TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

sábado, 31 de maio de 2008

REFLEXÃO PARA A SEMANA DO MEIO AMBIENTE: CARTA DO ÍNDIO AO GOVERNO AMERICANO EM 1855

Quem é o dono da pureza do ar e do resplendor da água?

(Seattle, chefe da nação Duwamish, do Estado de Washington, em resposta ao Presidente Franklin Pierce, dos EUA, em 1855, depois de receber a proposta do governo de comprar o território de seu povo)

“O Grande Chefe de Washington mandou dizer que deseja comprar a nossa terra.
O Grande Chefe assegurou-nos, também, de sua amizade e benevolência. Isto é muito gentil de sua parte, pois sabemos que não precisa de nossa amizade.
Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O Grande Chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz, com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano.
Minhas palavras é como as estrelas – elas não empalidecem.
Como pode comprar ou vender o céu ou o calor da Terra?
Tal idéia nos parece estranha.
Se não somos os donos da pureza e do frescor do ar ou do resplendor da água, como é possível comprá-los?
Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo. Cada ramo reluzente do pinheiro, cada punhado de areia das praias, cada véu de neblina na floresta densa, cada clareira e cada inseto a zumbir são sagrados nas tradições e na memória do meu povo.
A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do Homem Vermelho.
O Homem Branco esquece a sua terra natal quando, depois de morto, vai vagar por entre as estrelas.
Nossos mortos jamais esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do Homem Vermelho. Somos parte desta terra e ela faz parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia – são nossos irmãos. As cristas rochosas, os sulcos úmidos das campinas, o calor que emana do corpo de um mustang, e o Homem – todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o Grande Chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós.
O Grande Chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar em que possamos viver satisfeitos. Ele será nosso pai e nós e nós seremos seus filhos. Por conseguinte, iremos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não vai ser fácil. Essa terra é sagrada para nós.
Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais.
Se te vendermos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás de ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos conta os acontecimentos e as recordações da vida de meu povo.
O murmúrio d’água é a voz de meu pai, de meus antepassados.
Os rios são nossos irmãos, pois saciam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa terra, terás de lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são nossos irmãos e teus também. Portanto, terás de dispensar aos rios a afabilidade que dedicarias a um irmão.
Sabemos que o Homem Branco não compreende o nosso modo de viver, os nossos costumes. Para ele, uma porção de terra é igual a outra, tem o mesmo significado que qualquer outra, porque ele é como um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra o de que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga. E, depois que a conquista, ele vai embora, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e não se incomoda. Arrebata a terra das mãos de seus filhos, e não se importa. Ficam esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata a sua Mãe – a Terra – e seu irmão – o Céu – como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelhas ou miçangas cintilantes.
Sua voracidade arruinará a Terra, deixando para trás apenas um deserto.
Não sei. Nossos modos de vida, nossos costumes, diferentes dos teus. A visão de tuas cidades fere os olhos do Homem Vermelho. Mas, talvez, isto seja assim por ser o Homem Vermelho um “selvagem” que nada entende.
Não há sequer um lugar calmo nas cidades do Homem Branco. Não há lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o tinir das asas de um inseto.
Mas, talvez, assim seja por ser eu um “selvagem” que nada compreende.
O barulho parece apenas insultar os ouvidos.
E que vida é aquela se um homem não pode ouvir a voz solidária do curiango ou, de noite, a conversa dos sapos em volta de um brejo ou de uma lagoa?
Sou um Homem Vermelho, e nada compreendo. O índio prefere o suave sussurro do vento a sobrevoar a superfície de um lago e o cheiro do próprio vento, purificado por uma chuva do meio-dia, ou recendendo a pinheiro.
O ar é precioso para o Homem Vermelho, porque todas as criaturas respiram e o compartilham em comum – os animais, as árvores, o homem.
O Homem Branco parece não perceber, nem sentir, o ar que respira. Como um moribundo em prolongada agonia, ele é insensível ao ar fétido.
Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, terás de te lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que ele sustenta.
O vento que deu ao nosso bisavô o seu primeiro sopro de vida, também recebe o seu último suspiro.
E se te vendermos nossa terra, deverás mantê-la reservada, como um santuário, um lugar em que o próprio Homem Branco possa ir saborear o vento, adoçado com a fragrância das flores silvestres das pradarias.
Assim, pois, vamos considerar tua oferta para comprar nossa terra.
Se decidirmos aceitar, farei uma condição: o Homem Branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
Sou um “selvagem” e não compreendo como um fumegante cavalo-de-ferro possa ser mais importante do que o bisão que, nós os índios, sacrificamos apenas para o sustento de nossas vidas.
O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito, porque tudo quanto ocorrer aos animais logo acontecerá com o homem. Tudo está interligado.
Deves ensinar a teus filhos que o chão debaixo de seus pés são as cinzas de nossos antepassados. Para que tenham respeito à terra, ao país, conta a teus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo; que a riqueza da terra são as vidas da parentela nossa. Ensina a teus filhos o que temos ensinado aos nossos: que a terra é nossa Mãe. Tudo quanto ocorrer com a terra, recairá sobre os filhos da terra. Se os homens cospem no chão, cospem sobre eles próprios.
De uma coisa sabemos: a terra não pertence ao Homem. É o Homem que pertence à terra. Disto temos certeza: todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Há uma ligação em tudo.
Tudo quanto agride a terra, agride aos filhos da terra. Não foi o homem que teceu a trama da vida; ele é meramente um de seus fios. Tudo o que ele fizer ao tecido da vida, a si próprio fará.
Os nossos filhos viram seus pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio, envenenando seu corpo seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias – eles não são muitos. Mais algumas horas, mesmo uns invernos, e nenhum dos filhos das grandes nações peles-vermelhas que viveram nesta terra, ou que têm vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar sobre os túmulos de um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
Nem o homem branco, cujo Deus com ele passeia e conversa como amigo para amigo, pode ficar isento do destino comum. Poderíamos ser irmãos, apesar de tudo. Veremos. De uma coisa temos certeza – e que o homem branco venha, talvez, um dia a descobrir: nosso Deus é o mesmo Deus. Talvez julgues, agora, que O podes possuir do mesmo jeito como desejas possuir nossa terra, mas não podes. Ele é Deus da humanidade inteira e é igual Sua piedade. Sua compaixão, para com o homem vermelho e o homem branco. Esta terra é querida e preciosa por Ele e causar-lhe dano ou feri-la é cumular de desprezo seu Criador. Os brancos também passarão. Talvez mais cedo do que todas as outras raças.
Continua poluindo a tua cama e hás de acordar uma noite sufocado pelos próprios dejetos.
Porém, ao perecerem, vocês brilharão intensamente, com fulgor abarasados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e que, por algum desígnio, alguma razão especial, lhes deu o domínio sobre esta terra e sobre o homem vermelho. Esse destino é para nós um mistério, pois não podemos imaginar como será quando todos os bisões forem massacrados, os cavalos bravios domados, as brenhas das florestas carregadas do odor de muita gente e a vista das velhas colinas obstruídas por fios que falam.
Onde ficará o emaranhado da mata? Terá acabado.
Onde estará a águia? Irá acabar.
Restará dar adeus à andorinha e à caça.
O fim da vida e o começo da luta para sobreviver.
Compreenderíamos, talvez, se conhecêssemos com que sonha o homem branco, se soubéssemos quais as esperanças que transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais as visões do futuro que oferece às suas mentes para que possam formar desejos para o dia de amanhã.
Somos, porém, “selvagens”. Os sonhos do homem branco são para nós ocultos. E por serem ocultos, temos de escolher nosso próprio caminho. Se consentirmos, será para garantir as reservas que nos prometeste. La’, talvez, possamos viver os nossos últimos dias conforme desejamos. Depois de o último Homem Vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará vivendo nestas florestas e praias, porque nós as amamos como ama um recém-nascido o bater do coração de sua mãe.
Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueças de como era esta terra quando dela tomaste posse. E com toda a tua força, o teu poder e todo o teu coração, conserva-a para teus filhos e ama-a como Deus nos ama a todos.
De uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta é por ele amada. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum”.

Obs.:
Curiango – ave noturna
Bisão – búfalo selvagem das pradarias norte-americanas
Cavalo-de-ferro – trem
Fios que falam – Telégrafo

A presença da tradição oral na literatura infantil

No prefácio do livro "Contos Tradicionais do Brasil", Luís da Câmara Cascudo refere o mais antigo conto que se conhece. É uma história do escriba Anana, para o príncipe Seti Merneftá, filho do faraó Ramsés Miamum, escrita há três mil e duzentos anos. Cascudo preocupa-se em garantir a veracidade do papiro egípcio, encontrado na Itália em 1852, e informa que o rudimento de livro para criança é um conto popular com os enredos próprios da época dos faraós, mas que também vivem nas histórias tradicionais do Brasil, apesar do tempo e da distância que os separam.

Cascudo observa que o registro das narrativas orais tem recebido menos atenção que o da poesia popular. Insiste na importância do conto popular tradicional como formador de uma memória emocional, social e antropológica. Segundo ele: "O conto é um vértice de ângulo dessa memória e dessa imaginação. A memória conserva os traços gerais, esquematizadores, o arcabouço do edifício. A imaginação modifica, ampliando pela assimilação, enxertias ou abandonos de pormenores, certos aspectos da narrativa".

O erudito ensaio de Cascudo vale, sobretudo, por chamar atenção para o processo de construção da narrativa: a memória como arcabouço estruturante e a imaginação com seus acréscimos e transformações. Essa teoria em parte está contida em Walter Benjamin, quando ele identifica dois tipos de narradores que se complementam: O viajante, que vive a experiência lá fora no mundo, ouve histórias em suas andanças e, ao retornar à pátria, conta o que viveu, viu e ouviu. O segundo tipo de narrador é o sedentário, aquele que sem nunca sair de sua aldeia natal ouve as histórias e as experiências dos viajantes e, enquanto trabalha ou caminha, reelabora o que ouviu, subtrai, acrescenta, enxerta cores, sons, vocábulos e expressões locais e assim cria uma nova história.

