TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Narciso acha feio o que não é espelho?

Seria esta a grande questão( ou a resposta) quando polemizamos a respeito de música? O que é realmente a melhor expressão da arte musical: a erudita ou a popular? O jazz ou a MPB? A instrumental ou a vocal poética? A que toca no rádio ou a que está tocando no nosso MP3? A melhor música, muitas vezes, é apenas o silêncio.

4 comentários:

Carlos Rafael Dias disse...

Às vezes, prefiro o velho e bom rock'n'roll. Mas, noutras, acho melhor um sambinha de paulinho da viola, ou apenas uma das estações de Vivaldi; ou, vez por outra, umas bajanas ou mantras entoados pelo santo do século XX Srila Prabhupada (sim, aquele que trouxe o hare krishna para o ocidente)...

Dihelson Mendonça disse...

É preciso não confundir qualidade artística com gosto pessoal. Muita gente tende a fazer isso. Misturar os dois, só pode ser atribuído à insensatez ou mesmo à própria ignorância cultural ( não me refiro ao autor do questionamento ).

Uma coisa é a estética da arte e de seu valor intrínseco, outra coisa é o mero gosto pessoal.
A Arte verdadeira é uma das únicas manifestações humanas que tem o fim em si própria, busca a harmonização das coisas, busca o crescimento ordenado, é a mais alta expressão do esforço humano em se eternizar ( e o único ), e em entrar em sintonia com o cosmos.

A Arte é o grande esforço humano. A Arte é que move e o que comove. É o que une pessoas, por exemplo, aqui no CaririCult.

Arte nada tem a ver com gosto pessoal. Alguém pode até não gostar de Beethoven, mas nem por isso, Beethoven deixará de ser o gênio que foi, e suas obras não deixarão de ser verdadeiras maravilhas. Na arte, a construção possui uma estética, e é nessa estética que está o seu valor. Quanto a alguém ver ou não a beleza que jaz dentro da estética da arte, aí depende da cegueira de cada um.

O Sol, a cada dia nos dá um belo espetáculo, mas poucos são capazes de saber apreciar.
Para saber apreciar as artes, é preciso ter sensibilidade e muitas vezes, conhecimento.

Aos ouvidos de um leigo, uma obra de Schoenberg, pode parecer um monte de ruído. Um quadro de Salvador Dali pode parecer besteira e infantilidade aos olhos de um leigo. Mas, pela sensibilidade e conhecimento artístico é que sabemos diferenciar e saber que não são bobagem, e sim, obras-de-arte.

É o crescimento interior, a cultura geral e o conhecimento, que nos aproxima da estética da arte, fazendo com que, às vezes se chega ao que os verdadeiros profissionais da arte pensam:

-- Não gosto da música de Schoenberg, mas tenho que admitir que ele sabe usar muito bem as cores dos tons musicais com a maestria de um grande pintor.

Aí é onde o conhecimento e a sensibilidade para as artes já evoluíram tanto no indivíduo, que este sabe diferenciar muito bem o senso artístico do mero gosto pessoal.

Por outro lado, polemizar sobre música da maneira que muitos fazem, referindo-se a estilo A ou B como preferência, denota apenas questão pessoal de gosto, sem qualquer sentido artístico, e é a mais infrutífera discussão que pode existir dentro do âmbito musical.
Porque cada um pode gostar de qualquer coisa, sem remorsos. Uma música, mesmo fraca, pode ter um caráter pessoal, mas ao conhecedor, este saberá diferenciar.

Alguém também pode preferir eventualmente gostar de assistir o filme da XUXA CONTRA O BAIXO ASTRAL ( considerado um dos piores filmes de todos os tempos com mais de 10.000 votações negativas no iMDB ), e preferir isso a ver, por exemplo, AMARCORD de Fellini, ou os filmes de Woody Allen ou Ingmar Bergman. O não-conhecedor assiste isso mas sem saber porquê. O Conhecedor assiste, sabe o porquê, como e pra quê. É muito diferente!

O GOSTO MUSICAL DA MASSA:

Mas o que é o gosto musical quando levado às massas ( isentas do conhecimento artístico ?), senão o resultado de uma imposição insidiosa, ministrada por uma indústria que age no limiar da consciência?

Se você passou a vida comendo banana, vc nunca saberá se Sorvete de goiaba é bom, vc nunca saberá se a geléia de morango é boa.

Através da completa privação de oportunidades de conehcimento acerca da variedade de estilos e obras, a grande massa está submetida a um monopólio de um estilo musical empurrado por uma indústria, que não visa o crescimento da Arte, visa apenas o crescimento da conta bancária deles, dando ao povo um espetáculo de fácl assimilação, espécie de show de comédia pastelão, onde, nivelando por baixo, pretendem atingir a maior parcela da população, préviamente alienadas sobre Arte e sobre Cultura.

Portanto, uma coisa é tratar de Expressão Artística, outra coisa é falar sobre mero Gosto Musical de cada um. Aliás, gosto musical é como nariz, cada um tem o seu. Arte não tem nada a ver com isto!

A formação intelectual e cultural de cada um é que estabelecerá a fronteira entre as duas coisas.

Espero ter contrubuído para eliminar certas dúvidas quanto a essa questão tão interessante...


Um grande abraço.

Dihelson Mendonça

Glória disse...

Quando eu fazia yoga no Espaço Sagrado em Juazeiro, adorava os mantras que Erlânio colocava. Curto tb aquela música do Lulu Santos em que ele diz: não existira som, se não houvesse o silêncio...eu te amo calado, como quem ouve uma sinfônia, de silêncio e de luz, nós somos medo e desejo somos feitos de silêncio e sons...tem 'certas coisas' que não sei dizer !

Amanda Teixeira disse...

Necessariamente, pois, as diferenças entre os homens são ainda outra razão para que se aplique a suspensão de julgamento.

(Sextus Empiricus)