TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Aquele que virou anjo! (comentários postados)

José Normando Rodrigues, artista plástico, músico, produtor cultural e amigo.

A minha saudade:

“O cacto” venceu o primeiro Festival Regional da Canção com a inesquecível “Grito de Uma Geração”, de Hildeberto Aquino (um dos irmãos Jamacaru) e como prêmio ganhamos uma viagem pro Rio de Janeiro pela Viação Pernambucana e estadia no Colégio Santo Antonio que ficava no Catete. Viajamos eu, Geraldo (que viria a ser Ghandi, Urano, Efe, etc.), Chico Carlos (irmão de Zé Roberto França) e Hobert (Beto). Por motivos outros, nem o Abidoral nem Louro (Alberto) puderam viajar conosco... Foi no Rio de Janeiro que encontrei o Normando pela primeira vez e foi ele que nos levou até a Cinelândia e Lapa para sentirmos o gosto da boemia carioca. Desse primeiro contato ficou a atenção que nos dispensou naquela primeira estadia na Cidade Maravilhosa. Depois, só fui reencontra-lo quinze anos depois, trabalhando no mesmo banco que eu (o BB) no Centro de Processamento. Aí começou, realmente uma grande parceria. A gente ficava no banco “tramando” produções: Jornal Folha de Pequi, Movimento Confederação dos Cariris (uma rede caririense de grupos com afinidades artístico-culturais), Salões de Outubro, Bolart (sala que o Bola mantinha no centro do Crato para encontros dos artistas), e, pasmem, até decoração de carnaval de clubes, etc.

Quando resolveu sair da cidade foi uma grande surpresa pra todos nós. Foi morar em Brasília e só de vez em quando aparecia para passar poucos dias. A gente foi se distanciando... até que “virou anjo” de asas enormes e voou tanto que o perdemos de vista. Mora agora em cada um dos nossos corações.

Luiz Carlos Salatiel

PS: Uma pequena homenagem lhe prestei quando abri uma galeria de arte que recebeu o seu nome no NaveGarte e que mantive enquanto administrei aquele espaço.

A memória de Carlos Rafael:

A primeira vez que vi Normando, lembro bem, estávamos (uma rapaziada: eu, Geraldo Urano, Deca, Clélio Reis, Sérgio Guevara, Edelson Diniz, Romildo Alves... dentre os que me lembro) numa manhã quase monótona, no Parque Municipal. Chegou Normando, como que saído do nada, com força e personalidade, ocupando todos os espaços ainda vazios, e sem delonga, logo falando (ao observar que as os oitizeiros e eucaliptais do parque estavam pintados com uma barra branca de cal): "esse tipo de pintura é intervenção oficial, a marca do poder. Vamos mudar isto". E saiu, tão impassível e misterioso como chegou. No intervalo, até a sua volta, fiquei intrigado, ou melhor apaixonado por aquela figura esbelta, cabelos e bigodes longos, e jeito único de sorrir, mexendo com charme o canto da boca. Ao voltar, Normando (homem do norte, sim!), trouxe pincéis, trinchas e tintas xadrez em abundäncia, de todas as cores, com aquelas essenciais bisnagas para colorir o pó contido nas tradicionais caixinhas preto-e-branca, estampada por uma peça-cavalo. Era cerca de nove da manhã. Passamos, pois, todo o resto do dia colorindo as barras brancas das árvores (encobrindo a marca da oficialidade e deixando a marca livre da arte). Pintadas todas as árvores, passamos para as paredes dos boxes que outrora eram as jaulas do zoológico que um dia o Parque abrigou. E depois, as paredes externas da Quadra Bicentenário. No final, estávamos cansados e felizes. Normando tinha dado um norte naquele dia que pareceria um dia comum. Mas, não! Tinha chegado, de volta, o homem do norte...

Depois daquele primeiro encontro no Parque, Normando tornou-se um dos nossos gurus. Além dele, tínhamos Salatiel e Geraldo Urano.
(o coletivo do qual trato é referente a uma moçada etariamente mais nova, a exemplo de Lupeu e Calazans).
Ele morava na rua Cel. Secundo, a mesma do Parque. Dizia ter sido um dia filiado ao PC do B, mas agora (aleluia!) era anarquista, artista plástico, ainda casado, com um lindo casal de filhos (lembro do nome do garotinho: Gláuber. E lembro também do rostinho da menininha, com seus cachinhos loiros). Inovidável, também, é a sua esposa de então, Genilce, uma carioca muito charmosa.