O narrador sedentário reinventa formas e significados, poesia e símbolos; enxerga os ossos do que é narrado, dissecando músculos, gorduras e pele e construindo um novo corpo narrativo. Jean-Claude Carrière, no prefácio de "O Cìrculo dos Mentirosos", contos filosóficos do mundo inteiro, faz uma curiosa observação sobre os narradores judeus, para quem o ato de narrar é tão importante quanto a própria história. Segundo ele, "a tradição judaica pressupõe muitas vezes a existência por trás das palavras, da ordem das palavras e do próprio lugar que ocupam as letras, de uma espécie de estrutura secreta, uma mensagem colocada ali por não se sabe quem, um outro significado, o verdadeiro, como se a aparência do conto não passasse de uma máscara".

É importante lembrar que a psicanálise fundada por um judeu, Sigmund Freud, buscou nos mitos seus significados mais secretos. Freud analisou histórias em que as civilizações se narram. Da análise dessas histórias coletivas, como a do rei Édipo, que foi reescrita por Sófocles, ele parte para a experiência da análise individual, um método em que a pessoa se narra sozinha, buscando verdades e significados que transcendem o aparente.

A importância dessas histórias que acompanham o homem desde que ele conseguiu juntar palavras em frases e frases em narrativas mais longas é narrá-lo tanto coletivamente como individualmente. No mesmo prefácio do Círculo de Mentirosos, Jean-Claude Carrière relata que perguntou certa vez ao neurologista Oliver Sacks o que, a seu ver, era um homem normal. Depois de hesitar um pouco o neurologista respondeu "que um homem normal talvez fosse aquele capaz de contar a sua própria história".

E acrescenta que esse homem narrador "sabe de onde vem (tem uma origem, um passado, uma memória em ordem), sabe onde está (sua identidade) e acredita saber aonde vai (ele tem projetos e a morte no fim). Portanto, ele se situa no movimento de um relato, ele é uma história e ele pode se narrar. Caso esta relação indivíduo-história venha a se romper, por qualquer razão fisiológica ou mental, eis aí o relato partido, a história perdida, a pessoa projetada para fora do tempo. Ela não sabe mais nada, nem o que ela é, nem o que deve fazer. Ela se agarra a algumas aparências da existência. O indivíduo, aos olhos do médico, surge à deriva. Ainda que seus mecanismos corporais funcionem, ele se perde no meio do caminho, não existe mais".

Muito cedo me dediquei à investigação das narrativas de tradição oral e a uma coleta não sistemática de histórias, preocupado em construir uma escrita própria. Mais tarde, com alguns livros de ficção publicados e vários espetáculos teatrais encenados, passei a conviver com alunos de escolas públicas e particulares e a observar as dificuldades que eles tinham para desenvolver uma leitura, uma fala e uma escrita. Sobretudo nas escolas públicas, com crianças e jovens das populações chamadas de risco, esse travamento era mais evidente. A maior parte deles era incapaz de compreender e interpretar o que lia, quando sabia ler, e, o mais grave, não conseguia elaborar fios narrativos. Como médico clínico interconsultor de serviços de psiquiatria para crianças e adolescentes, sei que a incoerência e fragmentação do discurso ou fala se justificam por doenças como esquizofrenia ou demência. Mas, entre jovens considerados normais, o que poderia causar essa dificuldade? Por que avançamos tão pouco na educação, mesmo quando anunciam progressos econômicos, com um aumento do consumo e do poder de compra?

Apropriando-se de contos que pertencem a todos, os jovens sem individualidade-história podem ser ajudados a se inventarem, a criar a própria história. Como é possível que alguém não consiga narrar-se, alegando que não possui uma história? O patrimônio de narrativas acumulado em milhares de anos é nossa história, ele pode ser sacado a qualquer momento, como um mágico saca um coelho de dentro de uma cartola.

Somos um país predominantemente oral. No Brasil, uma das maneiras mais usuais de transmissão do conhecimento ainda é a fala, como se tivéssemos uma natural desconfiança da escrita, como se ela não se bastasse por si mesma e necessitasse do reforço da oralidade. Se analisarmos a maneira como o acervo de contos de tradição oral serviu de arcabouço para a literatura de povos de várias partes do planeta, talvez cheguemos a um método educativo que nos ajude a reverter os problemas de aprendizado da leitura e da escrita.

Ronaldo Correia de Brito é médico e escritor. Escreveu Faca e Livro dos Homens.

Futebol na tarde de sábado




O CRB ganhou ontem. Jogando no Rei Pelé. O adversário mandou dois pênaltis na trave, e o Galo da Pajuçara mandou uma bola pra rede do adversário.

Não vi ainda o CRB jogar, mas tô gostando do que ando vendo a seu respeito. Afinal é time alagoano, um estado que, por si, mereceria um capítulo à parte.

Enquanto o Leão cearense, o Fortaleza, perdeu hoje, pela terceira vez consecutiva neste ano, para o Corinthians. O mais chato é aguentar o regozijo da torcida mais fiel já vista, os proscritos e fanáticos Gaviões da Fiel.

Como fazem falta os Leões da TUF.

É, torcida também ganha jogo. Mas, a vitória começa em campo, com a comissão técnica de frente: os jogadores.

E como os jogadores leoninos jogaram mal, hoje. Pareciam com medo.

Enquanto os ceerrebianos, jogando no Pacaembu, balançaram a rede dos corintianos duas vezes. E a primeira vez foi com um minuto de jogo. É certo que o time visitante tomou três gols e, na acareação, perdeu por três a dois.

Mas o Leão levou de dois. É certo que um gol foi contra e o outro inválido (a bola saiu meio metro há meio metro do bandeirinha. E ele só deu bandeira).
E tivemos Márcio Azevedo expulso (com justiça, diga-se) na metade do segundo tempo.

O placar de dois a zero foi plausível:
o Corinthians mereceu ganhar, e ao Fortaleza só restou perder.

"Com Jeito Vai"


" ... O vôvo foi a cavalo para visitar vovó
E o papai de bicicleta
para ver mamãe , ora vejam só ...
Nesse mundo tudo é mudado
Tudo , tudo , sim senhor ...
Pois eu quero uma lambreta
para ver o meu amor ...
Corre , corre lambretinha
pela estrada além
Corre, corre lambretinha
para ver , meu bem !"




Na década de 50 , os carros de passeio , como o de Pedro Maia eram raros... Predominavam caminhões , mistos , jeeps da Willys , camionetas , cavalos , carrinhos de mão , bicicletas , patinetes , velocípedes , uma ou outra lambreta .
Na minha rua , morava um rapaz , que tinha uma lambreta , e resolveu , um belo dia , transformá-la num automóvel. Usou seus conhecimentos de mecânica e funilaria , e fez a engenhoca ! Sucatas , madeiras , pneus , transformaram a sua lambreta (que deveria servir para encantar brotinhos ), num esquisito conversível .
Produto terminado , quis experimentá-lo ! Passeou devagar , nas ruas do centro , acordando e chamando todo mundo pras calçadas com o barulho do motor , e o som da busina . As calçadas ficaram apinhadas de gente : velhos , senhoras e senhores , jovens e crianças , enfermos e paralíticos . Sentindo a dificuldade de locomoção do veículo , uma voz gritou em toda altura : Vai , com jeito vai ... Lembrando uma marcha de carnaval de Braguinha , que estava em voga .
Pronto , o apelido pegou , no Pardal do Crato .
Quando passava , o carro gritava ... "Ô abre alas , que eu quero passar "( de Chiquinha Gonzaga), e o povo cratense , em uníssono , respodia : Vai , com jeito vai ...
Um dia a casa caiu . Morreu " Com Jeito Vai " , numa virada de carro.
Uma morte que nunca esqueci .
Fiquei triste , nos meus 5 anos.
Acabara o carnaval fora de época ...
Marcha fúnebre , o fim da comédia !

Anos azulados - Foto de Pachelly Jamacaru


Nasci na década de 50 , agosto de 51 .

