TRIPULANTES DESTA MESMA NAVE

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Viagem a Mauridérnia (Back to the Home)

Geraldo Urano chegou dizendo que tinha um pessoal querendo falar com a gente, adiantando tratar-se de um seqüestro de menor e que nós éramos suspeitos. Estranhei, mas ele disse para não preocupar-me. Estava sentindo uma vibração positiva naquele inusitado encontro.
Na sala do hotel, esperavam-nos um jovem casal e um senhor de meia idade, recém-chegados de Petrolina. Apesar de apreensivos, foram bastante educados.
A mulher contou-nos que sua irmã tinha desaparecido há cerca de dois anos. Ou melhor, tinha fugido com outra garota. Um affair, na certa. Desde então, a família estava desesperada. Mandou imprimir panfletos com a foto da garota e o telefone de contato. Na noite anterior, recebera um telefonema de um caminhoneiro, de um posto de gasolina próximo a Mauriti, dizendo que a tal garota estava lá, ébria, na companhia de dois homens. O caminhoneiro deve ter sondado onde estávamos hospedados, mas não lembrávamos de nada.
Mostraram-nos o panfleto com a foto da garota. Realmente, parecia com Jackie. Dissemos que a garota que estava conosco não era aquela, apesar de parecida com ela. Eles não se deram por vencidos e pediram para ver Jackie. Atravessamos a rua e fomos até a casa da vó de Jackie. Eram cerca de dez horas. O sol estava alto e quente, muito quente. Jackie ainda estava dormindo. Pedimos para acordá-la. Passaram-se alguns minutos e Jackie apareceu, descabelada, cara de ressaca, de camisola, olhar furioso por terem lhe acordado, sem saber patavina do que acontecia.
O pessoal deve ter ficado desapontado, pois naquela situação Jackie não parecia em nada com a tal garota. Concordaram que tinha sido um equívoco. Pediu-nos desculpa pelo incômodo. Parecia desolado.
Geraldo, percebendo a situação, contra atacou. Foi pegar uns livros no Hotel, já se apresentando como poeta. Deu um livro para cada um, com dedicatórias propositivas e amáveis. E mais: apesar de já estarmos, de novo, sem dinheiro algum, convidou a todos para um almoço no restaurante do Posto Papai Noel, na BR 116, próximo dali. Providencialmente, o pessoal disse que aceitaria o convite desde que pagasse a conta.
Fomos os seis, espremidos no carro, com o pessoal já mais tranqüilo e conformado; descontraído até, e rindo com as tiradas filosóficas de Geraldo. Foi um lauto banquete, regado a cerveja. Geraldo, solto como nunca, declamando e cantando músicas cujas letras eram suas.
Perto de três da tarde, nos despedimos do pessoal como se fóssemos velhos amigos, com beijos e abraços.
Os três de Petrolina seguiram viagem e nós decidimos pegar a estrada também. Afinal, considerando a sucessão de eventos em tão pouco tempo, até parecia que estávamos há um longo tempo longe de casa.
E para não perder o clima on the road, e por estarmos de novo sem dinheiro, voltamos de carona. Cansados, bêbados e felizes.

3 comentários:

Anônimo disse...

cara, esta aventura é genial!!

Carlos Rafael Dias disse...

Thank you, brother. Falta agora só mais um capítulo, o desfecho desta viagem mágica.
Como é, já recebeu os CDs?

LUIZ CARLOS SALATIEL disse...

Não me lembrava dessa etapa da viagem!
Gostei do "cansado, bêbados e felizes"...
Um grande abraço Rafa.
PS: Já estou no Crato (deixei meu celular no Rio e está vindo pelo correio. Precisamos nos ver para "tramar" alguma coisa.