lo de voltar. É a política do Magnificat, o cântico da jovem Maria: “Ele manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos. Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes. Aos famintos encheu de bens, e aos ricos despediu de mãos vazias”.

É a do poema de Francisco de Assis, que instaura como programa as Bem-aventuranças lidas há pouco: “onde houver ódio, que eu leve o amor; onde houver discórdia, que eu leve a união” etc.

Sua concepção de cultura é a poética da fé, capaz de reencantar o mundo à maneira desse outro poema de Francisco de Assis: “louvado sejas, meu senhor, pelo irmão Sol, pela irmã Lua e pelas Estrelas, pelo irmão Vento, pela irmã Água, pelo irmão Fogo e por nossa mãe a Terra, e finalmente por nossa irmã a Morte.” E o piso de seu apartamento no Rio está repleto de animais muito diferentes, em poses atentas, e são obra de nordestinos, como as criaturas cantadas por são Francisco e que viviam em torno dele.

Na origem de suas atitudes, portanto, a fé, e a fé nua, a fé que não se apóia em nada e que nos perfura por dentro. A fé que tem a ver com a noite: noite do velho dom Helder, assistindo à desconstrução sistemática de sua obra por seu sucessor; noite do Francisco de Assis do final, traído por aquilo que a instituição eclesiástica faz de sua Ordem e dele mesmo; noite de Tereza de Lisieux, outra figura-referência de Violeta, que remetia a João da Cruz: a verdadeira luz é a noite. Há uma face noturna de Violeta, bastante escavada, esvaziada de si mesma, a ponto de ouvir o outro. Pudemos avaliar sua qualidade de escuta no seu trabalho de psicanalista. Mas é o despojamento de sua fé que fazia que — existem testemunhos — o fundo de si mesma se levantasse na relação com ela, e que, do interior de seu sofrimento, às vezes ela e o outro se falassem de alma a alma, até — em certos casos — as raias da loucura. É da fé que nasce a alegria e é ela que escuta o canto de cada outra pessoa. Paradoxo: a fé abre para a multidão, como em Tereza de Lisieux, pela afirmação singular de cada um. Por aí pode-se sem dúvida compreender a espantosa capacidade de Violeta de se ligar ativamente a pessoas tão diferentes.

Violeta, em português, designa a flor e um instrumento de música, uma pequena viola. Mulher flor e mulher música. Passada pelo fogo, ela se misturará à terra, ao ar, à água, à humanidade de ontem e de amanhã, contribuindo para o canto do mundo, para a diversidade de suas cores, na continuidade de sua vida. Obrigado, Violeta, e que você possa nos ajudar a acompanhá-la nessa grande obra."


EM DEFESA DA EXPOCRATO

O Coletivo Camarada é a forma organizada de luta dos artistas caririenses por um espaço de sua arte na Exposição Agropecuária do Crato (EXPOCRATO). Evento relevante da atual cultura nordestina. Especialmente a cultura interiorana que se manifesta com muita força nos meses de junho e julho. A EXPOCRATO é um exemplo clássico da "USURPAÇÃO" da coisa pública por grupos privados em associação com "REPRESENTANTES" do governo.

A EXPOCRATO tornou-se uma festa que depende do Governo Estadual. Ele é o principal meio balizador da programação e da aplicação dos recursos da festa. Em síntese por via indireta, pois tudo é terceirizado, o governo é quem define quem se apresentará e quem não o fará.

Aliada ao fato, para estranhamento maior ainda, surgiu nos jornais do Brasil inteiro, inclusive aqui no Rio, que o sogro do Governo do Ceará tinha como "sonho" ser indicado para conduzir a EXPOCRATO. E o sonho realizou-se. Ele, portanto gente da família do governador é aquele que dirige a festa. NESTE CASO O RESPONSÁVEL PELA EXCLUSÃO DOS ARTISTAS LOCAIS.

Toda a luta do Coletivo Camarada tem o maioR sentido. A EXPOCRATO não é uma invenção de uma geração apenas, não é uma promoção de grupos empresariais e menos ainda uma coisa APENAS de governo. A EXPOCRATO é um patrimônio cultural e econômico do povo do Cariri, construído ao longo de várias gerações sobre a base real de sua vida coletiva.

Assim como os candidatos às próximas eleições costumam ampliar o debate sobre temas relevantes, é bom que todos repercutam e tratem de corrigir o desvio da programação cultural do evento. Os atuais prefeitos e vereadores da região têm que emitir notas solidárias com a mudança na programação e a favor da inclusão dos artistas regionais na programação do palco principal.

A mídia regional tem uma grande tarefa ao dar voz ao Coletivo Camarada e que esta repercuta na política estadual. Os blogs da região poderiam escolher um mesmo dia e todos postarem uma mesma nota, construída conjuntamente sobre esta questão.

Por último: é importante mostrar a cara. Fazer faixas, soltar notas, distribuir panfletos. É preciso criar uma voz popular para que este conluio deletério da cultura loca se desfaça e no seu lugar se crie algo mais democrático.