Nada existia de plástico , quase nada de enlatados . O doce era caseiro , o parto era doméstico , tudo se comprava na feira , até o rouge das moças , que não eram tímidas !
Mala de feira , geladeira a querosene , água de quartinha , pote de barro , caneca de alumínio , formas de sonhos(, salpicados de açúcar e canela ) e chupetas de umburana .
Minha primeira caneta foi Parker ... Mata - borrão , tinteiro , merendeira , goma arábica , farda com avental , caderno de borrão e caligrafia ... De tudo isso só ficou o lápis-de-cor para avivar lembranças !
B A BA ...Bá ! Solétravamos para aprender a ler, e depois partíamos para o mundo dos Contos de Fada , das Sherazades , dos Ali Babás ... Acho que não perdi um conto , de todos os infantis ! Quando a biblioteca se esgotava , a gente botava o povo grande pra inventar estórias , mesmo que fossem mentirosas , que não terminassem com uma bela festança , e o desencanto dos sapos ! Os personagens eram sempre órfãos , pequenos condes , princesas , madrastas , e um lobisomem . Meu sonho maior de consumo era ganhar uma varinha mágica , com o condão de me fazer moça , antes de ser tia ; lua-de-mel no casamento , sem viuvez por chamados de guerra , empaludismo , angina do peito , e por aí afora... e um filho como o Pinóquio... sem defeitos de madeira ! Fôram tantos os pedidos , que vivi a lua por inteiro , e o sol , no pingo do meio dia !Existiam as radiolas , tocando seus mambos , suas babalús , seus boleros , e samba - canções ( hoje , apelido das cuecas da época ).
A Usina de Algodão dos Alminos , avisava que eram sete horas , onze horas , uma hora , cinco horas ...O resto das horas , tinha um sino pra chegar , em qualquer esquina . Ainda existiam as sirenes , nas escolas , avisando recreio , hora de cantar um hino , hora de correr pra casa , e se ocupar das fadas !
Minha infância foi num mundo encantado , e mal - assombrado ... Escapei das varíolas , cataporas , e falsos crupes ... Nas mãos de Dr. Eldon ( o meu preferido ) , Tarcísio Pierre , Júlio Felício , Macário , Gesteira , a gente vivia ! As mães também cooperavam com leite do peito , e comida natural ...
As modistas nos vestiam com tecidos de Anaruga , Lese , Filó , Tule , Organzas , Cambraias , sem dispensar as Chitas , nos dias de quadrilha . Zenira Cardoso marcava os nossos passos com sotaque francês , e energia festiva , sempre imemorável !
Hugo Linard já tocava acordeon ... Era o caçula de todos os músicos ! Os demais eram seresteiros , ou faziam parte da Banda Municipal com todos os dobrados da alma !
Festa de Padroeira tinha tontura de carrocel, cheiro de filhoses , e gosto de caldo de cana . Pipocas ... ora bolas ! Chicletes Adams ou ping-pong !
Amendoim Torradinho , nos saquinhos ou no vinil ... Mesmo que o corpo , ainda estivesse branco , longe da Cor do Pecado .
Ninguém aprendia a ler , sem passar pelo Externato 5 de Julho , sem conhecer Dona Anilda Arraes , Dona Chiquinha Piancó , Dona Rute e Dr. Zé Newton , Madre Feitosa , Monsenhor Montenegro ... Sem falar nas freiras do Sta Teresa , Patronato , que guardavam no internato , as meninas de outras cidades ! O Ensino Público era valorizado , e nada deixava a desejar aos Colégios Particulares ! Ser professora primária era o pódio da maioria das moças !
Dona Rosa Amélia , lembrei agora ... Em que céu foi parar ?
Mestres como Álvaro Madeira , Luiz de Borba , Vieirinha , Zé do vale , Pe. David Moreira , Minha Querida Ivone Pequeno , Severina Calou ,Terezinha Pinheiro , Lourdes e Cira Esmeraldo, Zé Nilo , e outro tanto ! ?
Continuam contemporâneos ... Alderico e Agnelo Damasceno , Pe Gonçalo, Pe. Ágio , Vera Lúcia Maia , Anchieta Barreto , Auzir , Teresa Cristina Gesteira , João de Borba , Pe. Ágio ,Valdenora Moreira (minha mãe e professora) , Lúcia Madeira , Nadir e Célia Brito , Ana Teresa Esmeraldo , Divani e Bernadete Cabral , Cidália Luna , Dona Astrês , Neide e Isa Barreto , a grande Sílmia Sobreira , Maria do Carmo Feitosa , Eneida Figueirêdo , e outros mais !
As Academias eram nas calçadas , com muito pula - pula , carreiras de medo ou pra achar o cinturão-queimado . Os meninos jogavam futebol para entortar as pernas , e as meninas jogavam chibiú para encontrar o equilíbrio , nos malabarismos domésticos !
Quem não teve uma foto " by " Telma Saraiva ? Quem não tomou sorvete em Bantim ? Quem não usou Angel Face , Cashemere Bouquet , Vale Quanto Pesa , creme dental Gessy, Contourée , Madeira do Oriente , e perfumes da Coty ?
Crato das noites frias de junho , dos baloões encantados , das amplificadoras e rádios ... tocando "O GUARANI" ou "LENDA DO BEIJO " .
Calcei sandálias pisa-na-fulô , fiz primeira comunhão em traje de noiva , e arranjei os primeiros namorados , desfilando na Pça Siqueira Campos ( com saltos ) ou nas procissões (com farda de gala ) .
As tertúlias nas casas de família , os passeios nos açudes e cascatas eram permitidos ... Faziam a nossa felicidade !
Tenho lembranças tão antigas , que a minha mãe diz : " Eu tenho é medo que você se lembre da hora em que nasceu " ... Tava muito escuro de onde eu sai ... Precisava da luz desta cidade cearense , e não tive dúvidas : Cheguei , sem voltade de partir !
Brinquei meus primeiros anos , na Rua Pedro II , com uma meninada , que ainda encontro por aqui : Nájela , Ziana , as filhas de Dona Otília ... Alem das filhas de Dona Júlia , as netas de Dona Liô , as sobrinhas de Noélia Brito , Valda Farias , as filhas de Tia Ivone ; estudei com as Siebras de Brito , Valdevinos , os filhos de Dr. Aníbal , Chico Alencar , Almina Arraes , Eunício Dantas , Joaquim Paletó , Letícia Figueirêdo, Fábio Esmeraldo , Elsa Barreto , Alice Esmeraldo , Lourdes Vilar , Tarcísio Leite , e outro tanto !
Os nomes não fazem o sentimento , mas as carinhas de anjos , ainda povoam os meus sonhos... Aliás , algumas delas , coroavam Nossa Senhora , nos dias 31.de maio, de algum ano do passado. Rosineide Esmeraldo e Maria Luiza , por exemplo , enCatavam todos os santos !

Hoje é dia de Coroação da Rainha de todos os céus : Maria !
Dela , a minha geração era filha !

EU CREIO NA AFRICA, reflexão por ocasião da Jornada de Africa


Por: Domingos das Neves

Philippe Hugon, um economista francês, no seu livro intitulado “L’Economie de l’Afrique”, faz uma síntese magistral sobre alguns dados macroscópicos da letargia a que está sujeita o continente africano, e algumas chagas que ainda fazem resistência a desaparecer. A África – sentencia o economista francês – ainda se confronta com numerosos problemas não resolvidos desde a época das independências: uma excessiva dependência nas exportações da matéria-prima, a quase ausência de um tecido industrial, débeis taxas de investimento, a fragilidade do mercado interno (…). Em seguida Hugon propõe à nossa atenção alguns dados e cifras macroeconómicos de alguns países africanos, que deixo à curiosidade (e interesse) do leitor.Se ouve não poucas vezes, com uma boa dose de cinismo a sabor ocidental, que se o continente africano (sob o ponto de vista económico) desaparecesse do mapa-mundo ninguém se aperceberia. Uma tal afirmação – cínica na sua eficácia comunicativa e ao mesmo tempo falsa de verdade, pelo menos na análise de dados sobre a realidade económica mundial – cancela um dado historicamente comprovado: a inserção do continente africano no “sistema-mundo” no âmbito da divisão internacional do trabalho que teve inicio no século XV com o comércio triangular. O “sistema-mundo” é uma estrutura polarizada entre o Centro e a Periferia por meio do mecanismo da subalternização das economias da Ásia, da América do sul e da Africa, por parte da economia hegemónica. De facto, na sua essência, o comércio triangular (entre a Europa, a Africa e as Américas no século XVI) é o instrumento principal, o primeiro embrião da “inclusão-exclusão” das economias não ocidentais, e portanto também de Africa, nas modernas economias ocidentais.Mas o nosso quesito de fundo não se limita no facto se a Africa está ou não inserida dentro da economia mundial, mas consiste no saber como está inserida neste âmbito e quais são os efeitos que incidem nos processos locais de produção e reprodução da riqueza? Sobre os mecanismos utilizados na luta contra a pobreza (e o empobrecimento) e as dinâmicas de intercâmbio com o resto do mundo? Porque lugubremente se constata ainda uma fase de empobrecimento estrutural e crónico no continente africano, que a coloca no chamado “quarto mundo” da estagnação ou da regressão económica.Esta tarefa se torna ainda mais árdua, pela impossibilidade de recorrer, como nos séculos passados, à explicação antropológica ou biológica, que se baseavam na tese da “natural e congénita inferioridade dos negros”, e que de um modo geral insinuava a ideia, que resiste a se cancelar, segundo a qual existe qualquer coisa na natureza dos africanos que os impede de atingir certos resultados. Essa ideia - que a ciência demonstrou ser falsa por não existirem raças intrinsecamente hierarquizadas – continua a ter uma resistência sorrateira. De facto, uma corrente de pensamento que pulula dentro de Africa não afirma coisa diferente quando convida os africanos a se despirem de certos condicionamentos antropológicos e psicológicos que constituem um travão para o desenvolvimento.É necessário afirmar com força a absoluta inconsistência da pista biológica, porque a história económica da Africa – pelo menos até ao inicio da abominável época da escravatura e do tráfico dos negros - comparada com as outras áreas do mundo, atingia os mesmos níveis. Talvez será necessário rebuscar nos factos da história algumas causas da fragilização estrutural do continente, de acordo com o historiador Giampaolo C. Novati. Como é óbvio, sem fixar o olhar no passado histórico, não existem rígidos determinismos que podem influenciar de maneira automática sobre os factos actuais, desresponsabilizando os africanos de hoje nas suas escolhas económicas. Mas também não podemos não ter em conta que as escórias da história deixaram marcadas as suas impressões sobre os territórios, sobre os homens, sobre os quadros sociais, culturais e sobre a evolução da sua relação com o mundo e com os outros. O meu amigo Jean Léonard Touadí, de origem do Congo Brazzaville, recentemente eleito como deputado no Parlamento Italiano, no seu livro “Africa - a Panela que ferve –dizia que a solidão geopolítica de Africa e a sua marginalização relativamente ao fenómeno da globalização económica representam uma realidade que leva muitos observadores a decretarem a agonia do continente. Africanistas mais ou menos actualizados, peritos em cooperação, voluntários que quase não confiam nas capacidades dos africanos, esperam à margem do rio ver passar o cortejo fúnebre que transporta o cadáver de África. E não obstante a instabilidade política, os falhanços dos modelos económicos, as guerras e as carestias, o cadáver ainda não passou, e os povos africanos deixaram de olhar para os céus onde vinham as ajudas e passaram a olhar para a própria terra, valorizando-a. É necessário recomeçar para finalmente compreender que a Africa nunca morreu, mas é, como dizia o filósofo camaronês Jean-Marc Ela, “Uma Panela que ferve”. É um auténtico afro-optimismo!E eu continuo a acreditar na Africa! Porque não?!
Romae, 25 de Maio 2008.