A lembrança de Glória:

Me lembro dele encostado na parede da cozinha do meu apartamento, numa manhã de domingo (último dia de exposição) ouvindo um disco (vinil) dos Beatles. Tinha acabado de acordar e acho que estava de ressaca.Pensativo,calado,cabelinho oleosos, óculos em cima da mesa, cigarro entre os dedos. Tive um contato muito breve com Normando, mas o suficiente para perceber sua sapiência diante da vida e sua bondade como ser humano.

A paixão de Socorro Moreira:

Conheci Normando ,em campanha política estudantil. Naquele tempo, eles visitavam as salas de todos os Colégios, para exposição de idéias, e apresentação dos candidatos , que formariam a chapa.Sua figura se destacava, pelo jeito "cavernoso" , irônico e irreverente.Era um idealista! E, embora não estivesse disputando o cargo de Presidente da UEC, sobressaia-se, na sua postura de líder.Não sei por que cargas d'água ou, culpa do seu carisma, conquistou o nosso voto, fácil, fácil...Isso foi em meados dos anos 60.
* Pesquisem essa gestão!
Tenho a impressão que o cargo que ele ocupou foi de primeiro secretário.Mas não tenho certeza...Só sei que fui eleitora de Normando, naquele tempo, depois de muito tempo,agora e sempre!

Depois, ainda nos anos 60, reencontrei Normando, nas escadas do Colégio Estadual, namorando com uma garota chamada "Vera", nos intervalos das aulas. Olhava os dois , pelo canto dos olhos...Formavam um belo par! Ainda escuto a risada em uníssono, denunciando leveza e alegria!
Ele não era exatamente o meu tipo...(risos).Mas incomodava-me bastante, ao ponto de achá-lo, cá com meus botões, o rapaz mais charmoso dos meus tempos! Não tive chance.Existia Vera, existia Lúcia...E eu estava noutras órbitas...Nunca um olhar sequer, nós trocamos!
Era o fim dos anos 60.Todo mundo daquela geração se dispersou: pra casar, estudar fora...E o mundo girou!

15 anos depois, 1984, depois de muitas andanças, trabalhava no Banco do Brasil de Mauriti, quando ouvi sobre Normando! Uma pergunta geral, da moçada que frequentava o Parque Municipal.
-Você já conhece Normando, Socorro? Pô, precisa conhecê-lo!Ele trabalha no Cesec Juazeiro do Norte, e está ilustrando o jornal informativo do Cesec.O cara desenha bem pra caramba, além de ser, super boa gente!
E as notícias sobre a genialidade de Normando, corria nos ventos!
"Normanto separou-se da mulher"; "Normando parece "Pardal", vive inventando coisas"; "Normando vive testando e descobrindo novas técnicas de pintura";" Normando é politizado, anárquico, e de um profundo senso de liberdade, justiça, e humanismo"."Normando é o máximo!"

Uma noite, no Parque , avistei Normando brincando com duas crianças( um casal de filhos).Imediatamente associei sua imagem ao moço que eu conhecera um dia... Mantive distância , e fiquei a observá-lo.Nem se deu conta de mim.Estava absorto em cuidados, e inventava folguedos para distrair as suas crias.Fiquei encantada com a "performance" daquele pai.Putz,que cara!
Todas as vezes que voltei ao Parque, naquelas épocas ( 84 a 87),encontrava Normando com a galera de sempre: Rafael, Geraldo,Pachelly, Terto, etc,etc.
Como prima de Geraldo , eu me introjetei naquele mundo eucaliptizado...Mas nunca Normando me foi acessivo.Era monossilábico,nas respostas, quando eu o interpelava...Enfim,não alimentava papo, embora fosse elegante e gentil!
Mais uma vez, a despeito do tempo, pensava cá com meus botões:Meu Deus, que homem é esse? Confesso que, uma esfriadinha na barriga, eu sempre sentia, quando a gente se topava.Não conseguia interessá-lo...ele tinha o poder de me embobecer.Com um leve sorriso de zombaria, parecia adivinhar, o quanto me ameaçava!

Em 1986, o destino me pregou uma peça. Trabalhávamos em Agências diferentes, mas fomos convocados pra fazer o mesmo curso, em Recife.Ficamos no hotel, em que todos ficavam:Hotel São Domingos, pertinho da Av.Guararapes, aonde ficava o Centro de treinamento(DESED).
Primeiro dia, nos esbarramos, no café da manhã.O cara, nem "thum" pra mim! Um bom dia desligado...e ponto!
Final do dia, quase noitinha, vi que se distanciava com mais dois colegas...Apressei o passo, e emparelhei com o a turma.Iam todos para o Pátio de São Pedro, dançar ciranda, tomar caipirinha de pitanga! Literalmente, convidei-me...e fui!