O ANO EM QUE O “MILAGRE” ACONTECE: DINHEIRO E OBRAS NAS ELEIÇÕES


No ano das eleições um “milagre” acontece. Dinheiro e obras surgem do “nada” e começam a fazer realizações. Nesse sentido, as ruas e estradas são asfaltadas, as universidades recebem mais dinheiro para custeio, restaurantes populares são criados, escolas são reformadas etc. E tudo muito perto da data da eleição. O povo, coitado, ainda acredita que tudo isso é verdade e que as intenções são sinceras e puras. Mas, com um olhar crítico nos perguntamos: por que será que esse “milagre” não aconteceu antes? É verdade! A política moderna vem substituindo o planejamento estratégico. Em outras palavras, diria um crítico: “que plano que nada o que vale é a “estratégia” do voto”. Os recursos são aplicados (e/ou atrasam propositalmente) segundo a perspectiva de se ganhar o apoio das comunidades e de indivíduos influentes antes e bem próximo das eleições. E assim, durante vários anos o povo não vê a cor do dinheiro e nem das obras importantes. Mas, quando se aproxima as eleições, uma multidão se engaja em servir aos senhores da política e da politicagem. É dinheiro rolando em cascata e enchendo o pequeno recipiente (bolsos) de pobres criaturas esperançosas de um lugar ao sol (ninguém quer ficar excluído!).
Nesse contexto, as almas receptoras ficam “felizes” mesmo que iludidas. O imediatismo é a lógica que atrai multidões e faz manter o mundo ilusório da politicagem. Raros são aqueles que cobram projetos baseados em planos bem elaborados e estratégias viáveis. A maioria quer resolver imediatamente a sua necessidade sem importar se essa solução afetará ou prejudicará mais tarde uma população maior. E o dinheiro de onde vem? Poucos sabem de fato a sua origem. Será que vem dos cofres das políticas públicas que foram “acumuladas” pelas burocracias e espertezas administrativas de governantes inescrupulosos? Ou será que vem de financiamentos externos de cunho ideológico ou empresarial? É preciso nesse mundo ser bonzinho como uma pomba, mas prudente como uma serpente. A vida social raramente é governada pela intenção e planejamento de mentes brilhantes, mas por mentes astutas e negociadoras de interesses escusos. Um ou outro governante ou administrador segue a linha reta da ética e da boa intenção. Uma boa parcela faz alianças de interesses ideológicos ou financeiros. E as necessidades dos indivíduos governados são partes desse jogo frio e anti-ético.
O enriquecimento ilícito “com prosperidade para todos” é a intenção que acalma a frieza das decisões políticas inescrupulosas. Nesse sentido, a idéia de que “a política é a arte de governar” é uma bela retórica. Pois, a verdadeira política (a original) caminhava lado a lado com a ética. Hoje, a política é antagônica a ética. Elas não se conversam, não se combinam. Vivem em mundos diferentes e distantes. O povo é apenas uma peça no jogo de xadrez dos poderosos (?).

Prof. Bernardo Melgaço da Silva – bernardomelgaco@hotmail.com

Cem anos de encanto


Lembro de quando ouvi (ou li) pela primeira vez o nome de João Guimarães Rosa. Eu devia ter uns onze anos e a prova de português falava de um escritor nascido em Cordisburgo: um escritor do sertão. Na minha turma nem todos sabiam o que era o sertão: morávamos numa cidade fria e cinza, fechada em si e (em tese) auto-suficiente. Eu, no entanto, sou filha de sertanejos e visitava o sertão todos os anos... eu era uma exceção.

A verdade é que eu sempre tive o sertão em mim. E acho que também nasci com o retrato de Guimarães Rosa gravado em meu coração (amar não é verbo; é luz lembrada). Dez anos se passaram desde aquela prova na escola e nesse intervalo de tempo eu me apaixonei pelo tal escritor mineiro. Hoje ele faria cem anos se estivesse vivo. Eu gostaria de comemorar esse dia. Mas pergunto: co-memorar com quem? Rosa é como o sertão: todos falam dele, mas quase ninguém o conhece. Pior - quase ninguém quer conhecer. É com tristeza que ouço esse silêncio gritante sobre o único escritor brasileiro que concorreria ao Nobel de Literatura, se não tivesse "encantado" antes da hora.

Aliás, o Guima não é apenas um erudito, um mago, um regionalista. Ele é o único homem que soube desconstruir e reconstruir a língua, fazendo dela um instrumento que fala não à mente, mas ao coração.

Lamento que nem todos percebam a grandeza dele. Acho que sigo sendo exceção. Como diz sua "Menina de Lá", tatu não vê a lua. Parece que o Brasil anda se perdendo em buracos e deixando de ver o brilho dos astros no céu. É uma pena. E olhe que a "luz é para todos. As escuridões é que são apartadas e diversas". Mas "quem vai arrazoar com homem de má cabeça?". Eu desisto de pensar sobre o motivo de o Brasil esquecer Guimarães Rosa. Como ele dizia, "tudo, aliás, é a ponta de um mistério. Inclusive, os fatos. Ou a ausência deles". Vivemos, de modo incorrigível, distraídos das coisas mais importantes. Minha vingança é que "com o que outro míngua, eu me sobejo". Seja o que seja.

Vou comemorar sozinha esse dia e dormirei a me perguntar: todos estão loucos, neste mundo?

Viva, Guimarães Rosa. Em meu coração, ao menos, você ainda vive.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

FESTIVAL DE INVERNO DE GARANHUNS 2008