Domingo das Neves é membro do Circulo dos Intelectuais da Africa lusófona em Roma e doutorando em direito.

e-mail:ddasneves@hotmail.com




A CRISE HUMANA NO MUNDO MODERNO

Falar em crise é algo complexo, isto porque existem muitas delas. Mas, como entender a crise raciocinando sobre ela – eis a questão! Eu diria que todas as crises tem dois estados: o antes e o depois. A crise é em si mesma a transição entre estados diferentes de um fenômeno natural ou social. Ela é a possibilidade de mudança de um lado-estado para o outro – nos dois sentidos! Podemos destacar a natureza das crises: política, ecológica, econômica, cultural, educacional, identitária, existencial, material, espiritual etc. Na crise política-econômica, por exemplo, podemos identificar inúmeros pares: capitalismo-socilalismo, capitalismo-feudalismo etc. E assim por diante. E mesmo dentro de um fenômeno pode haver uma divisão e transição. Ou seja, para se ter o fenômeno da crise tem que haver um par-fenômeno. E esse par-fenômeno deve estar sendo afetado por uma força superior que provoca um movimento de mudança, transformação ou fluxo. Nesse sentido, a crise do capitalismo não ocorre por ele mesmo, mas por uma força abstrata superior que o força a uma mudança. Em outras palavras, todas as crises sociais ocorrem devido às forças sutis humanas em movimento, evolução e transformação. As crises naturais seguem a mesma lógica. E considerando o ser humano como uma entidade pertencente a um cosmos - um processo universal e transcendental - o homem pode também influenciar uma mudança nesse par-fenômeno natural. O equilíbrio seria o lugar ou espaço onde a crise não se manifestaria. O equilíbrio é o lugar da unidade na totalidade de todos os fenômenos – que estão interligados e interdependentes!
Em outras palavras, a única possibilidade de se manifestar o estado de não-crise é no estado de equilíbrio das forças antagônicas (que gera competição ou conflito) ou complementares (que gera cooperação ou solidariedade) em movimento em busca de unidade. E esse lugar é em verdade uma utopia – porque é um espaço que transcende a dimensão psico-biológica do homem racional que conhecemos. Eu denomino esse lugar de Transcendência Ontológica. Nesse contexto, estaremos em eterna crise ou conflito enquanto não descobrirmos o verdadeiro sentido do fenômeno de equilíbrio na unidade em si mesmo. O ser humano é nesse contexto uma natureza que caminha oscilante para uma evolução autotranscendente da unidade em si – AMOR. Ele é, portanto, multidimensional e utópico em sua estrutura ontológica.
A consciência humana é a força sutil e abstrata que provoca as alterações ou mudanças de estado no par-fenômeno. Ela é tanto sensibilidade, inteligência e energia em processo de criação. Assim, todas as respostas aos problemas humanos dependem do autodomínio desse poder-lugar invisível, porém vivencial.
Prof. Bernardo Melgaço da Silva – bernardomelgaco@hotmail.com

Mulheres & Muralhas


Beleza desperdiçada
Natureza morta
Enquadrada por lentes de óculos vazados
Vista pelo olho vítreo da paciência
Analisada pelo zoom eletrônico da ciência
Microscópico exame de diagnóstico furado
Olhares feudais aquém das cercas
Medievos olhares de cegas muralhas

Mulheres, feiticeiras ardilosas
Natureza morta
Estupradas por pênis de ereta borracha
Ardendo no óleo e na fumaça
Fogueiras da vaidade em plena idade mídia
Terminais de antigas injustiças
Internet da inquisição moderna
Rede unida pela concórdia e a contrição

A SAÚDE E A PAZ ATRAVÉS DO EQUILÍBRIO ENERGÉTICO

A vida moderna acelerada sofre devido à uma sobrecarga psíquica-emocional de valores e idéias, produzidas pela vida individualista, competitiva, utilitária e mercantil, que norteiam as relações humanas primeiro para um conflito interior e depois para uma relação desequilibrada exterior tendo como conseqüência uma instabilidade orgânica e psíquica. O resultado desse processo são observados nos impulsos instintivos, estados emocionais e comportamentos indesajáveis manifestados através da depressão, angústia, violência, falta de perspectiva e desesperança e, portanto, tendo como conseqüência uma grave doença somatizadora que afeta o sistema físico e o sistema sutil – a falta de paz e saúde é apenas o lado visível dessa questão. O stress e a alexitimia (ou síndrome da insensibilidade) são exemplos, entre tantos outros, dos tempos modernos.
Todo ser humano vive num duplo meio natural-social onde precisa desenvolver suas aptidões e descobrir recursos para permanecer, crescer e evoluir nele – com saúde e em paz! No entanto, esse propósito se torna - para muitos! - difícil de se alcançar, pois somos condicionados e delimitados em nossas condições de sobrevivência pela própria natureza e cultura da qual somos parte inseparável. O homem não vive apenas como um animal condicionado em busca da caça para sobreviver. Ele pode em algum momento fazer isso, mas a sua natureza não se resume à luta pela sobrevivência. Ele possui outros mecanimos intrínsecos existenciais que os animais não possuem: a razão e a intuição. Então, o que é o homem? O grande filósofo Nietzsche respondeu dizendo: “o homem é uma ponte entre o animal e o supra-humano”. Podemos dizer que o homem tem três partes: o fisiológico (o lado biológico – animal), o psicológico (o lado racional que o diferencia dos outros animais) e, o ontológico (o lado intuitivo-amoroso que diferencia o homem consciente de si do homem apenas consciente). Em outras palavras, o homem é uma estrutura complexa e sutil composta de corpo, alma e Espírito. Essas três dimensões do homem determina a sua condição existencial: o homem tem algo incomum que os animais não possuem ou não se percebe de imediato - o lado transcendental do Espírito! Por isso, o homem é capaz de ir além de si mesmo para poder realizar a tarefa de buscar sua verdade na própria consciência – em si mesmo. Essa possibilidade de ter dimensões diferenciadas, mas integradas no seu interior torna a saúde e a paz uma empreitada difícil e penosa. Ele precisa para se equilibrar descobrir as leis, os princípios, as substâncias e os fluxos de energia de forma a permitir um melhor inter-relacionamento, aproveitamento, fortalecimento e aprimoramento de sua natureza em seus três domínios: corpo, alma e Espírito. A questão está, portanto, na compreensão do próprio equilíbrio do seu sistema energético. Qual é o domínio dessa energia e até que ponto o desconhecimento de seus princípios o afeta e o impede de acessar um estado de consciência mais sutil e harmonioso? Segundo a revista VEJA (“O Corpo é o Espelho da Mente”, 28/05/2003):
“Pesquisas recentes dão respaldo científico a uma crença que, divulgada no Ocidente pelo pessoal do paz-e-amor, está na base de filosofias orientais milenares - a de que uma mente apaziguada ajuda a prevenir doenças, acelera a recuperação física e até cura. O contrário também se revelou verdadeiro. Pensamentos e sentimentos negativos contribuem para o surgimento de moléstias e atrapalham o restabelecimento de um doente. Rancor, hostilidade, ressentimento e angústia podem estar na origem de distúrbios cardíacos, hipertensão, depressão, ansiedade, insônia, enxaqueca e infertilidade. Além disso, o peso dos sentimentos ruins debilita o sistema imunológico, fazendo com que o organismo se torne um alvo fácil de infecções, alergias e doenças auto-imunes, como a artrite reumática” (p. 79). A resposta para uma saúde completa é um caminho que futuramente através de um curso procurarei esclarecer com teorias, reflexões filosóficas e técnicas de relaxamento-meditação oriental.
Prof. Bernardo Melgaço da Silva

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Guizos

Antigamente a pedra estava no meio do caminho.
Agora me queima a laringe.
A fumaça não é sagrada.
Sequer me faço compreender por tambores.
A lucidez não me solta dos calcanhares
nem me salta aos olhos.
Antigamente todo pó que existia
pairava sobre o velho sofá da minha vó.
A felicidade não me pedia nomes.
As sombras bastavam.
Agorinha mesmo as nuvens me batizam.
Entram, prostram-se aos meus pés.
Fazem-me cócegas.
Antigamente eu não sorria de soslaio.

quinta-feira, 29 de maio de 2008


Devo lhe dizer que siga as placas. Devo lhe dizer que obedeça. Devo lhe dizer que na verdade eles estão certos. Então aprenda a ler. E lendo, aprenda a ser delicado. Coma direitinho. Use o guardanapo. Não fume em público. Não peide. Use perfume e pelo amor de deus, escove os dentes e reze antes de dormir. Devo lhe dizer que a placa diz o que alguém mandou. Não questione então. Não buzine na porta do hospital. Não compre a arma da vitrine. Não pegue na bunda exposta da menina. Você está entendendo né? Aprenda desde já onde é o seu lugar. Fique nele. Não saia do seu lugar. Não invada. Não entre. Não se meta. Não meta nada em ninguém. Rezou? Escovou os dentes? Olhou se o sinal está verde? Então prove que você é do bem e dê sua cadeira a velhinha. Ofereça o seu lugar na fila. Bebeu demais de novo? Você não tem jeito. E isso é regra. Então obedeça as regras. Coloque só duas gotinhas. Mastigue. Mastigue. Mastigue. Leia direito. Depois discuta. Se for minoria, concorde. Se for maioria, concorde. Mantenha-se calado. Desligue o celular. Diga que entendeu o livro. Diga que entendeu o filme. Diga que entendeu a porra da tela abstrata. Mantenha a barba meio sem fazer. Mantenha os cabelos meio desalinhados. Mantenha as roupas meio amarrotadas. Mantenha um sorriso meio meia boca. E por favor, siga as placas. Crie um gato. Um cachorro. Um periquito australiano do brasil. Escute rádio de manhã. Aprenda uma música dessas ditas populares. E veja bem: siga as placas. Ande devagar, mas tenha pressa. Fale baixo, mas grite um pouco. Diga que é gente. Pessoa. Ser. Alma. Inteligência. Parte do todo. Que vai pro céu. É mentira, mas qual o problema? Você até pode mentir. Desde que siga as placas.