Nos acomodamos, num dos botecos da área.Era uma mesa enorme com uns vinte colegas, e eu! Chegou um violão, no ombro de alguém.Foi convidado, e tirou as primeiras notas: "Notícia"( uma música antiga de Nelson Cavaquinho).O povo silenciou, conversou...Mas, só eu e o Normando, conhecíamos a canção, e todas as sequentes. Ficamos os dois a cantar, initerruptamente, até as altas da madrugada.Não perdíamos uma dica do "bom cantador".Repertório impecável,boêmio, poético...e aí,as afinidades explodiram, fatalmente!.Bebi todas, e não me embriaguei...nem me embobeci!Ele não era "Judas" pra negar-me! Tornamo-nos camaradas! Já voltamos pro hotel, amigos de infância!

Protegeu-me, como se protege uma irmã.Já no Hotel, cada qual pro seu canto! Sem um beijo...Apenas um sorriso de quem já não negaria ,uma bola de sorvete!
Obedecemos os horários de treinamento, e fizemos programas noturnos, diários:cinema, barzinhos, jogos, etc,etc. Estranhava o cara não me paquerar...Eu estava "gata", na plenitude dos meus 35 anos.
Acho que depois de quase duas semanas, resolveu contar sua história.Estava divorciado, mas comprometido com o seu amor de adolêscência.Depois de vinte anos, Ulisses voltara para Penélope.Que podia fazer, a não ser me ternurizar com aquela história?Transcendi, instantaneamente ,todo meu tesão!
E me coloquei, na linha de amiga,porque já era tarde pra não amar aquela figura..."Tarde demais para esquecer"!

Convivemos na sequência, amorosamente, por (6) meses...Um dia, fui embora pro Mato Grosso do Sul;noutro dia, ele zarpou para Brasília.
Mas antes dessas despedidas, permiti que herdasse a minha amizade pelo João Nicodemos.Grandes amigos ficaram.Amigos de emocionar, até Deus!
Não consigo falar dessa trilogia: Socorro, Normando e Nicodemos, sem chorar...sem me engasgar de saudades!
Por breves 11 anos, nos víamos, nas (4) festas do ano.Sempre, sempre,o amor do mesmo jeito.
Idependente das nossas realidades solitárias, fomos fiéis a tudo que no amor, se aumenta!
Respeitei a escolha amorosa de Normando, e ele conviveu com todas as minhas escolhas ( erradas ou não)!
O sentimento que nos uniu, nunca se quebrou;nunca discutimos, nunca nos aborrecemos, nunca nos entediamos, nunca nos desligamos...Até que a morte nos separou!
Tudo foi ficando mais forte, com o passar dos tempos... Mas perto vai ficando, de um amor eterno!

Namorei muitíssimo, enquanto viveu Normando.Depois de Normando, paralisei meu interesse nos homens...Estranho-me! Como não sei viver sem amar, experimentei, buscando nas semelhanças ,a melhor de todas as trocas humanas: o amor!
E este sentimento que ao contrário de ser contrativo é expansivo, entrego ao mundo,e alimento-me da luz, que consegue gerar!

O respeito de Zé Flávio:

Vi algumas vezes o Normando de relance. Não tive maior aproximação. Estava no Recife nos anos 70 e depois retornei na dura labuta de começar a vida de médico. É uma das figuras que só conheço por descrição dos amogos mais chegados: Salatiel, Rafael, Nikos, Socorro. O diabo é que acabou por queimar a centelha muito rápido: mas como brilhou ! Um continho chamado Ícaro que publiquei no blog foi uma história do Normando, me contada pelo nicodemos e que acabei psicografando.Esta provado que existem pessoas que têm um quê de eternidade.

A admiração de Jackson Bantim (Bola):

Normando foi um amigo e irmão, pensativo, correto diante das amizades. Sabia como ninguém visualizar o verdadeiro amigo. Fui presenteado por ele com a sua única modelagem em argila, da sua astúcia do novo campo das artes, expressando a imagem de um dos maiores poetas populares do Brasil, Antônio Gonçalves da Silva, o amigo Patativa do Assaré.
É, amigo Normando, tenho certeza que estás fazendo artes com os bons anjos do Céu.

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