TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

roteiro de filme para um diretor anônimo


Mauro medrado palhares alhures silva e silva sempre foi um sujeito bonachão. Ele costumava dizer que na sua cidade todos o adoravam. Ou por conta da sua inenarrável amabilidade, ou porque, se alguém tivesse a infeliz idéia de não adorar, ele baixava a porrada no mentecapto intrépido. Quando alguém o questionava, ele se retratava e dizia que aquilo era maneira de falar, e tal. O ponto de encontro da cidade onde morava mauro medrado palhares alhures silva e silva era a barbearia. Era lá, que quase todos os dias, os homens da cidade se reuniam para ouvir e contar histórias. Na cidade, todos sabiam que mauro medrado palhares alhures silva e silva só tinha ódio de uma coisa: que o chamassem de gordo. Aí ele subia nas paredes literalmente. Nada o segurava. E o combate era certo e seguro. Até então, treze infelizes tinham tido a audácia de chamá-lo assim. Eram as únicas treze cruzes do cemitério da cidade. Um belo dia, chegou à cidade um viajante. E, como antes de abrir sua mala e vender suas quinquilharias, precisava ficar apresentável, dirigiu-se a barbearia. Lá chegando, perguntou quantas pessoas estavam em sua frente. O barbeiro apontou com o queixo escanhoado para mauro medrado palhares alhures silva e silva. O viajante para confirmar, disse: - só o cavalheiro gordo? . o silêncio podia ser ouvido da barbearia as escadarias da igrejinha, onde o velho vigário sentiu seus poucos cabelos arrepiarem. O viajante, sentindo o ar fúnebre, perguntou: - eu disse algo de errado? Ofendi alguém? O Sr. Não gosta de ser chamado de gordo? Olhe, eu tenho por sinal umas pílulas que... Mauro palhares alhures silva e silva larga o jornal que estampava a sua cara sorridente e com urros proféticos avançou para cima do viajante. Mauro medrado palhares alhures silva e silva chama o viajante de hijo de puta. Corre com suas pequenas e balofas pernas para pegar o incauto, que se desvia, gira em torno a cadeira do barbeiro. Enfim o combate: murros, chutes, pontapés, a bolsa de apostas corre solta na porta da barbearia. Quem falta apostar? Só a porra do padre, que sempre atrasa. O viajante está com o rosto parecendo um pizza, sangue nos olhos, pensa: - vou morrer nas mãos desse elefante. No meio da luta vê um sinal estranho na nuca de mauro medrado palhares alhures silva e silva. Arranca-o a dentadas. Para espanto de todos, mauro medrado palhares alhures silva e silva começa a secar, murchar, como uma... como uma... bola de futebol! Mauro medrado palhares alhures silva e silva era uma bola. Sempre foi. Uma bola com complexo de superioridade. Mas era isso: uma bola, com doze gomos, por sinal, já bastante estragada. A população festejava. Fogos. Banda de música. Sexo ao ar livre. Então o prefeito, em uma ato que todos acharam louvável, entregou as chaves da cidade ao viajante. E pediu pra que ele aceitasse o cargo – ora vago – de xerife e caçador itinerante de bolas. O viajante aceitou de pronto. Mauro medrado palhares alhures silva e silva ainda participa da vida social da cidade: vez por outra os garotos passam na delegacia e pegam-no para bater um babinha no campo perto do cemitério. Quando o jogo é oficial, quem dá o primeiro chute é o xerife. Que por sinal, anda feliz da vida: a ex-mulher de mauro medrado palhares alhures silva e silva aceitou seu pedido de casamento. Ele também notou o pequeno sinal na sua nuca. Mas isso ele não conta pra ninguém.

2 comentários:

Marcos Vinícius Leonel disse...

Massa, The Lupas,
termino de ler com um sorriso
na cara deste tamanho.
Cara eu acho muito legal
o aproveitamento do estranhamento
na literatura, como também do cinismo, em que você é mestre.
Tem mais cineminha não?
Abraços
Irmão

Lupeu Lacerda disse...

perceber
é para poucos.
você é foda lobisomem.
um grande abraço.
breve, cineminha sim.