O IMPOSTOR


O Impostômetro é um instrumento criado pela Associação Comercial de São Paulo para registrar a arrecadação de impostos em tempo real. Através desse registro dá para se ter uma idéia do absurdo da carga tributária que recai sobre o brasileiro. A previsão para o final do ano é de R$ 1 trilhão de reais. No último dia do ano passado o registro marcou a quantia de R$ 921 bilhões.


Isso é relevante em vários sentidos. Não quero aqui abordar as questões teóricas que envolvem a criação de impostos, a destinação do arrecadado e os custos da administração pública. Muito menos os mecanismos tecnocráticos que envolvem a tributação. Nem tão pouco teorizar sobre as funções políticas em uma sociedade. Quero aqui apenas admirar a singularidade desse tesouro.


Muitos buscam a pedra filosofal. Outros buscam a fonte da juventude. Alguns mais alucinados buscam os jardins de Alá, após detonarem quilos de explosivos e levarem consigo dezenas de pessoas. Conheço muitos que buscam um golpe do baú. Existem outros que desejam o eldorado. E muitos se perdem em desejos ínfimos e despovoados de quaisquer vestígios de moral, quando apenas sonham com um festival de forró cheio de putas baratas. Os desejos são realmente insondáveis, mas não de todo incompreensíveis.


O caminho sagrado dos desejos publicáveis e impublicáveis da maioria dos chamados políticos de carreira passa inevitavelmente pelo viés da arrecadação. Essa é a grande fonte. É a vaca profana da conduta pública. É através dela que fortunas são erguidas em um piscar de olhos.
Um trilhão de reais, secamente, é muita coisa para ser roubada. Claro que não vale a pena chegar e passar a mão grande. De acordo com a história da política brasileira é necessário um ritual todo especial. É preciso planejamento. São anos de convencimento coletivo. É pura arte. Além de qualquer estratégia é necessário gastar para poder roubar. Parece ridículo, mas é assim que funciona.


É fundamental que apareçam propósitos de investimentos; de custos administrativos; de juros de dívidas anteriores; emendas orçamentárias; votações emocionantes; intrigas épicas; traições infames; amantes canalhas; assessores cretinos; gentalha para ser assistida; é necessário que sejam sacrificados diariamente os heróis molambentos, para que a causa da abnegação pública apareça. É daí que surge o político profissional, derivado em poder e oposição. É dessa necessidade de legitimar o ilegítimo que nasce o imposto e o impostor das causas públicas.


Atrás de um imposto sempre tem um impostor maioral. É ele que assiste na televisão de trezentas polegadas, com o plasma feito pela secreção vaginal de trezentas virgens, a notícia de mais uma tragédia na fila de um hospital público, arrotando e peidando em sua poltrona de pele de nordestino, olhando de lado, confirmando a sua tese de que a saúde precisa de investimentos. Renasce então a CPMF e os ladrões sorriem satisfeitos por mais um dever cumprido. Dívidas e dividendos.


Marcos Leonel

Língua presa

Uma alma chorona.
Silencia-se.
Dorme ao relento
e adora o piscar gélido
das estrelas.
Uma alma de lagartixa mórbida.
Só se estressa quando faminta.
As paredes úmidas assustam as traças.
Será preciso um facão amolado na minha testa.
Meu coração tem couro de mamute.
Será preciso uma mão sofisticada
que faça da luva luxúria.
Meu coração ancião não anseia mais.
No segundo dia útil tomo um porre.

SOS BATATEIRA! - A Audiência

Solicitada pela APA-Araripe - Dr. Jackson Antero – a audiência com o Ministério Público para a solução definitiva do problema que envolve a distribuição de águas das fontes nascentes na parte cratense da Chapada do Araripe (principalmente a fonte Batateira).
Mara Guedes (Partido dos Trabalhadores-PT) comparou a Terra a uma mulher-mãe que estava sendo malatratada e pedia socorro.
Dr Elder (promotor) conduziu com extrema leveza e serenidade a audiência, ontem, no Teatro Municipal do Crato.

O Partido Verde e o Movimento SOS Rio Batateira (SALATIEL e ED ALENCAR) fez ver ao Ministério Público que toda aquela questão foi provocada para que se retome as águas que perenizam o rio que passa pela reserva ecológica do Sítio Fundão. A distribuição de águas teria agora que levar em conta, preferencialmente, a vazão ecológica que vai permitir a revitalização do da Flora e Fauna daquela reserva, hoje ameaçada.


O presidente do CONPAM e do Partido Verde, Dr. André Barreto, acompanhou com interesse todas as discussões.

Ao final, após 07 horas de assembléia, as instituições reguladoras (COGERH, SAEC, PREF.MUNICIPAL), órgãos fiscalizadores e ambientalistas (SEMACE, CONPAM, APA-ARARIPE, FUNDAÇÃO ARARIPE, FLONA) movimentos sociais organizados (Fundação Mussambê, SOS Rio Batateira) e partidos políticos (Partido Verde e Partido os Trabalhadores) e, ainda, representante dos moradores que utilizam a água para consumo e atividades agrícolas, todos, contribuíram com idéias, sugestões e propostas para o documento final que foi elaborado e assinado pelas partes interessadas e que determina os prazos, responsabilidades e multa pelo descumprimento das cláusulas pertinentes.

Parabéns a todos que tomaram para si a responsabilidade sobre o equilíbrio do nosso eco-sistema. Estamos ainda no começo!

ANTES QUE...

Antes que o tempo se escoe
Antes que a vida perca sentido
Antes do antes
Antes do depois
Antes do fim de tudo
Antes do nada
Antes que o sol se ponha
Antes que a lua apareça
Antes que a fantasia se vá
Antes que o sorriso saia da moda
Antes que o pássaro voe para o seu ninho
Antes que a rosa exale seu perfume
Antes que as trevas seja horror da morte
Busque em ti o tesouro perdido
Não adie essa busca inevitável
Ela algum dia deverá ser feita
Você é o tesouro e o aventureiro
Você é o mapa e o território
Ame e converse consigo mesmo
Fale com sua essência divina
Que habita dentro de ti
Diga a ela sobre a sua vida
Suas angustias
Seus medos
Seus desejos
Sua covardia perante a vida
Abrace a si mesmo como se estivesse abraçando a sua essência
Não tenha vergonha
Não se ache louco
Pois ela é o tesouro que jamais imaginaste
É algo tão belo
Que sua luz pode "cegá-lo"
Se defrontares com ela de supetão
É a fragrância que jamais sentiste em toda a sua vida
É o prazer que nunca experimentaste
Está além do sexo, anos-luz de distância
É a estrela que você gostaria de ter em suas mãos
É a música jamais composta por alguém
Ela é real e bela
Ela é simplesmente a essência de Deus
Não acredites que Deus não existe
Isso é para os céticos duros de coração
Não para você!
Deus é a natureza externa e interna do homem
A natureza interna virgem querendo ser viciada
Prof. Bernardo Melgaço da Silva - bernardomelgaco@hotmail.com

CARTA AO FRONT DA TRINCHEIRA DA "GUERRA GLOBALTECNO-IDEO-LÓGICA": A GUERRA NÃO É UM CAMINHO DE UM VERDADEIRO SER CONSCIENTE DE SI MESMO

CARO IRMÃO (Ã)
Espero que essa carta chega na trincheira onde a dor se encontra. Eu não quero lhe convencer. Você está numa guerra (tecno-ideo-lógica) e pouco posso fazer por você. Só cabe a mim escrever. Não me leve a mal só quero ajudar. Só quero lhe fazer compreender. Fiquei sabendo da sua participação. O convite foi feito de modo muito sutil e você atendeu à convocação. Partiu sem perceber a real situação. Assim como você muitos foram e também não voltaram. Perderam a noção do caminho de volta. Perderam a sensibilidade da condição de ser humano livre e feliz. A guerra em que você se meteu não está sendo realizada à luz do dia da verdade. É uma guerra subliminar na escuridão da visão de mundo racional. Por isso, ela se realiza num espaço de uma dimensão da inconsciência de si.
Fico olhando as trincheiras ocupadas por soldados vestidos com o uniforme da competição. Esse uniforme é cinza escuro e manchado de vermelho (sangue!). Ele tem estampado na altura do peito o símbolo da destruição com o nome de globalização (econômica). Vejo a poeira subindo nas trincheiras superlotadas de soldados-cidadãos ideologizados-globalizados. O calor é intenso e o inimigo se esconde na confusão. Cada um procura se enquadrar numa ordem ideológica estabelecida que define a estratégia do confronto. O inimigo é parte de um esquema organizado e estruturado segundo as leis do mercado ou do Estado autoritário . Por isso, a guerra tem uma lógica ideológica que precisa de muita sistematização. Os comandantes da guerra estudam essa lógica e depois reunidos num grande salão escolhem as Ações (de “valores”). Os soldados nas trincheiras apenas cumprem as ordens de acordo com o poder das Ações (que guardam em suas próprias BOLSAS!).
Por isso, meu prezado irmão (ã) é com muita dor que escrevo com amor. Retorne imediatamente ao mundo sem guerra. O inimigo que tanto busca combater é a sua própria projeção lógica na figura do outro. Não existe de fato nenhum inimigo. Não existe com quem concorrer. O que existe é uma ordem humana que inventou um estado, um modo de viver, um modo falso de ser. Não precisa seguir automaticamente em direção à trincheira da sobrevivência sem consciência. Não precisa morrer. Toda vez que você ganha de alguém perde a chance de "morrer" para si mesmo. A vida não é uma guerra. E nem você é um soldado. Muitos lhe ensinaram a marchar, mas poucos sabem de fato caminhar. O caminhar é livre, o marchar é orquestrado. Muitos são repetidores; poucos são mestres de verdade.
Posso ver você marchando em direção ao posto de trabalho na trincheira do combate. Lá você bate continência ao capitão do posto e em seguida segue para a linha de frente. Os mapas do combate lhe são passados. São inúmeros relatórios, dados, pesquisas, memorandos, cartas etc. Todos eles são analisados para possibilitar a posição real do inimigo. O inimigo não é um alvo estático. É um alvo lógico. Nesse sentido, todo cuidado deve ser lógico também. Todas as previsões terão que ser lógicas. Todos os fundamentos terão que ser lógicos. Você e seus companheiros terão que ser lógicos. A vida e tudo mais que lhe cerca será (psico)lógica. O mundo se torna um fenômeno lógico. A lógica fica cada vez mais lógica. O meio ambiente fica lógico. A imaginação se impregna de lógica. E a verdade se torna finalmente lógica. Nesse contexto, o dia passa ser vinte quatro horas de um tempo construído logicamente. O anoitecer acontece depois do entardecer. A terra gira em torno do sol. O sol é uma bola de gás incandescente. O homem veio do macaco logo após a perda dos pêlos (que ninguém sabe precisar como ele ganhou consciência de si humana). O amor é uma paixão. A paixão é um processo físico-químico. A felicidade é conquistar uma mulher bonita ou um homem bonito. A liberdade é poder consumir qualquer produto do supermercado ou comprar qualquer carro veloz e caro ou comprar uma roupa no shopping-center da cidade.
Nesse contexto, a vida é um estado pensante (“penso, logo existo”) numa condição biológica que vai desde o dia em que você nasceu e se conclui alguns palmos abaixo do chão (dentro de um caixão!). A realização é "ter" um lugar ao sol; é um gol flamenguista no time vascaíno e vice-versa; é acertar na loteria federal; ser médico; ser advogado; ser doutor etc. É tudo lógico! Mas, não é ontológico. Ou seja, antes do lógico precisa se colocar o "onto" (o ser). O ser é o fundamento de tudo. Por isso, um sábio grego afirmou "conhece-te a ti mesmo". Em outras palavras, é preciso conhecer quem você é. E você, meu caro irmão (ã) entrincheirado (a), é muito mais do que lógico. Você é SUPRA-HUMANO (ONTOLÓGICO)!
Assim, mesmo que o mundo tente mostrar que estamos em paz, reflita se isso é uma lógica criada pelos inventores e comandantes da guerra, ou se de fato estamos sendo usados como autômatos numa guerra psico-lógica sutil. Pense enquanto há tempo para sair dessa lógica absurda que exclui 2/3 da população mundial. Você (meu leitor (a) desconhecido (a)) está também nessa guerra? Como sair dessa guerra absurda que mata de miséria, de doença, de fome, de exclusão, de solidão, milhões de indivíduos que não sabem usar o seu poder lógico. Vence aquele que tem mais lógica ou poder ideológico? Ganha aquele que convence ideo- logicamente? A vida se resume em ser ou não-ser lógico? Pense! O Amor não é lógico. É ilógico! E agora, o que fazer? Renunciar/sair/ser ou continuar/ficar/não-ser: eis a questão! Enquanto há tempo e vida, busque em Ti a Origem de TUDO MESMO!
Prof. Bernardo Melgaço da Silva - bernardomelgaco@hotmail.com

ATENÇÃO PRODUTORES CULTURAIS DO CARIRI TEM UM UNIVERSO FOTOGRÁFICO NA REGIÃO

Olhaí pessoal desculpe. Já muita conversa pode ter ocorrido, mas eu estou desgarrado aqui no sopé do corcovado. De qualquer modo continuo num pé de serra. Acontece que acompanho o blog de fotografias do Cariri e no último ano vejo sucessivas amostras da fotografia do Pachelly. Não é brincadeira não . O Pachelly não julgo pelo relativo de muitos talentos que vejo também por aí. Não se trata de julgar um ranking para o nosso talento, pois isso é impossível. Os nossos fotógrafos são verdadeiros universos, não os cito, pois qualquer não citado poderia ser prejudicado em seu próprio universo. O que chamo atenção para os produtores culturais do cariri é da necessidade de promover uma exposição do Pachelly, escolham e vejam que de tão forte a fotografia da região muitos grandes eventos iguais irão entrar na agenda cultural da região.

Então, vamos conversar com o PACHELLY JAMACARU. Arrumem um espaço, iluminem, façam convites, convoquem nossas escolas da região. Eis um grande fosso educacional do nosso Ceará: na falta de grandes eventos culturais e eventos formais e organizados, a nossa criançada e adolescência fica à margem do mundo moderno. Não caiam no besteirol da ferramenta, como imagina sejam a informática. O conteúdo da alma humana é o norte da civilização e isso se faz pela cultura.

Vamos promover uma exposição do Pachally, abrir espaço para as escolas. Senhores prefeitos, aproveitem a oferta de cultura e providenciem transporte e lanche para os alunos irem a tais eventos, isso é um dos segredos do mundo civilizado.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

A IMPORTÂNCIA E O PAPEL DA IMPRENSA NA REGIÃO DO CARIRI CEARENSE: TEXTO DE APOIO AO JORNALISMO ÉTICO E CRÍTICO

Hoje as imprensas escrita, falada e eletrônica desempenham um papel importante na formação crítica da consciência humana num mundo cada vez mais acelerado, mais interdependente (hiper conectado), mais informal e mais “próximo” em virtude das inovações tecnológicas nos campos da tecnologia da informação e da comunicação. A tarefa dos meios de comunicação se torna extremamente árdua em função da rapidez com que a leitura, a interpretação e a divulgação dos fatos e fenômenos demandam precisão na ocorrência da imagem captada e comunicada. Nesse contexto, a observação e a análise dos fatos e fenômenos exigem dos profissionais da imprensa uma sensibilidade refinada e uma fundamentação intelectual e ética renovada e atualizada.
Em virtude dessa nova perspectiva da era da informação e do conhecimento, que transforma e é transformada rapidamente em seu próprio movimento em si mesmo, o leitor ou ouvinte necessita de notícias e relatos com um baixo índice de “ruído” e interferência prejudicial, e sem contaminação ideológica perversa. Nesse contexto, a imprensa na região do cariri sofre do mesmo problema global que é ser permanentemente crítica e fiel aos fatos e fenômenos sociais ocorridos. E crítica significa aqui, segundo Marilena Chauí – “Convite à Filosofia”, o espaço do dito do que ainda não foi dito, do julgamento claro que ainda está obscuro, da visão larga que ainda não está de toda aberta, da perspectiva profunda que ainda está superficial e limitada, da teoria inédita que transcende sem negar a verdade da teoria anterior. Crítica, nesse sentido, não é ataque baixo, retórico, vulgar, imoral, corporativo, chulo e sem fundamento. Ela é sempre construtiva mostrando o que ainda não foi mostrado, refazendo o olhar viciado e condicionado sobre o mundo objetivo, apontando para valores corrompidos na alma humana.
Nesse contexto, a imprensa caririense tem a função de informar, comunicar, esclarecer, anunciar, contestar, promover, divulgar, educar, divertir, criticar e canalizar as diversas demandas que surgem naturalmente no seio da sociedade. Pois, a ponte comunicativa entre o Indivíduo e a Sociedade pode ser compreendida também a partir das ações dos veículos de comunicação que aproximam esses dois pólos. O mesmo fenômeno ocorre entre o Estado e a Sociedade, pois cabe a imprensa ajudar a tornar visível ou transparente os atos, desmandos, abusos de poder (das esferas privada e pública: judiciário, legislativo e executivo), fatos importantes (p.ex.: mensalão, cuecão, tragédias, terremotos etc) e comuns, comunicados no sentido de fazer com que o cidadão comum se torne consciente do que acontece no seu mundo objetivo e dos seus direitos e deveres legais. É através do espaço livre da imprensa que o cidadão pode reivindicar ou apelar – sem gastar um tostão sequer! - para que a Constituição Brasileira seja respeitada (para todos!) e saia da sua dimensão escrita, estática e restritiva (para poucos privilegiados!) para de fato se fazer valer no mundo concreto das ações, desejos e movimentos legais e humanos. É através da imprensa que se pode combater de forma democrática as retóricas persuasivas que tentam manipular ou controlar as verdades nas mentes desatentas, desinformadas e incautas; cobrar os atos políticos desviados ou prometidos em campanhas eleitorais; identificar os responsáveis pelas corrupções dos atos ilícitos e imorais.
Enfim, a imprensa de um modo geral tem o dever moral de fazer valer a voz da indignação e a dor do coração daqueles que são injustiçados, discriminados, excluídos, abandonados, ignorados, atacados e explorados. E no Cariri, essa voz – que tentam calar! - vem sendo utilizada não só para divulgar as verdades sociais, econômicas, científicas, religiosas, culturais e políticas partidárias, mas também como instrumento de emancipação daqueles que necessitam de proteção, justiça - p. ex.: as mulheres violentadas e feridas mortalmente - e incorporação das políticas públicas em suas comunidades. Além de noticiar acontecimentos próximos e longínquos, ela também vem servindo para informar sobre arte, ciência, filosofia e religião em suas diversas e variadas perspectivas. A imprensa caririense vem cobrindo diariamente os diversos movimentos culturais e religiosos que atraem milhões de romeiros para essa região intensamente ligada ao mundo sagrado. Ela também comunica as potencialidades naturais, suas carências e suas riquezas ecológicas, infelizmente, em processo de destruição gradativa. Ela vem servindo para reforçar a identidade de um povo que luta para sobreviver numa terra esquecida pelas políticas públicas, mas lembrada pela Fé de Deus.
A sua importância é vital porque seu modo de ser é um espaço democrático que abre um canal direto para o homem comum, o intelectual, o político, o acadêmico, o religioso, o filósofo, o místico, o espiritualista que necessitam criar um diálogo e identidade com a vida humana a sua volta. A sua importância reflete em síntese na expressão da consciência humana que busca dialogar para aperfeiçoar, educar, informar, divertir e encantar os corações com suas diversidades comunicativas em seus diversos campos de atuação. E propagadas por atores que se engajam na arte e na ciência de transformar dados em informação, e informação em conhecimento e cultura. E assim, ajudam a preparar cada indivíduo humano para se conectar ao mundo interior da sabedoria perene, transformando conhecimento em autoconhecimento, indivíduo em pessoa, sofrimento em alegria, inconsciência em consciência de - e em - si mesmo!
Prof. (DSc) Bernardo Melgaço da Silva – (88)9201-9234 – bernardomelgaco@hotmail.com

Entro na desordem. E não tenho idade. Ou tenho. Enfim, entro na desordem. A desordem tem uma enorme boca de cena. Cortinas vermelhas que levanto devagar. Sem medo, apenas pra manter um clima. Apenas pra ser o primeiro a ver o que se esconde atrás da cortina.

Tem um deus morto dentro do elevador. Penso se devo olhar de perto. Penso se devo enfiar meus dedos nos orifícios da balas. Foram balas? Penso se devo lamber as feridas abertas pela faca. Foi uma faca? Penso se devo procurar um bilhete de suicídio. Será que foi suicídio?

Um demônio chora sentado em uma mesa lotada de garrafas vazias de cerveja. Debaixo de sua cauda vermelha brilhante um livro de aforismos de Oscar Wilde. Sento em sua mesa. Mantenho uma distancia segura. Pergunto se posso cantarolar alguma coisa. Ele sacode a mão, entediado. Desafino Lupiscínio Rodrigues. Ele me pede um cigarro, pergunta se posso deixar uma paga antes de sair.

Uma senhora passa nua da cintura para cima, empunhando uma bandeira azul cheia de estrelas. Para no centro do palco, sacode as próteses e diz solenemente: - “de agora em diante, está permitido falar besteira”. Um pequeno porco a segue de perto, farejando seus calcanhares.

Um copo vazio corta o espaço e se espatifa em algo além da minha vista. Vejo o barulho mais do que ouço o barulho. Sempre foi assim. Desde pequeno. Vejo o barulho das lagartixas. Vejo o barulho das roupas sendo atiradas pelo chão quando ela passa. Vejo a porta se batendo. Dizendo: - fôda-se meu rei! Fui!!!

A música sai das paredes. Fala de um garoto que amava os beatles e os stones. Fala do vietnã. Vietnã? A folha do notícias populares pingando sangue ri. Vietnã... os garotos não sabem dos stones. Os garotos não tem a menor idéia de quem são os caras de liverpoool. Fritam seus miolos com dendê e armam um pequeno vietnã em cada apartamento.

Músicas em Oásis - O céu inteiro está no CD de Pachelly Jamacaru .

" E com as músicas , a palavra .

Tudo posso em minha música
que tudo pode em meu unir - versos "

(Pachelly Jamacaru )









BANHO E AMOR - Pachelly Jamacaru


Uma anã no firmamento sentenciava a tarde
serpenteando alpondras , buscador do mar
desliza o velho jaguar na idade do quase lobo
desnudos serpenteei-lhe ,
palavras vãs na hora do serpentear
Marquei encontro com ela
nos encontramos no gozo .
















SOB O VÃO DO ARCO - ÍRIS - Pachelly Jamacaru






As curvas sinuosas de tão gigante país



só fazem lembrar que tantas vezes em ti



morri feliz.













EX -ORBITANTANTE - Pachelly Jamacaru






Pelas nádegas lunar


por seio alfa , seio beta


por todo seu corpo celestial


eu vou ...











Outros Mares - Pachelly e William Brito



E quando feliz ela mina


que nem fonte sopedânea


e faz-se riacho a descer


em rumos de oceanos


permita que ela navegue


e o teu melhor carregue


pra os mares de outros homens.



















A Mulher da Rua do Poeta - Pachelly e Geraldo Efe







Seu rosto é belo,


parece não ser desse mundo ,


mas você mora ali na esquina


e eu imagino que moro em você.


P.S Desculpem as gravuras ... Não tenho Banco de fotos. Elas não fazem jus ao Pachelly !



Hoje novamente - "O Melhor Show da Minha Vida"...

Hoje, Quarta-Feira, dia 28 Novamente !
Dihelson Mendonça Trio - no SESC Crato - 20 Horas.


Amigos, o show de ontem foi mesmo incrível. Eu diria que foi o melhor show da minha vida e se houvesse sido gravado em DVD, eu poderia morrer satisfeito! O desempenho e a musicalidade dos músicos convidados superaram todas as minhas espectativas. Infelizmente, ontem, haviam poucas pessoas na platéia, mas os que estiveram lá foram unânimes: "Um grande Show". A escassa platéia foi agravada pelo fato de que na hora do mesmo, chovia torrencialmente no Crato, e já sabe, ... choveu, o povo do Crato não sai de casa. A divulgação do SESC também é pífia, para não dizer inexistente, apenas com alguns poucos cartazes.

Mas hoje teremos novamente!
E quero ver todas as caras por lá. Não há desculpas!
Estamos divulgando para os que perderam a noite de ontem possam ir ver esse grande show e esses músicos fantásticos ( me referindo ao talento de Saul Brito, João Neto e Érico Auto ( convidado ) nos teclados.

Segundo Izaíra Silvino ( maestrina):

"Esse show foi tão maravilhoso que me sinto energizada até agora!"

Segundo Marcos Batera ( de São Paulo ):

"Nunca imaginei que aqui no cariri se pudesse um dia encontrar um show de tão alto nível quanto esse..."

O Show de Hoje será tão ou mais maravilhoso do que o de ontem.
E posso lhes dizer sem mentira nem falsa modéstia: Vocês não fazem idéia do espetáculo que estão perdendo. É VER para CRER !

Horário: 20Hs

Abraços,

Dihelson Mendonça
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terça-feira, 27 de maio de 2008

SOS RIO BATATEIRA!

Amanhã, a partir das 08 horas da manhã, no Cine-Teatro Municipal (ex-Cine Moderno), acontecerá a primeira audiência com o Ministério Publico para dar uma solução definitiva aos caminhos das águas da fonte "Batateira". Essa é a fonte que pode trazer de volta as águas ao Rio Batateira que passa nas terras do Sítio Fundão.

Assim, estaremos dando o primeiro passo para a solução definitiva de uma peleja que se arrasta ao longo de muitos anos. A perenização do Rio Batateira vai trazer de volta a vida (Flora e Fauna) ao Sítio Fundão - hoje transformado em Parque Ambiental com reserva protegida integralmente.
É importante a presença de ambientalistas e simpatizantes da causa! Devemos isso ao "velho" Jefferson!
(Ilustrei a postagem com fotos da fonte invadida por canos, do rio sem água e do Seu Jéfferson, sempre cuidadoso).

MENSAGEM AOS PRODUTORES CULTURAIS DO CARIRI

Grandes mãos que arrancam a mesmice dos nossos dias: levantem mais essa. Desconsiderem seus cronogramas, esqueçam seus passos burocráticos, cavouquem suas reservas de verbas, olhem seus salões vazios. Feito isso aqueçam a alma do Cariri com uma bela e selecionada sessão de fotos do Pachelly Jamacaru. Outra ocasião não há. Outro momento não deixem passar.

E tem outra coisa: o Pachelly, ele mesmo, um grupo de amigos, uma imensidão de artistas locais, poetas, escritores, compositores, atores, pintores poderiam participar de um performance que deixaria a alma do Cariri expandida na bacia sedimetar deste fabuloso Araripe. Imaginem o quanto o remanso jubiloso do final de ano poderia contar com tão expressivo fotógrafo. Primeiro ele e os nossos produtores verão quanto talento em busca de espaço existe entre todos.

Portanto aproveitem os meses em curso e até o final do ano escolham um grande programa cultural. FAÇAM UMA EXPOSIÇÃO FOTOGRAFADA COM AS FOTOS DO PACHELLY. Se tiverem uma oportunidade publiquem um livreto com a exposição, isso se torna perene em nossas casas e nas rodas de amigos. ADIANTE. UMA GRANDE VISÃO DO MUNDO ESTÁ ESCONDIDO EM ALGUM LUGAR

HOJE e AMANHÃ - Show Dihelson Mendonça Trio no SESC Crato

Hoje, Terça-feira e amanhã, Quarta-feira no SESC Crato.


Dihelson Mendonça Trio - Show "Quebrando Tudo" - Dias 27 e 28 de Maio.


O Dihelson Mendonça Trio surgiu como remanescente do quarteto formado em 1986 pelo pianista cratense Dihelson Mendonça, chamado Cariri Samba-Jazz Quarteto, tendo portanto, 22 anos de existência intermitente. Diversos músicos da região do cariri cearense já passaram por este grupo, que foi o primeiro grupo do cariri a se dedicar exclusivamente a tocar Jazz e Bossanova em shows de auditório, diferencialmente dos grupos de baile da época. Desde o início, o Cariri Samba-Jazz Quarteto procurou fazer um trabalho autoral, e causou sensação, sendo convidado para diversas apresentações em inúmeras cidades e estados vizinhos. Diversas matérias foram veiculadas sobre o grupo instrumental na mídia. No início, o CSJQ, era constituído por piano, contrabaixo, bateria e Saxofone. Hoje, com uma nova formação, em trio, tendo ao contrabaixo, João Neto e o baterista Saul Brito, a filosofia do grupo permanece a mesma: realizar um trabalho instrumental inovador, autoral, com composições do grupo, bem como tocar os grandes clássicos do Jazz, da bossanova, e a música brasileira de bom gosto com novos e ousados arranjos.

Formação:

Dihelson Mendonça ( Piano )

Músico instrumentista, considerado pela crítica especializada, como um dos maiores pianistas do Brasil, em diversas áreas, seja como músico de Jazz, pianista clássico, ou compositor, e tendo sido elogiado por grandes músicos do exterior. Já tocou e gravou com músicos renomados como Arismar do Espirito Santo ( multi-instrumentista ), Vinícius Dorin ( sax Hermeto Pascoal ), Toninho Horta, Ricardo Júnior ( tecladista ), Márcio Resende ( sax ), Cleivan paiva ( guitarra ), e participou de shows com Hermeto Pascoal além de dezenas de outros. Em incessante carreira musical, trabalha em inúmeros projetos simultâneos, que vão desde a manutenção de um website de apoio à música instrumental do Brasil, chamado "Portal do Jazz", ao diuturno trabalho de composição e arranjos. Após ter gravado com diversos artistas da música popular Brasileira, Dihelson Mendonça está gravando seu primeiro CD autoral, intitulado “A Busca da Perfeição”, um trabalho complexo e conceitual, que reúne músicos de diversas tendências, que variam desde o Jazz ao Rap, passando bela bossanova e a moderna música do Brasil, e que conta com a participação do mestre Hermeto Pascoal, dentre outros. Dihelson Mendonça possui uma extensa lista de mais de 100 composições instrumentais em diversos estilos, que abrange das formas eruditas aos trabalhos populares de vanguarda, tendo composto baiões, frevos, sambas, bossanova, valsas, mazurkas, além de estudos para piano, e até sonatas para piano e flauta e piano. Recentemente seu trabalho como compositor foi requisitado, ao compor a trilha sonora orquestral para um filme que ganhou diversas honrarias. Suas composições têm sido gravadas por muitos músicos, e suas parcerias, extensas, com músicos como o contrabaixista Luciano Franco, o tecladista Edson Filho, o guitarrista Cleivan Paiva, a cantora Fhátima Santos, a cantora Ana Canário, e o músico Haroldo Ribeiro, dentre inúmeros outros. Participou por 6 anos consecutivos do festival de Jazz & Blues de Guaramiranga, recebeu diversos troféus pela sua atuação no campo musical, e suas composições para piano solo tem recebido elogios e encomendas de partituras por músicos renomados do exterior para gravar seu trabalho. Dihelson Mendonça recebeu também vários convites para viagens ao exterior, mas tem recusado boa parte, por achar que o momento certo se dará após o lançamento do seu CD "A Busca da Perfeição".

Francisco Saul Brito Gouveia – Bateria.

Nasceu em Juazeiro do Norte, no dia 21 de março de 1986, músico autodidata, baterista, percussionista e violonista, arranjador e compositor. Revelou seu talento ainda muito cedo, ao tocar numa bateria de lata, por ele construída quando tinha 13 anos de idade. Aos catorze anos, conheceu o seu melhor amigo, e seu primeiro instrutor de música, Laerlling Borges (Karranca), que lhe mostrou os primeiros passos da técnica e rundimentos. Aos 15 anos, começou a tocar na noite caririense, ao lado de músicos como João Neto (baixista), parceiro até hoje. Tocando na noite, conheceu grandes músicos, tais quais: Ibbertson Nobre, Manoel D’Jardim, Cleivan Paiva, entre outros. Com 17 anos, tornou-se amigo de Dihelson Mendonça, sendo apresentado por João Neto ( contrabaixista ). Desde então, trabalhou com grandes nomes da nossa música popular, regional e nacional. Hoje, Saul Brito busca elaborar o seu primeiro disco, com canções de sua própria autoria. É considerado pelos músicos como uma das maiores revelações da bateria dos últimos 20 anos no nordeste.


João Ferreira Neto – Contrabaixo
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38 anos, nasceu em Senador Pompeu, Ceará. Seu primeiro instrumento foi um bandolim. Em seguida, cavaquinho, violão, trompete e clarinete. Porém, logo descobriu que sua paixão era o contrabaixo elétrico. Desde então, iniciou sua carreira musical, viajando pelo país e conhecendo músicos de toda parte. Tocou com grandes músicos do estado do Ceará, tais como: Dihelson Mendonça, Cleivan Paiva, Zé do Norte, Adelson Viana, Saul Brito, Di Stéffano, Luciano Brayner, trio Zero Grau, dentre outros. Compositor perfeccionista, João Neto é também um grande virtuose no seu instrumento.

O Show:

No show, com cerca de uma hora de duração, composições do próprio trio, sambas, bossanova, Jazz, grandes clássicos da MPB, além de diversos trabalhos experimentais.

Divulguem - Avisem aos Amigos!
Compareçam. Vai ser inesquecível !

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segunda-feira, 26 de maio de 2008

CASA ARTUR! CASA PARA TU TER SOSSEGO NA VIDA!

Esse não tem familiaridade com o Agapito. Nasceu, criou-se e virou rapaz velho pelo norte do Ceará. Em Sobral, que se antes falava inglês, agora mesmo é que virou internacional. Altamente internacional. Com o Dihelson nos altos níveis musicais, corroendo o edifício de cartas do forró eletrônico. Pois bem era o Artur. Como se dizia: rapaz velho. Fazendo rastro na estrada, cheirando os jardins das vizinhas, um chuvisco de olhos bambos e tempestades na cama. Qual outra vida poderia querer o Artur?

No cimo da serra da Meruóca, no verão o sol nascia num lado e se punha de banda para o norte e no inverno pendia para o sul de tanta chuva no lombo da terra. Então pipocava mato para tudo que é lado. Como Artur era observador dos detalhes, via um eito inteiro daquelas plantas que ele chamava berdoaga e o dicionário, muito do enxerido quer dizer que é beldroega. E tinha mais, canapu, melão de são caetano, tomate selvagem, pimenta de macaco, carrapicho, pega pinto e pega o Artur a rodar de uma casa para outra pelas manhãs ensolaradas.

Depois do almoço, um pires de doce de leite pra adoçar a boca, um café de avó, um cigarro lasca peito e o fundo da rede para render cinema de sonhos por algumas horas da tarde quando o sol a pino. O sol esfria e vai o Artur, cuidar de um garrote por , um pasto por aqui, uma cocheira para render no leite do amanhã. Toda a noite o Artur se encontra no arruado para troçar da vida levada a sério, um gole que passarinho não bebe, uma fantasia com a mulher de alguém. Viajou, foi para Fortaleza, leva quinze dias para voltar. Pronto o Artur era homem dadivoso. Sempre pronto para proteger as mulheres do próximo em plano de fuga dos sorrisos dela com as piadas visgueiras do solteirão.

Queria outra vida o Artur? Não queria. Mas o conselho de família entra feito bicho de . Quando Artur se deu por encontrado, estava toda aquela bateria: Casa Artur! Casa para tu ter sossego. Tu tá ficando velho. Tu precisa de uma proteção. Casa Artur! A vida vai ficar mais segura para tu. Casa para tu ter sossego! E o bicho de foi coçando, inflamando e agoniando a alma de Artur nunca dantes navegada naqueles mares bravios.

Não tem sujeito que suporte tamanha pressão. E Artur arrumou um namoro, tentou esticar no portão, mas logo o quiabo familiar levou Artur para a sala, da sala para intimidade, os papéis, a grinalda, o paletó e padre. Artur casou. Cabelos penteados, bigode aparado, roupa bem passada e até uma fragrância de algum extrato de flor. Artur não era mais um rapaz solteiro, os rastros da estrada reduziram-se, as noitadas com os amigos se escassearam e estava o Artur ouvindo novela no rádio.

Como era da sorte, a mulher de Artur pegou barriga. Pelo jeito um meninão sendo bem cevado na bem alimentada mulher. A parteira contratada, as presenças do prazer a dois chegando nos seus limites e o Artur meio de touro de manada. A qualquer hora seria demandado a buscar ajuda.

E foi. Uma noite de chuva como na Meruóca acontece. Chuva de afogar piaba. Chão brejado, folhas escorrendo como goteiras, cavalo arrepiado. A mulher feito locomotiva chegando na estação. A hora é chegada e quem sabe faz a hora. Artur arreia, na pressa que a necessidade exigia, o cavalo. Sobe e como um tanque de guerra sai a trote através do temporal impiedoso. Na primeira cancela, desce, passa o cavalo, fecha a cancela no corre e corre, tenta subir no cavalo como um cowboy treinado, ao salto desde o chão. Mas o arco de tamanha força o leva ao outro lado do animal, retornando ao chão sob a batuta da gravidade. Naqueles termos a melhor expressão do momento é timbungo na água rasa da estrada. E Artur se deu conta da força ontológico dos conselhos. Olha para a cancela encharcada e diz:

Casa Artur! Casa para tu ter sossego na vida!